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O PROFETA EZEQUIEL

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Apostila preparada pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

1. TÍTULO – O título do livro deriva do nome do profeta, que é em hebraico Yehezqe’l, traduzido como Ezequiel, e que significa “Iahweh fortalece”.

2. AUTOR – Filho de Buzi, sacerdote da linha de Zadoque (1Rs 2.26, 27, 35; Ez 1.3; 40.46; 44.15) em 622 a.C., no auge da reforma do rei Josias em Jerusalém.  Ele começou seu ministério aos 30 anos (Ez 1.1) como qualquer sacerdote (Nm 4.3), no ano 592 a.C., o quinto ano do cativeiro do rei Joaquim (Ez 1.2,3).  Jeremias nasceu em 647 a.C., uns 25 anos antes, e começou seu ministério aos 20anos (Jr. 1.1-3)  Daniel tinha mais ou menos a mesma idade de Ezequiel.

Ezequiel tinha 17 anos quando da primeira invasão de Judá pelos babilônios em 605 a.C., ocasião em que Daniel e outros príncipes foram levados presos a Babilônia.  Oito anos mais tarde, em 597 a.C., Ezequiel, com 25 anos de idade, foi levado preso a Babilônia junto a 10.000 nobres (artífices, ferreiros) e os tesouros do templo e palácio real (2Rs 24.13-16).

Alguns dos deportados foram colocados em prisões, outros foram feitos escravos; mas à maioria foi permitido morar em suas próprias casas, em colônias judaicas (Jr 29.5-7; Ne 7.61).  Ezequiel recebeu esta liberdade, vivendo em Tel-Abibe, cerca de 80 km. a sudeste da Babilônia (240 km ao sul da moderna Bagdá), junto ao rio Quebar, um grande canal do rio Eufrates que corria em volta da cidade de Babilônia entre os rios Eufrates e Tigre (Ez 1.1; 3.15; Sl 137.1).  Talvez Daniel, governador da província de Babilônia sob  Nabucodonozor desde 603 a.C., arranjou este lugar fértil (Tel-Abibe significa “outeiro de grão”) como colônia dos seus conterrâneos.

A casa de Ezequiel tornou-se um centro de reuniões aonde os judeus vieram para consultar a Deus (Ez 8.1; 14.1; 20.1). Estas reuniões provavelmente foram precursoras das sinagogas que surgiram nesta época. Lá Ezequiel recebeu a carta escrita de Jerusalém em 594 a.C. por Jeremias aos exilados na Babilônia (Jr 29.1-32), profetizando a duração de 70 anos do cativeiro (Jr 25.12; 29.10).

Ezequiel era casado, mas sua esposa faleceu em 10 de janeiro de 588 a.C., o dia em que começou o cerco de Jerusalém, quando ele tinha 34 anos (Ez 24.1,15-18 – “tirarei de ti o desejo dos teus olhos”). Foi proibido de lamentar sua morte. Ezequiel profetizou por 22 anos até 570 a.C.,  última data registrada de suas profecias (Ez 29.17).

3. AUTORIA – A autoria de Ezequiel é geralmente aceita, apesar de nenhum outro livro bíblico mencioná-lo. Seu estilo é autobiográfico. Identifica-se em 1.3 e 24.24, e usa muitos pronomes como “eu, meu, mim” (2.1-10).  Sua ênfase sobre as coisas sacerdotais – ofertas, templo, altar, sacerdotes, etc. – e seu singular estilo de visões, parábolas, alegorias e ações simbólicas indicam a autoria de um sacerdote.

4. TEMA – O afastamento da glória de Deus e a destruição de Jerusalém; o retorno da glória de Deus e a restauração de Jerusalém.  Há uma ênfase especial na responsabilidade individual (Ez 3.17-19; 18.1-4; 22.30,31; 36.26,27; veja Dt 24.16).

Na sua profecia, Ezequiel não mencionou nenhum destes reis judaicos, nem mesmo o rei Zedequias, mas ele pronunciou julgamento sobre muitas nações pagãs (cap. 25 a 32). Neste sentido, pode-se dizer que o livro tem dois objetivos:

(1) Promover arrependimento e fé com o anúncio do julgamento iminente sobre Jerusalém e as nações, mensagem pregada nos seis primeiros anos entre 592 e 586 a.C.  Ezequiel enfatizou que Jerusalém seria destruída, Babilônia não cairia rapidamente, e o Egito era uma falsa esperança de auxílio (cap. 1-32)

(2) Estimular esperança e confiança que, após 70 anos, o povo voltaria a Jerusalém que seria restaurada e ao templo que seria reconstruído (cap. 33-48).

