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Preparados para os desafios da integração e desenvolvimento na igreja

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Preparados para os desafios da integração e desenvolvimento na igreja

Preparado pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

Da mesma maneira como indicou o propósito da primeira palestra, o Pr. Gilton Vieira sinalizou o rumo desta agora, por correio eletrônico: Apresentar aos líderes presentes as principais frentes de trabalho na busca pela integração dos juniores e adolescentes na igreja, ressaltando as diferenças existentes entre os próprios integrantes do seu "rebanho". Essas diferenças incluem: escolaridade, poder aquisitivo, subfaixas etárias, procedência (filhos de crentes, de não crentes, etc.). Para seguir nesta linha de pensamento, estabeleci três tópicos: (1) Líder de grupo ou de pessoas?, (2) Achando pontos comuns, (3) Integração e envolvimento na Igreja. Andaremos por eles.

1. LÍDER DE GRUPO OU DE PESSOAS? Comecemos por esta pergunta. O que lideramos: um grupo ou pessoas? Na realidade, um bom líder é líder tanto de um grupo como de pessoas. Na expressão empregada pelo Pr. Gilton, "rebanho", está uma boa indicação. Cada líder de juniores e de adolescentes deveria ver seu grupo como um rebanho. Isto não significa ver uma massa informe, mas ver-se como se fosse o pastor daquele grupo. Não precisa pleitear imposição de mãos nem consagração, mas ver-se como responsável por coordenar o grupo e cuidar das pessoas que fazem o grupo. Porque a idéia de "rebanho" não deve se associar com a de massa, que é informe, mas com a de elementos individuais que fazem o grupo. Como líder de pessoas, a necessidade maior é reconhecer e respeitar as diferenças existentes entre os componentes do grupo. Elas existem na área da escolaridade, no poder aquisitivo, nas subfaixas etárias que compõem uma faixa, a procedência geográfica, etc. Gostaria de mencionar um exemplo, sem colocar o foco sobre mim. Na igreja que pastoreio há um típico rebanho de cidade grande do interior paulista. Campinas tem quase um milhão de habitantes. Há, na igreja, descendentes de alemães, de italianos, de russos, e há americanos. Há negros, loiros, morenos. Há nordestinos, mineiros, cariocas, paranaenses e nortistas, além do típico paulista do interior. E há a proximidade da capital, a maior cidade do hemisfério sul, a gloriosa Sampa. A distância entre as duas cidades é de 90 km. O interior conservador, Campinas, e a cidade-síntese, S. Paulo, se misturam cotidianamente. Tenho um rebanho que se espalha por autênticos grupos culturais. Não vou fazer comparações entre eles, mas é um fascinante exercício ver como cada grupo age e responde. Além dos grupos culturais há também os grupos emocionais. É uma igreja com um expressivo contigente de ex-casados e recasados, pessoas que têm uma vida familiar sofrida. A solidez doméstica de alguns contrasta com as lutas que alguns passaram. É fascinante verificar que o jeito de tratar as pessoas tem que ser diferente. As faixas etárias também são bem distribuídas. A maneira de ministrar deve ser cautelosa. Alguns conceitos podem ser facilmente assimilados por uns, mas podem magoar outros. Um conceito expresso de uma maneira normal para um pode doer em outro e bloquear o ensino. Como tenho aprendido com eles! Não quis nem quero colocar o foco sobre mim, mas mostrar aqui uma necessidade muito grande que os líderes, por vezes, ignoram. Além de ler livros, precisamos ler pessoas. Nos grupos de juniores e adolescentes, mesmo nas igrejas razoavelmente homogêneas, do ponto de vista cultural, cada um deles