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A ALIANÇA

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“Mas com você eu vou fazer uma aliança. Portanto, entre na barca e leve com você a sua mulher, os seus filhos e as suas nora” (Gênesis 6.18)

Isaltino Gomes Coelho Filho

É a primeira alusão a “aliança”, na Bíblia. Surge com Deus. Ele faz uma aliança com Noé. O hebraico é berith, “pacto, aliança, concerto”. O primeiro pacto de Deus, implícito, é com a raça humana (Gn 1.28). Este é o primeiro explícito.  É um ato de Deus, originado nele, dependendo dele, de sua vontade. O hebraico é berithy, “pacto de mim” (“meu pacto”). Não é algo negociado, que se discuta. Como observo em meu comentário sobre Gênesis: “O pacto não é bilateral, no sentido de Noé ter feito alguma coisa para justificar o pacto ou de poder ditar os termos, ou mesmo negociar algum ponto do qual não gostasse. É um ato gratuito de Deus que assume seu escolhido. Mas é unilateral em seu conteúdo. Ele não diz ´˜firmemos um pacto´ ou ´˜nosso pacto´, mas ´˜o meu pacto´” (p. 97).

Por mais estranho que soe, a aliança nasce do juízo. Deus se dispõe a julgar a raça por causa do seu pecado. Mas havia um homem justo: “Esta é a história de Noé. Ele foi pai de três filhos: Sem, Cam e Jafé. Noé era um homem direito e sempre obedecia a Deus. Entre os homens do seu tempo, Noé vivia em comunhão com Deus” (Gn 6.9). São três elementos principais que se mesclam nesta história: a depravação da raça, a santidade divina e o andar com Deus praticado por um homem. As grandes histórias de fé trazem estes ingredientes.

A santidade de Deus não é muito mencionada hoje. Fala-se muito de sua majestade, porque nos induz à adoração e ao louvor (os shibolets contemporâneos), mas a santidade, que impacta, que atemoriza, que quebranta, não é mencionada. Precisamos recobrar a pregação e o ensino sobre a santidade de Deus. Esta santidade não tolera o pecado, não o aceita de maneira nenhuma. Assim, precisamos recuperar também a pregação sobre o pecado. A depravação da raça humana é um princípio teológico inegociável.  Iludidos por conceitos sociológicos e psicológicos (que valem mais que os bíblicos, para muitos), julgamos que o problema da humanidade é apenas justiça social e mais educação. Estas coisas são boas, mas o problema fundamental da raça humana é o pecado. Alguns segmentos da igreja, para adular pecadores (até os da igreja), deixaram de falar de pecado.

Quando vemos a santidade de Deus e a depravação da raça, bate o desespero: “Ai de mim que estou perdido!”, bradou Isaías. “Miserável homem que sou”, gemeu Paulo. Sem reconhecer a santidade de Deus e o nosso pecado, levantamos as mãos (“Quero levantar as minhas mãos”, diz um corinho), mas não dobramos os joelhos. Só o reconhecimento da santidade de Deus e da nossa pecaminosidade nos faz dobrar os joelhos.

Quando bate o desespero, a graça socorre. Aqui entra o pacto. Deus vem ao homem, vê sua situação, estende seu favor e apresenta sua salvação. Noé é o homem que agrada a Deus. YHWH se agrada de quem quer, e tem misericórdia de quem quer (Rm 9.18), mas agradou-se de Noé. Noé andava com ele. Vivia em sua presença. Aqui entra a fé.

Santidade, pecaminosidade, juízo, fé, graça e salvação. Quanta riqueza! Quantas mensagens para a igreja anunciar ao mundo! Só ela tem condições de explicar e pregar isso. E ela existe, entre outros aspectos, para dizer isto ao mundo. Faz parte da aliança que Deus firmou com os homens, e ratificou, de várias maneiras, até reformatá-la definitivamente em Jesus. É triste que segmentos da igreja tenham perdido a noção da aliança! Como é pequeno o evangelho reducionista que fala só de bênçãos materiais, e esquece o pecado, a graça, o juízo, a salvação que é apontada de forma refulgente em Jesus! É deprimente a luta por poder, por títulos, por dinheiro, em nome de Deus! É a igreja mundana, completamente humanizada. Um trocadilho, em inglês: “A igreja não vive mais em função de God (Deus), mas de Gold (Ouro)”.  Mas ela é pregadora da aliança: o Deus santo se desgosta como  pecado, vai julgar e oferece sua graça em Jesus!

O conteúdo da aliança com Noé, com todos os seus ingredientes, faz parte da pregação de Jesus: “A vinda do Filho do Homem será como aquilo que aconteceu no tempo de Noé. Pois, antes do dilúvio, o povo comia e bebia, e os homens e as mulheres casavam, até o dia em que Noé entrou na barca. Porém não sabiam o que estava acontecendo, até que veio o dilúvio e levou todos. Assim também será a vinda do Filho do Homem” (Mt 24.37-39).

A igreja precisa falar da aliança. Principalmente na sua forma final: “Porque isto é o meu sangue, que é derramado em favor de muitos para o perdão dos pecados, o sangue que garante a aliança feita por Deus com o seu povo” (Mt 26.28). A forma final da aliança está na cruz, no sangue de Jesus.

Preguemos a santidade de Deus, o pecado do homem, o juízo divino, e a aliança que ele nos propõe em Jesus. Voltemos a falar do sangue de Jesus, base da aliança.

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