O Que Jesus Realmente Ensinou?
Perin escreveu um livro intitulado “O que ensinou Jesus realmente?” (Editora Sinodal). O título desta pastoral é parecido, mas não é um comentário do seu livro nem um estudo teológico. Falece-me tal competência. Abordo o tema para juntar dois pontos. O primeiro é a queixa de um leitor à revista “Época” reclamando da intolerância das igrejas em não aceitarem o homossexualismo. Diz ele que elas estão esquecendo a maior doutrina de Jesus: o amor.
É curioso como “amor” se tornou pretexto para não se discordar de nada. Amar é aceitar tudo. É ser tolerante. Só que as pessoas que esposam tal posição geralmente não são amorosas com quem discorda delas e tampouco são tolerantes. Aliás, são bem intolerantes.
A questão é esta: a maior doutrina de Jesus foi o amor? Ele pregou o amor? Ora, isso todo mundo pregou. Sua declaração de que o amor a Deus e ao próximo são os maiores mandamentos não foi inédita (Mt 22.34-40). Ele repetiu Moisés. A pergunta foi qual era o grande mandamento da lei. Ou seja, qual o grande ensino de Moisés. Ele citou dois: amar a Deus e ao próximo. Mas isto não foi o seu ensino central!
O segundo ponto que ajunto é uma observação de Huston Smith, no livro “A alma do cristianismo”, ao falar da origem da Igreja: “O que era essa Boa-nova que deu origem à Igreja cristã e partiu a História em a.C. e d.C, como se ela fosse um graveto seco? Não foram os ensinamentos éticos de Jesus; já comentamos que todos os ensinamentos de Jesus estavam presentes na literatura da sua época. Na verdade, não foi nada do que Jesus ensinou” (p. 104).
Smith lembra que os primeiros cristãos usaram um peixe como seu “logotipo”. Em grego, “peixe” é IXTHUS, as iniciais da frase Iesous Xristós Theós Uiós Soteriós (Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador). Isto é o cristianismo. Este foi o ensino central de Jesus: ele é o Filho de Deus, o Salvador. Ele pregou sua pessoa. O tema central de seu ensino foi ele. O evangelho não é uma ética ou um sentimento. É uma pessoa, Jesus.
Tire Buda do budismo e o budismo continua. Tire Kardec do espiritismo e o espiritismo continua. Tire o fundador de qualquer religião de sua religião e ela continua. Elas são conceitos que qualquer um pode proferir. Mas se tirar Jesus do cristianismo este acaba. O cristianismo é Jesus. Uma pessoa singular, a mais fantástica que já existiu, que se arrogava o direito de perdoar pecados, de condenar, de confrontar pecados, de curar, ressuscitar, que teve a ousadia de dizer que era Deus e sempre existiu, e de ordenar a um grupo de provincianos de uma aldeia obscura que pregassem seu nome por todo o mundo até que ele voltasse.
Nossa fé não se baseia em sentimentos ou numa ética ou em conceitos. Cremos numa pessoa: Jesus crucificado, que ressuscitou, que apareceu a centenas de pessoas, e que mudou o mundo para sempre.
Ser cristão não é fazer o bem ou amar os outros, embora um cristão deva fazer estas coisas. Ser cristão é seguir a Cristo. Ele chamava as pessoas a virem a ele: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a cruz, e siga-me” (Lc 9.23). Ele dá vida, perdoa, enche a vida de significado. Ser cristão não é cantar louvores ou sentir-se enlevado. Ser cristão é comprometer-se com Cristo, amá-lo e honrá-lo. É tê-lo como Senhor.
Quando lhe disserem de novo esta meia-verdade de que Jesus pregou o amor, responda que todo mundo ensina isto. Até os terroristas religiosos. Mas estas pessoas seguem seus corações. Diga que Jesus pregou-se a si mesmo. Ele é o ensino dele. Ele é o tema do cristianismo. Foi isto que ele ensinou.
Isaltino Gomes Coelho Filho