Caminhando por Emaús

Vamos ao evangelho de Lucas num dos textos mais bonitos e mais comoventes de toda a Bíblia, Lucas 24:13-35, uma das aparições do ressuscitado cuja vitória sobre a morte celebramos no dia de hoje.

Caminhando por Emaús, texto fantástico, um relato impressionante, só Lucas o tem, o estilo é todo de Lucas, rico, erudito, com palavras nobres na língua grega, uma construção muito bem elaborada. Dois caminhantes, um se chama Cleópas, em outro lugar chamado de Clopas. Hoje pela manhã vimos que a sua esposa era uma das mulheres ao pé da cruz. Clopas ou Cleópas é o diminutivo de Cleópatro, provavelmente não era então um judeu mas alguém convertido ao judaísmo e convertido ao ensino de Cristo.

São dois caminhantes, eles vão de Jerusalém para Emaús, uma distância de 60 estádios, 12 quilômetros. Vão caminhando, deprimidos, arrasados, mas nesta caminhada o ressuscitado se chega e caminha com eles. Eles tem uma expressão que é uma das orações mais bonitas da Bíblia, inclusive se o quarteto quiser um dia cantar o hino construído nela fará um grande bem para a igreja, "breve a noite desce, noite de Emaús e meu ser carece de te ver Jesús, companheiro amigo, ao meu lado vem, fica tu comigo, infinito bem", hinos, poesias, crônicas, artigos, livros ao redor desta expressão: é tarde, o dia já declina, fica tu conosco.

Mas eu não vou me centrar nesta expressão e sim na caminhada, a caminhada dos dois discípulos, Cleópatro e um anônimo, pela estrada de Emaús. Vou fazer quatro perguntas ao texto e para cada pergunta vou dar três respostas curtas e vamos ver os efeitos de uma caminhada por Emaús.

Primeira pergunta: o que significa Emaús? O sentido do nome é ignorado, o lugar também. Até hoje os arqueólogos não atinaram com a descoberta ou com um resíduo desta cidade tão próxima de Jerusalém, 12 km. Mas poeticamente podemos dar três respostas. Primeiro: Emaús é um lugar de perplexidade. Leiam os versículos 19 a 21, eles estavam perplexos, tinham colocado toda a sua confiança nele e nada dera certo. Agora não sabiam porque as coisas de sucederam assim mas a expressão porque já este o terceiro dia é carregada de sentido. Na teolgoia judaica três dias era o tempo que a alma de um morto levava para ir do seu corpo até o sheol, o mundo dos mortos. Se ainda fosse o primeiro ou o segundo dia ainda haveria esperança mas já era o terceiro e então a sua alma já tinha chegado ao mundo dos mortos. Eles estavam perplexos. Nós esperávamos e já era o terceiro dia.

Muitas vezes nós caminhamos por Emaús, ignoramos porque as coisas estão assim como estão. A única coisa que nós sabemos é que a vida não está sendo benigna conosco, que as nossas expectativas não estão sendo supridas, que aquilo que nós tínhamos como alvo , nosso ideal, não está sendo cumprido, então à semelhança deste dois nós vamos caminhando perplexos, desorientados. Não sabemos porque as coisas estão assim. Emaús é um lugar de perplexidade.

Emaús é também lugar de tristeza, segunda resposta. O versículo 17 traz a pergunta de Jesus: que é isto que vos preocupa e de que estais tratando à medida que caminhais? E eles pararam entristecidos. A expressão que a minha versão traz como entristecidos, o texto grego traz literalmente, com os olhos tristes, olhos embaçados, olhos de quem chorou, olhos de quem experimenta a depressão. Emaús é o lugar de depressão, é um lugar de tristeza, às vezes quando caminhamos por Emaús também estamos tristes, profundamente deprimidos, porque nós achamos que a vida não está sendo justa conosco, nos sentimos arrasados, o olhar é choroso, as palavras não são boas, elas expressam uma profunda dor e amargura que brotam lá do fundo do coração, nós estamos tristes. É uma enfermidade, é um desentendimento com uma pessoa amada, é saber que um parente está em dificuldades, então nós estamos jogados na estrada de Emaús, então nos sentimos tristes.

Em terceiro lugar Emaús é lugar de desapontamento. No versículo 21 eles fazem esta declaração: nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel. A nossa nação está doninada pelos romanos, nós vimos que ele era um líder que galvanizava as atenções, que atraía a massa, ele ressuscitava mortos e reproduzia comida. Os dois maiores adversários de um exército são morte e suprimento. Já pensou? Teríamos um exército que não morreria e que não precisaria estar trazendo comida. Era o líder ideal mas ele morreu e já era o terceiro dia, a alma dele já chegou no sheol então nós estamos profundamente desapontados.

