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Como preparar um sermão

Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

Preparado para o curso de Conselheiros de Embaixadores do Rei, em 7.7.9, na Faculdade Teológica Batista de Brasília

1. DEFINIÇÃO GERAL – Um sermão não é um bicho de sete cabeças. Muita gente pensa que para pregar um sermão precisa de um curso de Teologia ou de uma linha direta com Deus. Por isso vamos definir: Um sermão é o ensino de verdades espirituais baseado na Bíblia. Não é um oráculo divino. Não é uma segunda Bíblia. É algo que as pessoas preparam. Quanto mais estudo e mais espiritualidade tiver a pessoa melhor será o sermão. Mas não é necessário ser um erudito para pregar. Lembre-se do Novo Testamento: você pode indicar alguns nomes de pessoas que não eram apóstolos e pregaram?

2. DEFINIÇÃO BÍBLICA – Vamos dar uma definição bíblica? Leiamos Neemias 8.8. Há quatro elementos básicos nesta definição bíblica:

(1) Ler no Livro

(2) Esclarecer o que liam

(3) Explicar o sentido

(4) O povo entender.

Podemos comentar um pouco cada um desses itens?

Veja o resultado da boa pregação: Neemias 8.12.

3. FECHANDO A QUESTÃO – Pregar é ler a Bíblia, esclarecer o texto, dar o sentido e levar o povo a entender o que foi dito. Sem Bíblia não há sermão, há discurso. Se o povo não entendeu a Palavra não houve sermão. Houve blábláblá.

4. O PRIMEIRO PASSO – O primeiro passo, já vimos, é ter um texto bíblico. Como escolher um texto bíblico? Escolha um que seja claro, que você entenda e veja que consegue explicar. Para um sermão simples, para quem está começando, um episódio do evangelho ou alguma história (do Antigo Testamento ou de Atos ou das epístolas) será um bom ponto de partida. Mais tarde, com mais prática, a pessoa poderá se valer de textos com conceitos por desenvolver. Mas é bom começar do começo. Um texto simples, claro, com uma verdade que fique patente. Por isso, escolha um texto completo, que traga uma idéia definida, que apresente uma verdade que ficou bem clara, e que você tenha entendido.

5. CUIDADO COM ESTE TEXTO – Leia-o várias vezes. Leia-o até poder dizê-lo com suas palavras. Pergunte: “O que o autor queria dizer para aquela época?”. Veja bem: não dê sua opinião sobre o texto. Evite aquela prática horrível em muitos estudos bíblicos. Lê-se um texto bíblico, e se pergunta aos outros: “Que qui cê acha?”. Evite o achismo. Pregar não é dar opiniões sobre a Bíblia. É falar sobre um texto bíblico. E a gente começa perguntando: “O que foi dito pelo autor?”. Lembre-se: o texto não foi escrito primeiramente para nós, mas para aquela época. Então, precisamos saber o que significa naquela época. Como você vai descobrir isto? Sendo aluno da EBD, prestando atenção nos sermões, lendo bons livros evangélicos, procurando sempre crescer no conhecimento da Bíblia. Para pregar bem é preciso conhecer bastante a Bíblia. Seria bom ter pelo menos duas versões da Bíblia, uma tradicional e a Linguagem de Hoje. Isto ajuda muito.

6. LEU O TEXTO? VIU O QUE O AUTOR QUERIA DIZER? – Parabéns! Já andou um pouquinho. Ande mais. Agora pergunte: quais são as idéias que estão aqui, e que servem para hoje? Por exemplo: se você escolheu a parábola dos dois servos (Mt 24.45-51), qual deve ser a idéia a seguir? Que não pode espancar os outros? Bem, não pode. Mas não é esta a questão. O que Jesus queria dizer com aquela história? Podemos encontrar várias respostas. Como fazer?

7. O QUE VEM ANTES E O QUE VEM DEPOIS – Veja o que vem antes e o que vem depois do texto que você escolheu. Isto se chama contexto. Para entender bem um texto, precisamos saber o contexto dele. Viu o contexto? Qual é? Se preparar um sermão aqui, qual deve ser a idéia principal? Qual é a idéia principal desta parábola?

8. JÁ TEMOS A IDÉIA PRINCIPAL – Podemos simplificar e dizer que a idéia principal é estar preparado ou fazer as coisas certas para não ser surpreendido pelo senhor, não é? Da mesma forma: devemos estar preparados para a vinda do Senhor Jesus. Esta idéia principal é o tronco da nossa árvore, o sermão. Haverá galhos, mas lembre-se: os galhos sempre devem ter ligação com o tronco. O tronco é a idéia principal e os galhos são as idéias secundárias. Procure colocar uma ordem crescente nos galhos. Para isso é preciso pensar, olhar bem o que anotou, e procurar uma forma que permita que você desenvolva as idéias.

9. O TRONCO E OS GALHOS – O tronco da árvore chamada sermão é o tema. Os galhos são as divisões. É sempre bom dividir um sermão, para facilitar a compreensão, mas as divisões precisam se relacionar com o tema. Veja este esboço de sermão:

TEXTO: João 3.16

TEMA: “O maior amor do mundo”

DIVISÕES:

  1. O amor de Deus é o maior amor do mundo quanto à sua extensão (“Amou o mundo”)
  2. O amor de Deus é o maior amor do mundo quanto à sua prodigalidade (“De tal maneira que deu”)
  3. O amor de Deus é o maior amor do mundo quanto aos efeitos (“Não pereça, mas tenha a vida eterna”).

Este sermão é meu, por isso não saia pregando-o por aí. Mas você consegue ver o tronco e os galhos? Os galhos ajudam a ver a árvore.

