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A igreja, mais uma família que uma instituição

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A igreja, mais uma família que uma instituição

 

Preparado pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho para a Associação Batista Gonçalense, abril de 2008

 

            O tema desta palestra é o título de um capítulo do livro À igreja, com carinho, de minha autoria [1]. Mas não é um resumo do capítulo.  Segue na mesma linha e o complementa. Trata de uma necessidade da igreja contemporânea e adverte para um perigo que ela enfrenta, a descaracterização.

            Esta descaracterização já se nota na tentativa de definição. Tomemos a palavra de Jesus, “edificarei a minha igreja”, em Mateus 16.18. Não teremos dificuldades em afirmar isto: a igreja é de Jesus. Mas teremos dificuldades em definir o que é igreja. Ela é de Jesus, mas o que ela é, exatamente?

 

DEFININDO TERMOS

            O que é igreja? Fugirei de definições semânticas, de explicar o termo grego e seus correspondentes hebraicos. A questão é: o que entendemos por igreja?

            No livro alisto os vários tipos de igreja que encontramos: igreja clube, igreja associação, igreja colégio interno, igreja gueto, igreja clube dos desajustados e igreja doente do fígado. Mas não seguirei por aqui para não repetir o livro. O que entendemos por igreja?

            Para alguns é um lugar aonde vamos. Na semântica teológica, esta afirmação é um erro. Nós não vamos à igreja. Nós somos a igreja. Nem vamos ao templo. Nós somos o templo. Vamos ao prédio onde a igreja se reúne. Não vou abrir guerra por isto.  Seria falta do que fazer. E eu tenho muito que fazer. Mas esta prática mostra que o conceito de igreja foi institucionalizado entre nós de tal maneira que se associa a uma organização pessoa jurídica, que se reúne num lugar. Tanto que chamamos a igreja, que ainda não é pessoa jurídica, de congregação ou de missão.

            Isto não é grave, mas sim que se acentua entre nós a idéia de que a igreja é uma empresa. Uma igreja fechou uma congregação porque não dava retorno financeiro. Segundo o arrazoado, o “custo e benefício” não compensava. Deve ser por isto que detesto a expressão “custo e benefício”. Igreja é empresa? É para dar lucro? No livro citado, após alistar os diferentes tipos de igreja, afirmo uma caracterização, não uma definição, de igreja: a igreja é mais uma família que uma instituição. Não é uma definição, mas tem elementos de uma definição. Ao dizer que ela é uma família, digo que é um grupo de pessoas. Ao dizer que é uma família, especifico que é a família de Jesus. Família que brotou ao pé da cruz. Pretendo mostrar isto nesta palestra e pretendo também denunciar os perigos do institucionalismo, que é o engessamento da igreja, a colocação do conceito de igreja em formol, embalsamando-o. De todos, este é maior risco que a igreja enfrenta: ser apenas instituição e não ser relacionamentos pessoais.

 

O SURGIMENTO DA IGREJA COMO FAMÍLIA

            Quando Jesus disse “desejei ardentemente comer esta páscoa convosco” (Lc 22.15) já delineou a igreja. A páscoa era uma cerimônia religiosa familiar. Ele já dissera que sua família eram os que ouviam a Palavra de Deus e a acatavam (Lc 12.46-50). Mas agora assume os doze como sua família.

            Na cruz, Jesus confia sua mãe a João: “Perto da cruz de Jesus estavam sua mãe, a irmã dela, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe ali, e, perto dela, o discípulo a quem ele amava, disse à sua mãe: ‘Aí está o seu filho’, e ao discípulo: ‘Aí está a sua mãe’. Daquela hora em diante, o discípulo a recebeu em sua família” (Jo 19.25-27). A igreja é uma família que nasceu ao pé da cruz e a cruz inter-relaciona as pessoas.

