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O Tizé e o Timão

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O Tizé e o Timão

 

            Quando eu era criança, meu pai teve um bar na Rua Ônix, em Rocha Miranda, subúrbio carioca.  Ele deu uma de cartola e criou um time de futebol, o Rio Ônix Futebol Clube. O time jogava aos domingos de manhã e eu, nos meus 10 anos, ia atrás. Várias vezes o time jogou onde ficam hoje as indústrias de Acari, na antiga Fazenda Botafogo. Ainda me lembro de passar na porta de uma casa e ver uma menina muito bonita, de cabelos cacheados. Vi uma foto de Meacir como menina, já casado com ela, e me impressionei com a semelhança. Seria ela a menina?  Pergunto isto porque era pela sua rua que passávamos. Mas voltemos ao Rio Ônix.

 

            Num jogo, meu pai forçou a escalação de meu tio Antonio José, que chamávamos de Tizé (aférese e apócope de tio José). Quando acabou, o Jarbas, craque do time, disse a meu pai: “Isaltino, não leva a mal, não. Teu cunhado é muito ruim. Ele bate na orelha da bola”. Do Tizé ao Timão, o Corinthians. Um dia desses vi lances do jogo Vasco e Corinthians. Que horror! Como se dizia quando eu era criança: “Que perebada!”. Menos pereba, o Vasco venceu. Mas foi triste. Como disse Jarbas: “Bateram na orelha da bola”.

            Segundo os doutos especialistas de futebol, o Timão tem alguns Tizés. Assim, coitado, caiu para a segunda divisão. Mas pela força que tem logo subirá.

 

            Do Timão à sua torcida. Li no “Correio Popular”, de Campinas, reportagem de Tote Nunes, que seguiu o Corinthians a P. Alegre. Ele conta de gente que foi do interior do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e outros lugares para torcer pelo clube. Narra as expressões de paixão. Lembrei da torcida cantando, no final do jogo, que não ia deixar de amar o time e o acompanharia aonde ele fosse. Certa vez, quando o Timão disputava um título, um sujeito vendeu a geladeira de casa para acompanhá-lo, pelo nordeste.

 

            Aí pensei nos membros de nossas igrejas. Quantos críticos, quantos queixosos, quantos que dizem amar a Cristo, mas que não têm disposição de participar dos cultos! Que nunca contribuem com um centavo, e ainda usam a Bíblia para justificar a avareza! Que disseram, diante de Deus e da congregação, na profissão de fé, que seguiriam a Cristo, e não ligam a mínima para a igreja local, expressão visível da Igreja, Corpo de Cristo! Uma vez pedi a uma pessoa para se engajar na igreja e freqüentá-la assiduamente. Ouvi: “Meta-se com sua vida!”. Gente que segue a Cristo de longe, esporadicamente, que não ama nenhuma igreja, que critica, fala mal, mas não se engaja nem aceita correção. Os times de futebol são mais amados que as igrejas. Pelos membros das igrejas.

 

            A igreja tem muitos apedrejadores e críticos internos, e poucos amantes. Ah, se cada membro de igreja tivesse por ela o mesmo amor que têm por seus times de futebol! Não precisam vender a geladeira para ofertar para a igreja. Não é isto. Somos escrupulosos com ofertas. É se amassem a igreja como amam seu time. Se tivessem o mesmo ardor que mostram ao defender seu time de futebol na hora de expor sua fé a alguém. Ah, se tivéssemos membros de igreja chorando por ela como os corintianos choraram pelo time! E se fossem orar por ela! Ah, se cada pastor recebesse das ovelhas o mesmo apoio que a torcida do Corinthians deu aos seus jogadores, que pareciam mais com o Tizé que com Rivellino e Sócrates! Que injeção de ânimo! Que impacto seria!

 

            Como pastor, deixo a desejar e sou um Tizé esforçado. Mas gostaria de ter ovelhas apaixonadas pelo evangelho e pela igreja como os torcedores do Timão. Mesmo com um pastor Tizé. Gostaria mesmo!

 

            Isaltino Gomes Coelho Filho

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