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A Crise de Frank e Ernest

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A Crise de Frank e Ernest

     “Frank e Ernest” é uma tira cômica, de humor leve e sutil, publicada em alguns jornais ao redor do mundo. Leio-a no Estado de S. Paulo.  A de 22 de agosto traz os dois, no seu estilo, esmolambados, barba por tirar, diante de um clube ao qual foram se associar, o “Clube dos Fracassados”. Há um cartaz na porta: “Novas inscrições fechadas”. Um fala ao outro: “Em certos dias, tudo que você tenta fazer dá errado!”. Tem razão. Não conseguir se inscrever nem no Clube dos Fracassados é um fracasso mesmo.
    Não sei porque se usa a frase “começar com pé esquerdo”. É bonito ver um canhoto jogar futebol. E começar uma caminhada com o pé esquerdo, se os passos forem pares, faz com que ela termine com o pé direito (quem lê, entenda!). Mas voltemos à frase “começar com pé esquerdo”. Entendo seu sentido no imaginário popular. Há dias que parece que a pessoa tem dois pés esquerdos (antes que um chato me chame de politicamente incorreto, digo que sou canhoto educado – fui “adestrado” para escrever com a direita, mas sempre chutei com o pé esquerdo). Há dias em que tudo dá errado.  Um dia desses tinha hora marcada. Deixaram um carro fora da vaga, no estacionamento do prédio. Custei a localizar o dono, para poder sair. O controle remoto do portão não funcionava. Fui localizar o porteiro do prédio. Saí, o semáforo imediato ao meu prédio fechou e me deixou após a faixa. Fui multado e ganhei pontos na carteira por avanço de sinal. Atravesso e me avisam que o pneu está murcho. Fui calibrá-lo. Perdi a reunião e ainda fui chamado de irresponsável. Se fosse me inscrever no Clube dos Azarados (o dos Fracassados, não, é demais) me atrasaria.
    Nestes dias bate uma raiva! Vontade de explodir, brigar, reclamar da vida, dos outros, de Deus, de tudo. Nos seus dias de Frank e Ernest, tome cuidado para não ser injusto para com Deus e derrotista consigo mesmo. José, filho de Jacó, podia dizer que seus dias de fracassado (ou azarado) não terminariam nunca. Ele era a soma de Frank e Ernest. Odiado pelos irmãos, jogado por eles numa cisterna, foi vendido como escravo. Tentou viver uma vida certa e foi caluniado e condenado por algo que não fez. Enquanto tudo ia dando errado, a Bíblia continuava dizendo que “o Senhor estava com ele” (Gn 39.21 e 23). Era para ele dizer: “Deixa, Senhor, que eu me viro sozinho”. Interpretou dois sonhos e a pessoa que ele ajudou se esqueceu dele (Gn 40.23). Por trás de tudo, no entanto, estava Deus. Assim, José, o odiado, o caluniado, o encarcerado e esquecido, saiu da masmorra para o vice-reinado do Egito.
    Mais tarde, no fim do livro de Gênesis, ele diz aos irmãos: “É verdade que vocês planejaram aquela maldade contra mim, mas Deus mudou o mal em bem para fazer o que estamos vendo, isto é, salvar a vida de muita gente” (Gn 50.20). Inclusive a vida dos irmãos malvados. Isto é o que os teólogos chamam de “doutrina da providência”. Se não desse tudo errado, não daria certo no final. Era preciso que tudo desse errado para o final dar certo. Deus sabia o que estava fazendo ao permitir as desgraças sobre José.
    Quando tudo estiver dando errado com você, problemas sobre problemas, crises e mais crises, não procure o Clube dos Fracassados, como Frank e Ernest. Lá não é o seu lugar.  Nem o dos Azarados, como cheguei a pensar no dia em que tudo deu errado. Lá também não é nosso lugar, como filhos de Deus. Lembre-se do decorado, sempre recitado, e nem sempre assimilado Salmo 23.4: “Ainda que eu ande por um vale escuro como a morte, não terei medo de nada. Pois tu, ó Senhor, estás comigo; tu me proteges e me diriges” (NTLH). Descanse no cuidado do Senhor e você não terá a crise de Frank e Ernest.
    Isaltino Gomes Coelho Filho
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