O que significa Emaús? Desapontamento. Parece que Deus falhou, Deus não fez o que esperávamos, nós gostaríamos que as coisas saíssem de uma maneira mas Deus não foi bondoso conosco, ele poderia ter feito as coisas acontecerem de um outro modo mas ele falhou, então Emaús é o caminho do sofrimento, da frustração, do desalento. Quem é que nunca andou por Emaús? Você já andou por Emaús? Já andou com olhar triste? Arrasado? Deprimido? Com dor no coração? As coisas não estavam saindo como você queria? E até no fundo um sentimento de mágoa e de revolta, por que é que Deus faz isso? Isto é Emaús, frustração e desapontamento e infelizmente Emaús é um lugar onde todos nós já pusemos os pés. Talvez os seus pés estejam lá.

Bem, a primeira pergunta nos dá uma respota um pouco deprimente. Vamos ver a segunda e vamos dar também três respostas. Não se chega de repente a Emaús. Não há uma placa indicando Emaús e de repente vamos para lá. Como é que chegamos lá? Como é que esses dois chegaram lá? Primeiro: chega-se à estrada de Emaús por se ter uma visão errada de Cristo. Versículo 19, perguntou, quais? Explicaram, o que aconteceu a Jesus o Nazareno que era varão profeta. Varão profeta? Ele não era um varão profeta. Ele gastou três anos ensinando a eles que não era varão profeta, que ele era o filho de Deus, que era o Deus feito homem, mas eles tinham uma visão errada. O que é que nos faz caminhar por Emaús? É esta visão errada de Cristo, um quebrador de galhos, é um patuá, é uma senha. Um dia eu vi um adesivo num veículo: Jesus, este nome tem poder. É um abracadabra que abre as portas das dificuldades, um patuá verbal que nós podemos usar, um amuleto verbal que vai afastar as contrariedades da vida, nome mágico e nós não o vemos como é, o Salvador, o Senhor, o Deus encarnado, como o Cristo ressuscitado, aquele que triunfou sobre a morte. Uma visão errada de Cristo é o primeiro impulso que nos joga na estrada de Emaús.

Segunda resposta: não é só a visão errada da pessoa de Cristo mas também uma visão errada da obra de Cristo e voltamos ao versículo 21, nós esperávamos que fosse ele que haveria de redimir a Israel, nós precisávamos de um libertador político e ele não fez isto, não é também a visão que muitos tem hoje, um libertador político, um guerrilheiro, um líder do MST daquela época, apologista da teologia da libertação, um papai noel com um saco de presentes na costa distribuindo brindes para os meninos comportados que vem a igreja, quedão oferta. Possessão de alguma denominação religiosa que tem o seu copyright, que é dono dele e ali há um homem experto que aprende a manipular os cordéis e pode usá-lo a nosso favor. Não é assim que muito gente vê a pessoa de Jesus Cristo? Tem uma visão errada da sua obra, não o compreendem como aquele que morreu na cruz para nos salvar, para nos religar com Deus, para nos conseguir o perdão. Para outros é o que se vê em programas em televisão, saúde constante, felicidade plena, creia em Jesus Cristo e você nunca mais vai ficar doente, creia em Jesus Cristo e o seu marido que é um grosseirão vai virar um homem gentil que vai lhe trazer flores todos os dias. Crê em Jesus Cristo e a sua mulher vai se tornar a melhor cozinheira do mundo, seus filhos passarão no vestibular em primeiro lugar, você vai ganhar na sena acumulada, quantas bençãos! Você vai ser rico. Ele se torna uma espécie de caixa eletrônico no qual podemos sacar indefinidamente. Visão errada da obra de Cristo e aí não é de se estranhar que terminemos em Emaús.

Não criam na ressureição. É já este o terceiro dia desde que estas coisas se sucederam. Nós estamos em crise e terminamos em Emaús quando temos uma visão errada da pessoa de Cristo, uma visão errada da obra de Cristo e quando temos dúvidas do seu poder. É já o terceiro dia que ele está morto, a morte acabou com ele, todas essas coisas somadas nos jogam dentro da estrada de Emaús.