5. ESBOÇO DO LIVRO

I. O afastamento da glória e a destruição de Jerusalém ….     1 – 32

1. A Missão de Ezequiel ……………………………    1 – 3

2. A Destruição de Jerusalém …………………….            4 – 24

3. As Profecias contra as Nações Vizinhas …..            25 – 32

II. O retorno  da glória e restauração de Jerusalém ………..       33 – 48

1. A Restauração Prometida ……………………… 33 – 39

2. Os Tempos Messiânicos ………………………..            40 – 48

6. DATA DA REDAÇÃO – Ezequiel escreveu ao longo dos seus 22 anos de profecia.  Ele especifica bem  as datas das suas profecias desde que foi levado cativo em 597 a.C.:

(1)  Ez 1.1,2 .   5/7/592 a.C. – 5º ano   – Sua  primeira visão

(2)  Ez 8.1 ….   5/9/591 a.C. – 6º ano   – Seu traslado a Jerusalém, em visão

(3)  Ez 20.1 …  10/8/590 a.C. – 7º ano  – Instrução dada aos anciãos

(4)  Ez 24.1 ..   10/1/588 a.C. – 9º ano  – Início do cerco de Jerusalém

(5)  Ez 26.1 …  1/4/586 a.C. – 11º ano – Profecia da devastação de Tiro

(6)  Ez 29.1 …  12/1/587 a.C.-10º ano – Primeira profecia contra Faraó

(7)  Ez 29.17 .  1/4/570 a.C. – 27º ano – Sexta profecia contra Faraó

(8) Ez 30.20 .   7/4/586 a.C. – 11º ano – Segunda profecia contra Faraó

(9) Ez 31.1 …   1/6/586 a.C. – 11º ano – Terceira profecia contra Faraó

(10) Ez 32.1 … 1/3/585 a.C. – 12º ano – Quarta profecia contra Faraó

(11) Ez 32.17 ..            15/4/585 a.C. 12º ano – Quinta profecia contra Faraó

(12) Ez 33.21   5/1/585 a.C. – 12º ano – Chega, após 5 meses, a notícia da queda de Jerusalém

(13) Ez 40.1 … 10/4/572 a.C. – 25º ano – Recebida a visão do novo templo.

7. AS VISÕES DE EZEQUIEL – Em ocasiões especiais, homens de Deus, como os profetas, tiveram visões.  Em Ezequiel há nove:

(1)    A visão dos querubins de Deus – 1.4-28 e 10.20

(2)    A visão do rolo de lamentações – 2.9-3.3

(3)    A visão do vale – 3.22-23

(4)    A visão de Jerusalém e de suas abominações – 8.10,16

(5)    A visão de Jerusalém e a matança – 9.1-11

(6)    A segunda visão dos querubins – 10.1-22

(7)    A visão da saída de Iahweh do templo – 11.1-25

(8)    A visão dos ossos secos – 37.1-10

(9)    A visão do novo templo – 40.1 a 48.35

8. CENÁRIO RELIGIOSO – A mudança do local não mudou o coração dos judeus levados cativos em 605 a.C., 597 a.C., e 586 a.C. Ezequiel usou a frase “casa rebelde” por  16 vezes no seu livro (2.5; 3.9,26,27; 12.2,3, etc., compare com 2Cr 36.15,16). Como sacerdote, ele  avaliou os acontecimentos políticos do ponto de vista sacerdotal.

9. AFASTAMENTO E VOLTA DA GLÓRIA – A glória do Senhor (shekinah, em hebraico), uma nuvem visível da presença do Deus invisível, que residia sobre o propiciatório entre os dois querubins (Úx 13.21,22; 14.19,20; 19.16; 40.34-38; Lv 16.2; Nm  9.15; 1Rs 8.9-11; Is 6.1-4; Ap 15.8), foi vista em visão por Ezequiel retirando-se do templo (Ez 8.3,4; 10.4,18-22; 11.22,23). Ezequiel viu a sua volta (Ez 43.1-7) sobre o novo templo que, figura o tempo da Igreja de Cristo. Ela esteve ausente dos templos de Zorobabel e Herodes.  E volta no tempo da Igreja. É oportuno  recordar que shekinah vem de shâkham que significa “habitar” (Úx 25.8, 29.45,46; 40.34-38).  Em Jesus, Deus veio habitar entre os homens: João 1.14.

10. AUDIOVISUAIS – Ezequiel foi o profeta que mais se valeu deste recurso. Seu livro está cheio de provérbios, alegorias, pequenas descrições, visões, mas, sobretudo, de ações simbólicas. Eis alguns dos recursos por ele empregados para ensinar a mensagem ao povo:

(1)     Um tijolo (4.1-3) simbolizando o cerco e a queda de Jerusalém

(2)     Ele se deitando do lado esquerdo e do lado direito (4.4-8) simbolizando o cerco de Jerusalém e o castigo divino.