será um universo cultural e emocional distinto de outro. A padronização no trato será problemática. É preciso conhcer a pessoa e tratá-la dentro do seu universo. Isto não significa hierarquizar afeto e atenção, dando mais a uma que a outra. Significa reconhecer que a maneira de ver sempre será diferente. A eficácia na liderança depende muito de conhecer a individualidade. Um exemplo que dou é Paulo Maluf. Grande parte de seu sucesso como político está na individualidade que dispensa aos políticos de interior e de bairros da Capital. Ele fica sem ver um vereador de uma cidade do interior, com 3.000 habitantes, até por dez anos. Quando o vê, sabe o seu nome, pergunta pela esposa, filhos, netos, sobrinhos e pelo cachorro, citando os nomes. Tem uma memória espantosa, mas também dispõe de assessores e de arquivos com fotos, que manuseia antecipadamente, quando vai a algum lugar. É um político de quem eu recearia comprar um carro usado, mas que consegue uma impressionante adesão porque lida com as pessoas como se fossem as mais importantes para ele. Eis algo que devemos observar: a valorização do individual. Não com fins utilitários e personalistas, mas dignificando-as. Porque, no nosso caso, as pessoas não meios, mas fim. Como líder de grupo a grande tarefa é determinar uma visão comum ao grupo. Não pode haver dois ou mais propósitos diferentes, mas um, apenas um. O grupo deve caminhar na mesma direção. Uma das funções do líder e moderar as diversas tendências e conseguir um ponto que seja o mais comum possível ao grupo. Conciliar pontos de vista diferentes é tarefa difícil. Mas não impossível. A individualidade das pessoas deve ser preservada, mas o rumo do grupo deve ser estabelecido. No grupo dos doze escolhidos por Jesus há boa variedade de tipos, mas ele imprimiu uma linha que se uniu as tendências. Um líder maduro não impõe, mas consegue adesão por mostrar respeito às diferenças. As pessoas sabem que ele não manifesta preferências, nem descarta outras, mas que une. Há líderes que desintegram, que jogam uns contra outros. Há líderes que unem e que conseguem fazer o grupo caminhar numa direção, sem rachas. Assim devemos ser. Adolescentes, particularmente, são muito sensíveis à depreciação em detrimento de outras pessoas. Comparações sempre são danosas. Elas desintegram. Devemos soamr e não dividir. Esta superação de individualidades ou a transformação delas em um grupo depende da visão que o líder consegue passar do próprio grupo para seus componentes. Qual é o alvo? Que pretendem? Para onde vão? Estão bem delineados os contornos do grupo? Suas metas foram bem especificadas? Alguém disse que "para o barco sem rumo qualquer vento é bom". Mas quando o barco tem rumo, sabe como enfrentar os ventos adversos, sabe quais evitar e quais aproveitar. Isto passa, necessariamente, por uma questão simples e fundamental: dar uma identidade ao grupo que se sobreponha à individualidade de cada um. O grupo saberá quem é para onde vai. As pessoas continuarão sendo o que sempre foram, mas saberão que estarão corporificando um ideal comum, no grupo. Trata-se, agora de criar semelhanças. Para adolescentes e juniores, isto não é muito difícil, pois são elementos gregários, que gostam de viver em grupo. Na realidade, valorizam o grupo, principalmente o adolescente. Uma liderança eficaz criará este senso de grupo nos elementos. Lembremos que grupo é diferente de bando. Neste, as pessoas têm alvos e visões diferentes e só se unem para atos específicos. No grupo há solidariedade e interação. Um líder eficaz criará nos liderados esta cultura. Mostrará o rumo comum, o propósito, o ideal a ser partilhado.

