O Padre Tem Razão… Mas Ainda Há Mais
O “Correio Popular”, de Campinas, trouxe um artigo do Pe. José Trasfereti, intitulado “Jesus ou Papai Noel?”. O padre critica a substituição de Jesus por papai Noel, e lamenta a transformação da data em ocasião de lucro, sem reflexão espiritual. Suas palavras finais foram: “Portanto, neste natal, menos papai Noel e mais Jesus Cristo”.
O padre tem razão, mas tocou na superfície da questão. Há mais. Que o comércio desfigure o natal, vá lá. Comércio quer vender. Ele desfigurou a paixão de Cristo, dando-nos um coelho e seus ovos de chocolate. O problema é que cristãos desfiguram o natal. De maneira mais deplorável que o comércio.
Os caça-heresias desfiguraram o evangelho com suas esquisitices e agora combatem o natal, dizendo-o festa pagã. Opõem-se a qualquer culto com ênfase no nascimento de Jesus. Não vou analisar seus argumentos porque já os comentei em outro ano.
Há também os cristãos que desfiguram o natal. Para eles é troca de presentes, ceia opulenta, programas especiais. Mas é uma mensagem inigualável. É a encarnação de Deus. Ele se fez homem. Não para pregar paz e amor, porque isso todo mundo prega. Eis o natal: “Mas quando chegou o tempo certo, Deus enviou o seu próprio Filho, que veio como filho de mãe humana e viveu debaixo da lei para libertar os que estavam debaixo da lei, a fim de que pudéssemos nos tornar filhos de Deus” (Gl 4.4). O natal é evento de magnitude espiritual, a encarnação de Deus, o Eterno entrando no tempo, o Infinito entrando no espaço. Os cristãos o tornaram evento social.
O material e social valem mais que o espiritual. Numa cidade onde trabalhei queriam fazer um jantar natalino dos pastores. Pediram-me para levar dois perus. Achei estranho que pastores também pensassem em natal como comida. Ponderei: “Por que não fazemos uma refeição como a habitual, e usamos o que gastaríamos com o orfanato batista da região, de instalações bem precárias?”. Fui tido como sem visão de grupo. Mas, se nas igrejas valorizamos mais o social e o estomacal, o que esperar de outros? Como criticar o comércio, se nós não damos ao natal o seu verdadeiro sentido?
Neste ano, o dia 24 de dezembro cai num domingo. Muitos crentes não virão à igreja e ficarão em casa “para cear com a família”. É emblemático. Nada contra comer com a família. Pode se vir ao culto e ir comer com a família. O culto é às 19 horas! Vinte anos atrás, os crentes se esforçavam em levar os parentes não crentes à igreja, não só aos domingos, mas também em ocasiões especiais, usadas para a evangelização. Por isto nós crescíamos. E por isto temos, hoje, tantos parentes que não se convertem. Eles vêem que os maiores elementos de nossa fé não nos são relevantes. Hoje, qualquer evento faz com que os não crentes tirem os crentes da igreja. É uma “desevangelização”. A igreja não é importante para boa parte de seus membros. A presença aos cultos é “se der”. Os grandes momentos evangelísticos foram substituídos por comida. Assim temos a ceia de natal e o café da manhã da ressurreição. Os aniversários das igrejas, de oportunidade para série de conferências evangelísticas, tornaram-se oportunidade para o famoso bolo de glacê com o também famoso refrigerante quente em copo plástico. É o “ponto alto da noite” como ouvi numa igreja, em cujo aniversário preguei. Nós desespiritualizamos o natal, a chamada semana santa, aniversário da igreja, etc. O ponto alto é comida e festa.
A questão não é só “Jesus ou papai Noel?”. É Jesus ou festa humana? Fé ou sentidos? Culto ou barriga cheia? Há crentes que fazem regime após o natal, para perder os quilinhos a mais. Que pena! Desfiguramos tudo!
Acerte neste ano! Ponha Jesus Cristo em primeiro lugar!
Isaltino Gomes Coelho Filho