(3)     Bolos e água racionada como sua comida (4.9-17) simbolizando a fome no cativeiro.

(4)     Ele tirando a barba e raspando a cabeça (5.1-17) simbolizando a destruição do povo pela espada.

(5)     Ele se mudando de casa (12.1-7) simbolizando a ida do povo para o cativeiro

(6)     Ele comendo e bebendo com tremor (12.17-20) simbolizando a ansiedade e o desespero do povo no dia da desolação

(7)     A espada afiada e polida (21.1-17) simbolizando o juízo iminente de Iahweh sobre Jerusalém

(8)     A espada de Nabucodonosor (21.18-23) simbolizando a vitória de Babilônia

(9)     A fornalha (22.17-31) simbolizando o julgamento de Jerusalém por causa da corrupção dos sacerdotes.

(10)  A morte da esposa (24.15-27) simbolizando a queda de Jerusalém.

(11)  Dois pedaços de pau (37.15-23) simbolizando a reunificação de Israel e Judá

Além disso, ele nos brinda com muitas alegorias, que são simbolismo para ensinar uma verdade espiritual. Eis algumas delas:

(1)   O sarmento inútil da videira, símbolo da destruição de Jerusalém (15.1-8)

(2)   A esposa infiel, símbolo da infidelidade de Jerusalém (16.1-63)

(3)   As duas águias e a videira, símbolos da Babilônia e destruição de Jerusalém (17.1-21)

(4)   O broto do cedro, símbolo da elevação e queda das nações por Iahweh (17.22-24)

(5)   A leoa e seus filhotes, símbolo dos reis de Judá, que serão presos (19.2-9)

(6)   A mãe como videira plantada, símbolo da destruição da realeza de Judá (19.10-14)

(7)   O fogo no bosque, símbolo da destruição de Judá (20.46-49)

(8)   As duas irmãs prostitutas, símbolo de Samária e Jerusalém (23.1-49)

(9)   A caldeira enferrujada, símbolo da imundícia de Jerusalém (24.1-14).

11. EZEQUIEL E APOCALIPSE – O apóstolo João emprestou de Ezequiel muitos ensinamentos, expressões e figuras ao escrever o Apocalipse.  Ambos são literatura apocalíptica.   Veja as expressões emprestadas por João:

(1) Ez 1.1 e Ap 19.11 ……..        céus abertos

(2) Ez 1.5 e Ap 4.6 …………        quatro seres viventes

(3) Ez 1.10 e Ap 4.7 ……….        quatro seres viventes

(4)Ez 1.22 e Ap 4.6 ……….         aparência de cristal

(5) Ez 1.24 e Ap 1.15 ……..        som de muitas águas

(6) Ez 1.28 e Ap 4.3 ……….        arco-íris

(7) Ez 2.9 e Ap 5.1 …………        um rolo de livro

(8) Ez 3.1,3 e Ap 10.10 …..        comer; doce como mel

(9) Ez 7.2 e Ap 7.1 …………        quatro cantos da terra

(10) Ez 9.4 e Ap 7.3 ……….        marca na testa

(11) Ez 10.2 e Ap 8.5 ……..        brasas espalhadas

(12) Ez 14.21 e Ap 6.2-8 …       quatro juízos

(13) Ez 26.13 e Ap 18.22 …       cessar de música

(14) Ez 27.28-30 e Ap 18.17-19 ….       desespero

(15) Ez 37.10 e Ap 11.11 …       fôlego da vida

(16) Ez 37.27 e Ap 21.3 …..       Deus no meio do povo

(17) Ez 38.2,3 e Ap 20.8 ….       Gogue e Magogue

(18) Ez 40.2 e Ap 21.10 …..       alto monte; a cidade

(19) Ez 40.3 e Ap 11.1 ……        vara de medir

(20) Ez 43.2 e Ap 1.15 ……        voz de muitas águas

(21) Ez 47.1,12 e Ap 22.1,2       rio, árvore

(22) Ez 48.31 e Ap 21.12 …       as portas da cidade

12. EXPRESSÕES CHAVES – Há cinco expressões chaves no livro:

(1). “E saberão que eu sou o Senhor” – 70 vezes; (5.13; 6.7,13; 7.4,9)

(1)   “Filho do Homem” – 93 vezes (90 vezes nos evangelhos); termo predileto de Jesus (Lc 19.10)

(2)    “A palavra do Senhor veio a mim” – 49 vezes

(3)     “Senhor Deus” – mais de 200 vezes

(4)    “A mão do Senhor estava sobre mim” – 7 vezes (1.3; 3.14,22; 8.1; 33.22; 37.1; 40.1).