2. ENCONTRANDO PONTOS COMUNS A questão aqui é encontrar os pontos comuns. Como proceder para que suceda esta coesão ao redor de princípios e alvos? Creio que dois aspectos são fundamentais, aqui. O primeiro: para se formar um grupo coeso é necessário conhecer e respeitar cada integrante. Não se pode tratar as pessoas como números nem como pretexto. Uma das maiores necessidades humanas é a de reconhecimento. Ninguém gosta de ser usado, mas as pessoas aceitam dar-se a um ideal que valorizam e onde vêem que as demais a valorizam. Saiba quem são as pessoas. Trate-as como pessoas. Não é aquela "psicologia de porta de botequim" que ensinam aos vendedores: "trate a pessoa pelo seu nome porque o nome de uma pessoa é o som mais doce que ela gosta de ouvir". Nelson Rodrigues tem um conto de um sujeito que só gostava de ser chamado pelo sobrenome. Namorou sem que a moça soubesse seu nome, porque ele não dizia. Fazia questão de ser chamado pelo sobrenome. Quando ela o soube e o chamou por ele, ele ficou tão indignado que rompeu o quase noivado. Odiava seu nome, Asdrúbal. Não é tanto a questão de saber o nome porque pode haver um Asdrúbal no grupo. E as pessoas sabem quando se é artificial e quando se é natural. A artificialidade sempre é desmascarada. E a questão de ver quem está por trás do nome. Por baixo do rótulo há alguém. Um líder cristão não apenas sabe os nomes, mas "sabe as pessoas". Sabe quem é cada um. Vê-se como um sacerdote de quem lidera. Ora por eles. O líder pequeno ora por si e pelo trabalho. O líder grande ora por pessoas. Quando souberam que Sodoma iria ser destruída, Abraão e Ló tiveram reações diferentes. Ló pediu por si. Queria ir para Zoar para continuar sua vida. Abraão pediu pelos habitantes de Sodoma, para que eles continuassem a viver. A intercessão pelos outros é própria de gente grande. Mostre o reconhecimento e a valorização das pessoas intercedendo por elas. Não peça apenas pelo trabalho e pelo seu ministério. Peça pelas pessoas. Um líder acaba sendo o exemplo para o grupo. As pessoas por ele lideradas assimilam seu jeito de ser, seu vocabulário, suas idéias. Principalmente juniores e adolescentes. Basta ver como assimilam a moda dos artistas e as expressões de comediantes de televisão. E liderados por um líder expressivo e autêntico aceitam seu jeito de tratar. Vêem a autenticidade de sua vida espiritual e a tomam como modelo para si. Conhecer cada pessoa, valorizar cada pessoa e dar-se a cada pessoa, eis a questão. O segundo: para que o grupo seja coeso é preciso que cada integrante seja conhecido e conheça seus colegas, seja compreendido pelos demais e seja compreensivo para com eles. Isto demandará convivência e alvos comuns. Uma classe de EBD que tem como momento de relacionamento apenas o tempo do estudo dificilmente terá esta coesão. Poderá se mostrar unida pelo carisma do professor, mas a coesão de grupo não acontecerá. Isto, a coesão do grupo, sucede quando há interação, que precisa de convivência, não apenas em tempo, mas em "papo". Regras de convivência deverão ser bem definidas. Mesmo que não por escrito, mas pelo menos tacitamente. Juniores e adolescentes aceitam limites quando estes são razoáveis e funcionam de maneira que eles também recebam os benefícios. Não pode ser mostrado como cerceamento, mas como modus vivendi que funciona em dois sentidos. Concede-se aos outros e recebe-se dos outros. Muitas vezes os limites são mostrados como regras a cumprir, sem explicações. Um menino recebeu da mãe a ordem de comer todos os legumes postos em seu prato. Indagou o porquê de ter que comer legumes. A mãe disse: "Porque sim". O pai, que não gostava de legumes, disse: "Para você crescer, ficar forte e obrigar seus filhos a comer legumes". Nas duas respostas o mesmo erro. Na da mãe, o autoritarismo. Na do pai, o sarcasmo. No fim, uma lição que se podia aprender das duas respostas erradas: o legume era um fim em si mesmo e não um alimento necessário. Juniores e adolescentes podem aceitar posições diferentes das que gostariam, se as posições diferentes lhes forem mostradas com racionalidade, que é um elemento útil na persuasão. Compreende-se a pessoa, respeita-se a pessoa, explica-se-lhe seu ponto de vista. E ouve-se. Isto é fundamental. O alvo proposto é mais que um fim em si mesmo, como o legume. Mas é algo que trará benefícios para todos.