Este já é um esboço mais tradicional, mas quando fizer os seus, lembre-se: procure dividir para poder facilitar a visão do todo. E veja: os galhos estão numa ordem crescente. O sermão cresce (não em grito, mas na argumentação). É uma escada.

10. FALTOU UMA COISA – Faltou, sim: a conclusão. Todo sermão tem uma conclusão. Veja o sermão do monte. Ele ocupa o espaço de Mateus 5 a 7. A conclusão dele está em 7.24-29.  Dá para ver para que serve uma conclusão? Encerrar o assunto, levar a pessoa a se posicionar diante do que foi dito, para mostrar que se espera uma resposta dela, etc.

11. UÉ, CONCLUSÃO? E A INTRODUÇÃO? – Pois é, ela ficou para o fim. Mas antes de começar o sermão, comece com uma introdução. Você vai entender melhor o que é introdução quando falarmos da AIDA, de quem espero que você goste e com quem espero que se dê bem. Mas entenda isto: A introdução diz por onde vamos andar; a conclusão diz por onde andamos. A introdução é para dizer às pessoas o que vai ser tratado; a conclusão mostra que o que foi tratado deve receber uma resposta. A introdução levanta uma questão, o corpo do sermão mostra como é a questão, e a conclusão mostra que agora a pessoa tem que fazer alguma coisa. Vamos ver se a AIDA nos ajuda.

12. UMA REGRA DA PUBLICIDADE COMERCIAL – Você conhece a AIDA? Não é uma senhora nem uma jovem. É uma fórmula usada na publicidade para se avaliar um anúncio. AIDA significa:

A – Atrair

I – Interessar

D – Desenvolver

A – Adquirir

Um anúncio comercial deve seguir esta fórmula. Um sermão também.  Como é que a gente faz isto?

13. ATRAIR – Não se pegam moscas com vinagre. A maneira de começar deve ser interessante. Conte uma história pequena (não história de pescador) que atraia as pessoas. Fale de alguma coisa atual (cuidado para não falar do Senado) ou de algo que todos estejam comentando. Mas tome cuidado: não emita opiniões políticas ou polêmicas. Procure relacionar este início com o assunto do sermão. Seja interessante.

14. INTERESSAR – Atrair a atenção é fácil. O problema é manter a atenção das pessoas. Então tome cuidado: faça observações atuais, mas não demore muito explicando uma coisa só. Ponha as idéias em uma ordem, alinhe tudo direitinho, para poder apresentar as idéias de maneira atraente. A pessoa deve ficar interessada no que você fala.

15. DESENVOLVER – Agora desenvolva a atenção das pessoas e desenvolva a apresentação do seu produto (sua mensagem). Para desenvolver seu produto, não mude de assunto. Já imaginou um sujeito vendendo um carro e de repente passar a falar de molho de tomate?  Mantenha-se na linha de pensamento. Não seja um pregador tipo Cristóvão Colombo (saiu sem saber para onde ia, por onde andou nunca soube e quando chegou não sabia que havia chegado). Desenvolva bem sua mensagem. Leia-a e veja se ela está seguindo sem buracos e sem parecer com aquele cachorrinho correndo atrás do rabo, em círculos. Seria bom você escrever seu sermão, enquanto não tem um grande domínio sobre a organização das idéias nesta ordem crescente. Leia e veja se está bom.

16. ADQUIRIR – É a hora em que você deve mostrar que o que está apresentando vale a pena e a pessoa deve adquirir o que você está apresentando. Quem apresenta o evangelho não dá informações sobre Deus, mas procura levar as pessoas a receberem (se apropriarem) daquilo que ele está apresentando. Para adquirir, a pessoa precisa ver a importância do produto e a necessidade que ela tem do produto. Por isso, fale da verdade bíblica (o ontem) para seu auditório (o hoje). Um bom sermão aplica o ontem ao hoje.

17. PARA QUEM VOCÚ VAI PREGAR? – Esta questão é importante? Para quem você vai pregar? Para pessoas crentes ou não crentes? “Para os dois!”. Certo, mas a quem dirigirá seu sermão? Atirar para todos os lados faz com que se percam todos os alvos. Nosso auditório se compõe de dois tipos de pessoas, porque espiritualmente falando só há dois tipos de pessoas: salvos e perdidos. Quando for pregar veja quem você deseja alcançar. Centre seu argumento numa direção. Você pode fazer um sermão muito bom para as pessoas não crentes e elas estarem interessadas, mas de repente você se empolga e começa a falar do pecado na vida da igreja. Pronto! Deu um tiro no pé.

18. PREPARE UM ESBOÇO – Prepare um esboço. Pequeno, onde estejam o texto, o tronco e os galhos. Não escreva tudo para ler lá na frente. Prepare um esboço com as idéias principais. Reparto com você este esboço do sermão que preguei no domingo passado.

19. LEIA, RELEIA, DESENVOLVA, PREGUE NA SUA MENTE – Com o esboço na sua frente, leia e releia e veja se está certo, se as idéias estão bem expostas. Olhe o esboço e procure desenvolver as idéias na sua mente, pregue o sermão na sua mente.

20. UMA PALAVRA FINAL – Você não fez um curso para ser pregador. Pegou umas dicas. Aprendeu a nadar e não morrer afogado, mas não é um Mark Spitz. Leia mais, aumente seu vocabulário (pregar depende de saber bem as palavras), aprenda um pouco de português (“Nós vai, nós foi” dói um pouco), e sempre estude (não apenas leia, mas estude) a Bíblia. Cuide de sua comunhão com Deus, seja uma pessoa espiritualmente séria e zelosa. E quando for pregar, peça a Deus que use sua mente, suas palavras, sua voz. E vá em frente, que vale a pena.

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