13. VERSÍCULOS CHAVES – Ezequiel 3.17-19; 11.19,20; 18.4,20-23; 22.30,31; 33.11,31; 34.2,4; 36.21-24, 26,27.

14. “FILHO DO HOMEM” – Título usado na Bíblia por 93 vezes a respeito de Ezequiel, uma vez só a respeito de Daniel (Dn 8.17), uma vez é aplicado a um ser misterioso num contexto messiânico (Dn 7.13) e 80 vezes referindo-se a Jesus.  Ele enfatiza a unidade, a identificação do profeta com seu povo, especialmente ao pronunciar julgamento contra seu povo.  Assim Jesus usou o termo a si mesmo em Jo 5.27.

15. O TEMPLO DE EZEQUIEL (40 a 48) – A visão de Ezequiel do futuro templo está cheia de dificuldades, pois suas dimensões, os móveis, e o ritual do culto sacrificial (Nm 28.11 e Ez 46.6) são diferentes daqueles dados a Moisés (Úx 25-27) e Salomão (1Rs 6.2,3) e estipulados no código sacerdotal.  Por isso, algumas autoridades judaicas, especialmente as que pertenciam à rigorosa escola de Shamai, levantavam dúvidas sobre a canonicidade de Ezequiel. Na realidade este é o maior problema do livro.

O templo apresenta pouca semelhança com os templos reconstruídos por Zorobabel e Herodes. Há geralmente duas maneiras de interpretar o templo de Ezequiel. Uma, dos pré-milenistas, ensina que o templo será construído nas época de um hipotético milênio literal na terra. Parece que isto aumenta o problema. Para que um templo para oferecer sacrifícios, se o de Cristo foi suficiente? Isto seria negar toda a obra de Cristo e invalidar o livro de Hebreus. O judaísmo acabou, seu tempo passou. Uma outra maneira de interpretar é figuradamente. Neste sentido, o templo é uma descrição simbólica, uma alegoria da Igreja, no Novo Testamento, a Jerusalém espiritual.  Esta tem sido uma interpretação popular com aqueles que acham que a Igreja é a sucessora atualmente de Israel (Rm 2.28,29; Gl 3.7-9,28,29; 6.16).  Estes reivindicam que Ezequiel é literatura apocalíptica que através de símbolos, números, etc. revela:

(1) A perfeição do plano de Deus para a Igreja, expressa simbolicamente pela simetria imaculada do edifício do templo.

(2) A centralidade da adoração na época da Igreja expressa simbolicamente pelos detalhes dos sacrifícios do templo.

(3) A presença de Deus na vida do crente (Mt 28.20; Jo 14.17) expressa pela glória do Senhor no templo – Ez 43.1-5.

16. A DOUTRINA DA INDIVIDUALIDADE – Em Ezequiel, a doutrina da individualidade, forte conceito teológico do Novo Testamento, já é anunciada e delineada. O texto de 18.2-4 é bem expressivo. Veja também 18.18-20. Lembre-se que no Antigo Testamento Acã peca e todo o Israel paga pelo  seu pecado. E sua família foi punida com ele. No Novo Testamento, Ananias e Safira pecam, a Igreja é poupada e os dois morrem. Ninguém é punido por ninguém e a comunidade não paga pelos pecados dos indivíduos. Pode haver consequências sociais do pecado, mas punição direta, não. Não existe uma maldição hereditária após o advento do cristianismo.

17. O NOVO DAVI – A idéia está em 37.24-26. Davi é um título ou um eufemismo para o Messias. Há dois títulos messiânicos no v. 25: “servo” e “príncipe”. O santuário no meio deles não deve ser entendido como a reconstrução num hipotético milênio. Isto invalidaria Hebreus 8 a 10. A linguagem é simbólica. Com Jesus, o tabernáculo de Deus está no meio dos homens. Lembre-se de João 1.14: “O Verbo se fez carne e tabernaculou entre nós”.

BIBLIOGRAFIA PARA ESTE ASSUNTO

  1. Asurmendi, Jesus. O profeta Ezequiel. S. Paulo: Paulinas, 1985
  2. Monari, Luciano. Ezequiel, um sacerdote profeta. S. Paulo: Paulinas, 1992
  3. Taylor, John. Ezequiel – introdução e comentário. S. Paulo: Vida Nova,  1984
  4. Mesquita, Antonio Estudo no livro de Ezequiel. Rio: JUERP, 3ª ed., 1987
  5. Andrade, José Sélio. Os profetas maiores (II). Rio: JUERP, 2004.
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