3. INTEGRAÇÃO E ENVOLVIMENTO NA IGREJA Uma outra necessidade muito grande é mostrar ao junior e adolescente que a igreja não é um patrimônio dos adultos, mas que é deles, tambem. O conceito batista de igreja nos ajuda muito nesta proposta. Ou é bem mais fácil de ser explicado. Igreja, para nós, não é um prédio nem uma instituição. Igreja é gente, é povo, são pessoas. O junior e adolescente não devem ser nem considerados nem mostrados como se fossem a igreja do futuro ou a igreja do amanhã. A igreja do futuro ou a igreja do amanhã são os ainda não convertidos que, no futuro ou no amanhã, se converterão. Juniores e adolescentes já são a igreja de hoje. Podem não ter recursos financeiros para sustentá-la nem como liderá-la plenamente. Mas são igreja, a igreja de hoje. A igreja é deles, também. E a igreja são eles, também. Devem ter esta consciência. E a igreja precisa nutrir esta mesma consciência. A igreja não é pecúlio de nenhuma faixa etária. Na igreja que tenho o privilégio de servir, não temos "o momento jovem" no culto. Se não temos o momento das crianças nem o momento dos maduros nem o da terceira idade, por que o jovem? Creio que necessitamos acabar com a ditadura dos segmentos na igreja, tipo "os jovens dirigem o louvor, os adultos dirigem a administração". O culto não é de um segmento, mas da igreja, como um todo. Deve atender as expectativas de todos. A administração batista não é de um segmento, mas é congregacional, pertence à igreja. Se isto acontece ou não em alguma determinada igreja é outra questão, mas necessitamos recriar a noção de igreja como grupo. Em Atos, nos capítulos iniciais, as palavras chaves são "todos", "unânimes", "unanimente", "como um só homem". A igreja era altamente solidária. Quando Ananias e Safira tentaram se sobrepor, Deus os puniu. Mas indo ao ponto, para evitarmos digressão: isto deve ser mostrado aos juniores e adolescentes. Mesmo que haja um culto infantil, como muitas igrejas têm, seus participantes devem saber que são a igreja e que estão lá como igreja e não isolados para não perturbar os adultos. Eles são necessários porque eles podem compartilhar a fé aos de seu nível. Porque mesmo que o professor seja altamente capacitado e muito bem treinado, ele, sem eles, nada conseguirá. Qual adolescente ficará numa igreja onde não há adolescentes? Só a simples presença física significa bastante. É um testemunho. Ela é uma declaração de que mensagem que a igreja está pregando alcança todas as faixas etárias. É necessário mostrar isto aos juniores e aos adolescentes, também, porque eles têm uma carência de senso de pertença muito grande. Senso de pertença é a necessidade de se saber inserido a algum grupo. De pertencer a algum grupo. Não se pertence apenas ao grupo menor, mas ao grupo maior. E o grupo maior também necessita deles. Quanto maior o grupo de pertença maior a realização. E a igreja é o grupo maior. Nesta linha de pensamento, é muito necessária a integração com os adultos. Temos realizado cultos especiais para as crianças no momento do culto noturno, que parece uma espécie de horário nobre, em nossas igrejas. Tenho notado que tais cultos fazem muito bem aos adultos, porque vêem a seriedade do trabalho com crianças. Os não crentes ficam encantados com o que nossas crianças aprendem e querem trazer as suas. Por vezes, eles funcionam mais que o culto evangelístico. E faz bem para as crianças porque sentem que a igreja os aceita e lhes cede o "horário nobre" e não apenas a "matinê". Esta integração valoriza muito o junior e o adolescentes. Mostra-os como pessoas aceitas e tidas como inseridas no grupo dos mais vividos na igreja. É quando eles desenvolvem o amor pela sua igreja local e não apenas pelo seu grupo. Por outro lado, a igreja precisa ser educada para se integrar com juniores e adolescentes. Eles não são um apêndice ou um quisto, mas fazem parte do organismo Eles deveriam ter os melhores espaços na igreja, e não o pior ou o improvisado. Verba para investir nos departamentos que lidam com eles não é um gasto, mas é o investimento mais importante na vida da igreja. De novo nos surge aqui a questão do conceito correto de igreja. Investimos em tijolos, bancos e bens materiais. Mais do que em vidas. Porque pensamos em igreja como instituição e prédio. Mas se pnsarmos em igreja como gente, com comunidade, investir em vidas será o melhor que uma igreja pode fazer. E investir nas vidas dos jovens, o melhor dos melhores. Isto demanda um trabalho que extrapola o âmbito de ação do líder de juniores e adolescentes, mas é necessário porque sem isto os projetos serão bloqueados, em grande parte. CONCLUSÃO Tentemos fazer uma síntese do que foi dito nesta palestra. Lidamos com grupo e com pessoa. Estabelecemos alvo comum e regras de convivências no grupo, mas devemos pensar nas pessoas como pessoas e não como peças de uma engrenagem. Seu valor é intrínseco e não de utilidade. As diferenças não devem ser vistas como ameaças, mas como possibilidade de riqueza pela diversidade que trazem ao conjunto. Devem ser respeitada s e aproveitadas, sempre tendo em vista o bem comum do grupo. E o junior e o adolescente não podem ser uma igreja à parte. Nem visto assim nem devem se considerar assim. Porque a igreja é uma. Não é patrimônio de nenhuma faixa etária. Bem como o culto, que é o tesouro espiritual comum da igreja. Os juniores e os adolescentes devem ver a igreja como sendo deles também e ver-se a si mesmos como sendo a igreja de hoje. A igreja deve ter uma interação em que eles se integrem. O senso de pertença deve ser estimulado: pertence-se a um grupo que valoriza a pessoa e esta deve valorizar o grupo. Neste sentido, uma boa reflexão vem a ser a analogia que Paulo da igreja como um corpo. Um corpo não é conflitante, mas coeso. Isto precisamos experienciar e transmitir.

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