Não melhorou muito e então vamos a terceira perguntando, o que nos acontece quando caminhamos por Emaús? Três respostas. Desalento. Era a atitude dos dois. Lá vão os dois derreados. O texto diz que eles estavam entristecidos. Esta é a nossa primeira seleção quando andamos por Emaús, desapontados. Só isto, isto já foi dito. Não, agora está na hora de virar. Acontece uma coisa boa quando estamos em Emaús. O que? Diz o versículo 15. Aconteceu que enquanto conversavam e discutiam o próprio Jesus se aproximou e ia com eles. Esta é a primeira coisa que acontece quando estamos em Emaús. Triteza, solidão, sensação de abandono, profunda frustração e ele chega. E esta é a beleza da pessoa de Jesus Cristo. Quem já andou por Emaús e saiu de lá descobriu que nós não sabemos vê-lo, não pudemos reconhecê-lo, não sabemos chamá-lo, mas ele vem para Emaús. A estrada dele é a nossa estrada, a nossa jornada é a jornada dele e o texto diz: e ia com eles. Não apenas cumprimenta, ele é o caminhante conosco na estrada de Emaús porque houve uma Emaús na sua vida. O profeta Isaías o chama de homem de dores, experimentado em sofrimentos e que sabe o que é padecer. Ele anda por Emaús com os que lá estão perdidos e desorientados, ele é caminhante conosco, nunca está longe. Primeiro o desalento; segundo, ele se chega; terceiro, ele caminha conosco. Nós aprendemos uma lição muito positiva. Se os nossos erros e as nossas visões equivocadas nos jogam em Emaús, nossas limitações nos jogam em Emaús, sua graça, seu amor e sua misericórdia o trazem para caminhar conosco por Emaús.

Melhorou um pouco mas vamos à quarta e à última pergunta. Porque esta pergunta é a que mais interessa: como sair de Emaús? O versículo 33 diz que depois que chegaram a Emaús, na mesma hora, levantando-se, voltaram para Jerusalém. Fizeram uma caminhada de 12 km, uma pessoa em passo normal, de quem está conversando, cobre esta distância em três horas. Andar três horas a pé numa estrada poeirenta e cheia de pedregulhos, com sandalha, não é muito animador, fizeram os 12 km e na mesma hora, levantando-se, voltaram para Jerusalém. Aprendemos uma lição aqui. Emaús não é um lugar para nós permanecermos, podemos passar por lá mas não é o nosso lugar. Algumas pessoas parecem que por algum motivo gostam muito de Emaús, gostam de chorar misérias.A Bíblia fala de Raquel, Raquel chorando os seus filhos e não querendo ser consolada. Então, para quem é masoquista e não gosta de ser consolado é um bom lugar. Mas, presumindo que somos pessoas com consciência normal das coisas, Emaús não é o nosso lugar.

Como é que esta caminhada foi mudada? Como é que se sai de Emaús e se volta para Jerusalém? Como é que a vida é refeita? Três atitudes. Primeiro, versículo 29, eles o constrangeram dizendo: fica conosco porque é tarde e o dia já declina. Primeira resposta, um pedido para que ele entre na nossa casa, um pedido para que ele entre na nossa vida. Muitos de nós não nos damos conta de que ele caminha ao nossa lado. Passsamos por toda esta nossa vida protegioos por Deus, guardados por ele e até mesmo a pessoa que não tem nenhum sentimento religioso e que não é membro de nenhuma igreja em muitas ocasiões da sua vida tem este testemunho para dar, Deus me guardou. E mesmo tendo sentido que houve uma companhia poderosa ao seu lado quando andava por Emaús não o chamam para vir para a sua vida. O texto dia que quando se aproximaram ele fez menção de passar adiante. Ele aguardava um convite, ele não arromba a porta e não entra onde não é convidado. Está lá em Apocalipse 3:20, eis que estou à porta e bato, se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo, e eu serei o seu Deus e ele será meu filho. Ele espera para entrar na nossa vida, aguarda um convite para participar de nossa experiência, nunca força. Deus nos deu o livre arbítrio, não somos vítimas de astros, de cores, de números de letras de nosso nome, nós somo entes responsáveis, que decidem a sua própria vida. Deus não força, não violenta o nosso arbítrio e se você não o chama para entrar na sua vida, você continua em Emaús. A primeira resposta é esta.

