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O melhor é um ministro e igreja com visões de ministério ajustadas

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JAIR FERNANDES
ESPECIAL PARA O BATISTA BAIANO

Isaltino esteve em Feira de Santana no fim de março para pregar nas conferências do sétimo aniversário da Igreja Batista Nova Alvorada e também falou a pastores e líderes da região sobre liderança eclesiástica, tema desta entrevista, concedida após o culto da noite do domingo (29) e com trechos compilados, com autorização do autor, do texto base da palestra.

Em sua palestra, você apontou dois tipos de liderança a partir do quesito da autoridade. Quais seriam?

É preciso ressaltar que autoridade, aqui, não significa mando, mas reconhecimento e aceitação. O primeiro tipo é a liderança extrínseca, que vem pela força do cargo, quando uma pessoa é elevada a uma função, hierarquicamente, e as pessoas a acatam. É obedecida mas não necessariamente acatada ou reconhecida. Há gerentes que são gerentes por tempo de serviço ou relacionamento com alguém da cúpula, mas não são líderes. O trabalho é, via de regra, uma bagunça. Mantém-se por uso de disciplina, risco de demissão, etc. O segundo tipo é a liderança intrínseca.

Como funciona esse tipo de liderança intrínseca?

É aquela que a pessoa tem, independente do cargo. Tem por personalidade, por caráter, tempo na instituição. Não vem por nomeação ou indicação. No caso do pastor, por exemplo, inicialmente ele tem a liderança extrínseca, mas é com o tempo que ele assumirá a liderança intrínseca. Elas não são idênticas e não vêm juntas. A primeira é outorgada, a segunda é conquistada. O pastor a conquistará quando os liderados virem seu equilíbrio, sua visão, seu empenho, sua seriedade. O bom senso manda que o pastor trabalhe para tê-la. Muito obreiro não entende isto, e acha que por ter um curso e um título pode tudo, quer arrastar o povo atrás de si. Frustra-se.

Quais são as bases de uma liderança cristã intrínseca?

Primeiro, o líder precisa ser uma pessoa apaixonada por Jesus Cristo e seu Evangelho. Há líderes que mostram amor pelo prédio, pelo templo, pela instituição, pelo seu trabalho e por si, mas não por Jesus. O povo de Cristo seguirá um líder apaixonado por Cristo. Segundo, o líder cristão deve ser um homem apaixonado pela Bíblia. O pastor não pode ler a Bíblia profissionalmente, buscando mensagem. Deve lê-la com avidez, sabê-la, respeitá-la. Ao subir ao púlpito, o povo deve ver seu amor e seu zelo pela Escritura.

Por fim, o líder deve amar seus liderados. Eles não são coisas nem pretexto para que líderes sejam aplaudidos. A liderança amorosa, de alguém interessado, é sempre mais acatada que a liderança que vê a necessidade de progresso da empresa que o sustenta. Falo como pastor, agora: muitas vezes os crentes nos machucam, irritam, e fazem desejar deixar o ministério. Como se diz por aí, “faz parte”. É isto que nos amadurece e que fortalece o relacionamento.

Atualmente, você está em período sabático, de descanso e novos planos. Por quê?

Eu precisava curar algumas feridas que estavam sendo contornadas e não curadas. Descobri que estava pregando com o fígado. Estava amargurado com a atitude de líderes de quem eu esperava mais. Foram nove anos frenéticos. Lecionava na Faculdade Teológica Batista de São Paulo e na de Campinas. Trabalhava sete dias por semana. Eu não fui pastor de gabinete. Investi demais. Não adoeci fisicamente porque tenho um bom programa de saúde, mas em termos de cabeça, emoções, adoeci. Não cuidei. Fiz o que um líder não deve fazer. Fui negligente em relaxar. Tenho temperamento perfeccionista. Sou um workaholic (viciado em trabalho). Estava com um corpo saudável, espiritualmente saudável, mas machucado. É como um tripé. Fiquei manco.

Como conciliar um ministério com planos e metas excelentes com a vida real da igreja, suas dificuldades e limitações?

O líder pode atuar numa comunidade que não tem alvos. Uma alternativa é ele sair. O melhor é um ministro e igreja com visões de ministério ajustadas. Em uma determinada igreja, ouvi críticas por estar havendo conversões. Recebi o convite de uma igreja que disse que eu devia pregar na quarta à noite, domingo pela manhã e domingo à noite. Eles foram bastante francos. E é muito importante o ministro saber a hora de sair. Pastores erram. Igrejas erram. Eu saí na hora errada da PIB de Manaus. Presumi que podia ser útil na educação teológica. Sem esquecer que há fases na vida do obreiro. Temos um mito hoje de que um pastor é aquele que passa 30 a 40 anos em um lugar.

A liderança das igrejas não é composta apenas por pastores, mas também por líderes chamados leigos. Qual o papel deles?

Tenho muito receio de que hoje estejamos consagrando pastores para tudo na igreja em vez de usar os líderes leigos. Estamos clericalizando a igreja para termos líderes remunerados. Esse líder leigo treinado, firmado na fé, penetra com o evangelho onde está. Resolvi visitar membros da Igreja do Cambuí no trabalho e orar com eles. Um deles resolveu parar a fábrica e chamar 60 funcionários. Um deles veio chorando e dizendo que ninguém tinha orado por eles. Outro, diretor da Caixa Econômica levou-me para uma reunião da liderança. Temos um cristianismo cada vez mais “igrejocêntrico” e menos centrado no mundo secular. Devia ser o inverso. Devem ser cristãos no ambiente de trabalho. A tarefa do pastor é instruí-los nesse sentido.

Qual a importância do conhecimento na vida de um líder cristão?

Há necessidade de cultura, mas ela não deve ser menos bíblica. As escolas de preparação teológica têm falhado nesse sentido. São as correntes de pensamento do mundo que invadem a igreja. Há necessidade de uma cosmovisão bíblica, um olhar o mundo a partir da Bíblia. Vemos surgir uma interpretação afro da Bíblia, terceiro mundista, feminista. São enfoques equivocados. Deveria ser o inverso: o feminismo a partir da Bíblia, o movimento afro a partir da Bíblia.

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