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De servos apascentadores a gerentes eclesiásticos

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De servos apascentadores a gerentes eclesiásticos

A sociedade de consumo dos shoppings e do fast food se instalou no mundo sem fronteiras e faz a cabeça da humanidade, inclusive dos evangélicos. Não é incomum encontrar em nossas igrejas pessoas que esperam da igreja shows e atendimentos de boa qualidade e de resultados rápidos. É óbvio que querer o melhor daqueles que se dizem representantes do melhor é algo perfeitamente normal. É nesse cenário que a igreja evangélica brasileira se encontra e tem que fazer a sua escolha. A igreja precisa decidir entre oferecer alimento sólido e preparar uma geração de autênticos discípulos e adoradores do Senhor Jesus Cristo ou simplesmente agradar uma humanidade que se encontra perdida, à semelhança de ovelhas sem pastor. A escolha da igreja vai fazer a diferença entre a maturidade cristã e a mediocridade de uma religiosidade cristã.

De carona com a realidade do mercado fast food, outro questionamento está em pauta. Face aos diferentes ministérios na igreja local, quais devem ser as bases para o preparo de vocacionados? De um lado, a carência de um rebanho que tenha o perfil do seu pastor e mestre, Jesus; do outro lado, diferentes estilos de ministérios, que surgem com a necessidade de se ter uma igreja que fale a linguagem existencial humana e que abra espaço para um número cada vez maior de ministradores. E uma terceira frente de pressão e de tensão, cada vez mais forte, que é a da corrente dos gerentes eclesiásticos, ou MBAs da fé (Master of Business Administration, um grau acadêmico, destinado a administradores e executivos na área de gestão de empresas), que se tornaram especialistas em estratégias de marketing e vendas das fórmulas mágicas, travestidas de princípios bíblicos, de como fazer a sua igreja crescer. Tais gerentes, quando reúnem-se em congressos, sempre caros e inacessíveis aos líderes de pequenas igrejas, vendem as receitas de crescimento como se a voz do povo fosse a voz de Deus e a competência da liderança fosse o segredo para o sucesso do empreendimento chamado igreja; parece que não precisam da ação do Espírito Santo para fazer a obra de Deus prosperar, e assim tratam o reino de Deus com um expansionismo que em nada difere da visão de desenvolvimento e de sucesso dos grandes empreendimentos humanos, inclusive os de natureza religiosa. Que tal lembrar o que diz a Palavra de Deus: "De modo que não importa nem o que planta nem o que rega, mas sim Deus, que o crescimento." (1 Cor 3:7 BLH). "…E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos" (Atos 2.47 NVI). Os que pensam em satisfazer os homens para que as suas igrejas fiquem cada vez mais lotadas de clientes se prendem aos seus sermões motivacionais e de auto-ajuda e não pregam a palavra genuinamente bíblica e corretamente interpretada. Para os tais, pregar sobre conversão com base no arrependimento de pecados e fé no sacrifício redentor de Cristo, pregar sobre renúncia a este mundo e sobre a brevidade da volta do Senhor Jesus Cristo é politicamente incorreto, espanta as pessoas dos cultos.

Assim, muitos segmentos evangélicos têm abandonado a reflexão bíblica e navegado apenas na superfície das necessidades humanas e do gerenciamento dos negócios eclesiásticos. Muitas denominações evangélicas têm seguido caminhos próprios e preparado e até bitolado a sua liderança para que não saia da visão ou do discurso ensaiado; poucas denominações orientam os seus lideres no sentido de que busquem formação acadêmica em instituições sérias e que ofereçam uma formação ministerial equilibrada, com capacitação ou qualificação para o ministério e um bom embasamento para uma reflexão teológica contextualizada.

A verdade é que a liderança do povo de Deus não pode permanecer refém de uma onda globalizada do politicamente correto, da mentalidade antropocêntrica e hedonista, que enche os olhos daqueles que enxergam mais as luzes dos palcos do que a luz de Cristo, que escutam mais os gritos da multidão histérica do que a voz da Palavra de Deus. Precisamos de líderes que façam distinção entre gerenciar um negócio terreno e pastorear o rebanho do Senhor Jesus Cristo; de ser profeta que ensina a Palavra que é viva e eficaz ou de ser um animador de auditório preocupado em agradar a platéia. Certamente que, perseguindo a excelência no que fazemos para Deus, devemos nos contextualizar e fazer uso de todos os recursos disponíveis. No entanto, a eficiência não pode sobrepor ao eficaz e espontâneo exercício dos dons e talentos, e nem tampouco a ciência e as muitas tecnologias podem ignorar a Palavra de Deus e a ação do Espírito Santo. Nunca é demais lembrar e pensar no que afirmou Jesus: Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer (João 15.5).

Pr Javan Ferreira

javanferreira@uol.com.br

Diretor da FATBOA-SP

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