Como sair de Emaús? Primeiro chamando-o para entrar na sua vida. Segunda resposta: ouví-lo com atenção. Versículo 27, começando por Moisés e discorrendo por todos os profetas expúnha-lhes o que a seu respeito constava em todas as escrituras. Ele já começou pisando fundo. Ó néscio e tardos de coração. A palavra que Lucas coloca como tardos é a palavra para retardado. Vocês são retardados é? Vocês não entenderam nada? Não compreenderam? Mas na medida em que ele vinha falando ele foram ouvindo com atenção. Tanto que o texto diz assim: porventura não nos ardia o coração quando ele pelo caminho nos falava, quando nos expunha as escrituras. Esta é a beleza das escrituras, elas são tão vivas que quando são expostas o coração arde. Quem nunca sentiu isto? De estar tão frio, um bloco de gelo, a palavra da Deus cai lá na vida, cai no coração, e aquece o coração, eles não só o chamaram para entrar, chamaram-no para a sua experiência mas ouviram as suas palavras com toda a atenção. O resultado está aqui: ardia o coração quando ele pelo caminho nos falava, quando nos expunha as escrituras. E a terceira coisa, terceira resposta: não se confromar com Emaús, é esta consciência de que lá não é o nosso lugar, e diz o versículo 33: e na mesma hora levantando-se, voltaram para Jerusalém. Faça-me o favor. Depois de uma caminhada de 12 km eu ia dizer assim: só um momento que vou botar o pé para cima, vou descansar e depois eu volto. Mas agora eles sabiam que alguma coisa de diferente havia acontecido na vida deles e eles voltam para dar o testemunho e quando chegam lá os outros testemunham: o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão, então os dois contaram o que lhe acontecera pelo caminho e como fora por eles reconhecido no partir do pão.

Agora, chegando ao fim, vou chamar a sua atenção para os dois limites do texto. Versículo 16: os seus olhos porém estavam como que impedidos de o reconhecer. Eles não o reconheceram quando ele chegou ao seu lado. O outro extremo o 31: então se lhe abriram os olhos e o reconheceram. Primeiro ele se chega, caminha com eles por três horas e eles não o reconhecem. Eu sou um péssimo fisionomista mas acho que depois de tr6es horas de conversa com uma pessoa e até sobre passado comum eu me lembraria, mas eles não o reconheceram, reconheceram num momento, tomando ele o pão abençoou e tendo-o partido lhes deu, então se lhes abriram os olhos, versículo 35: então os dois contaram o que lhes aconteceu no caminho e como foi por eles reconhecido no partir do pão. Eles o reconheceram no partir do pão. Como nós partimos o pão? Com a faca não é? Ou como abrimos o pão? Se formos cortar com a mão cortamos assim mas o oriental quebra o pão assim e é neste momento que ele quebra o pão eles o reconhecem. Por que? Porque no momento que parte o pão eles vêem os sinais da cruz na sua mão e é isto que o texto está dizendo: então os dois contaram o que lhes acontecera no caminho e como fora por eles reconhecido no partir do pão, porque quando ele partiu o pão as marcas da cruz apareceram para eles. Podiam não reconhecer muitas coisas mas só havia um que tinha as marcas da cruz e que estava vivo.

Como é que nós podemos ter uma visão correta de Jesus Cristo? Como é que a nossa vida pode ser mudada? Como é que nós podemos ter um conhecimento completo e profundo dele? Como é que nós podemos sair de Emaús e em Jerusalém dar testemunho para alegria e compartilhamento? Olhando para as marcas da cruz. Olhando para a cruz. Olhando para o Cristo crucificado, poder de Deus para salvação de todo aquele que crê. A cruz que parecia ser o fim de tudo é sinal da vitória de Deus e é sinal da glória do cristão. A cruz está vazia e o crucificado carregou as marcas para toda a eternidade, porque ele venceu a morte. Às vezes nós vamos olhando para as contrariedades e vamos andando por Emaús, olhando para as pedras do caminho e não olhamos para o crucificado, mas quando o olhar não é voltado para as contrariedades nem para as asperezas da jornada mas quando o olhar é centrado nas marcas que Jesus Cristo carregou então nós o reconhecemos, nós o descobrimos como realmente. Agora uma pergunta, por onde você está andando? Você está andando pela estrada de Emaús? Você está se sentindo abandonado por Deus? Você está se sentindo frustrado, arrasado, derreado? Você não sente que ele está caminhando do seu lado? Não tem o coração aquecido pelas palavras dele que você tem ouvido várias e várias vezes? Não reconhece que ele tem andado por esta mesma estrada? Não são preconceitos, visão errada e deturpada que impedem que você saiba quem ele é e prove o que ele tem para você? Abra os seus olhos, abra o seu coração e convide-o para entrar.

     

Endereço: Rua Vieira Bueno nº 20, Cambuí, Campinas, SP
Telefone: + (55-19) 3252.5999

Horário dos Cultos: Domingo,  9:00 e 19:00 horas
Cultos de Oração - Terça, 14:30 horas e Quinta, 19:00 horas
Reunião dos Jovens - Sábado, 19:30 horas
Nos alegraremos com a sua presença. Que Deus o abençoe!