            Relacionamentos e pessoalidade estavam na essência da igreja. O relacionamento correto com Deus, crendo em Jesus como o Cristo de Deus, e relacionamento correto com as pessoas inseridas na comunidade. O final das cartas paulinas traz várias recomendações pessoais e há observações comoventes: “Priscila e Áquila… os quais pela minha vida expuseram as suas cabeças” (Rm 16.3,4), “Epêneto, meu amado” (Rm 16.5), “Ampliato, meu amado no Senhor” (Rm 16.8), e a declaração paulina em Romanos 16.13: “Saúdem Rufo, eleito no Senhor, e sua mãe, que tem sido mãe também para mim”. E o que dizer do tocante testemunho de Paulo sobre Onesíforo? “O Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo, porque muitas vezes ele me reanimou e não se envergonhou por eu estar preso; ao contrário, quando chegou a Roma, procurou-me diligentemente até me encontrar. Conceda-lhe o Senhor que, naquele dia, encontre misericórdia da parte do Senhor! Você sabe muito bem quantos serviços ele me prestou em Éfeso.“ (2Tm 16.18).

            A igreja primitiva valorizava relacionamentos. Nós valorizamos programas e métodos. O mais importante na igreja, depois de Jesus Cristo, são as pessoas. Prestemos atenção neste episódio relatado em Marcos 3.1-3: “Noutra ocasião ele entrou na sinagoga, e estava ali um homem com uma das mãos atrofiada. Alguns deles estavam procurando um motivo para acusar Jesus; por isso o observavam atentamente, para ver se ele iria curá-lo no sábado. Jesus disse ao homem da mão atrofiada: ‘Levante-se e venha para o meio’". Entendemos o que Marcos está mostrando? Para os fariseus, o sábado estava no centro de suas preocupações. Para Jesus, o homem. “Venha para o meio”, diz ele. Colocamos métodos, programas e doutrinas no centro, no meio. Jesus põe o homem. Não digo que métodos e doutrinas não sejam importantes. Digo que pessoas valem mais. Foi por pessoas que Cristo morreu na cruz. Foi gente, e não métodos, prédios ou instituições que ele comprou para Deus Pai: “e eles cantavam um cântico novo: ‘Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus selos, pois foste morto, e com teu sangue compraste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação’” (Ap 5.9).

            Igreja não é instituição, prédio ou império econômico. Igreja é gente. Gente pela qual Cristo morreu, gente que ele inter-relacionou, em laços de família. A igreja surge como família na forma em que Jesus a encaminhou e na forma como os cristãos se relacionavam. As mega-igrejas são uma antítese do conceito de igreja. Pessoas não se conhecem, não se relacionam, apenas consomem serviços oferecidos por uma prestadora de serviços espirituais.

            Gravemos isto: o que há de mais importante em nossas igrejas, depois de Jesus, são as pessoas.

 

O INSTITUCIONALISMO – UM GRANDE PERIGO PARA A IGREJA

            São muitos. Mas não quero entrar em aspectos doutrinários, e sim vivenciais. Na sua obra Vinho novo, odres novos,[2] Howard Snider mostra como  a igreja diferiu do judaísmo, em termos de estrutura, no seu surgimento. Ela nasceu sem sacerdócio, sem sacrifício e sem tabernáculo (três pilastras do judaísmo), porque Jesus Cristo era os três.  Diz Snider que a grande tentação da igreja tem sido restaurar os três. E assim, como o judaísmo, transformar comunidade em instituição. E ele nos lembra, mais à frente: “O cristianismo não possui lugares santos, apenas povo santo” (p. 71).

Apesar de tantos quase idolatrarem o templo de sua igreja, Jesus não considerou o templo relevante, mas sim pessoas. Vemos isto no relato de João 5. Há uma festa dos judeus em Jerusalém. As festas aconteciam no templo. Mas Jesus não vai ao templo, e sim ao tanque de Betesda onde estavam cegos, mancos e aleijados, pessoas que não podiam entrar no templo. Ali ele curou o paralítico que estava assim há 38 anos. Havia a festa religiosa no templo, mas ele foi às pessoas que não podiam participar da festa nem entrar no templo. Entendemos isto? Pessoas valem mais que instituições, tanto o templo quanto a festa.

Na realidade, os cristãos não construíram prédios para suas igrejas até cerca do ano 200. E cresciam. Não tinham festas religiosas, mas apenas a celebração da morte e ressurreição de Jesus. E se viam como uma família. A igreja centrava sua vida nos relacionamentos, não nas instituições. Precisamos recuperar isto: relacionamentos pessoais e a vida da igreja como família de Jesus são mais importantes que o institucionalismo pesado que a que submetemos a igreja, vendo-o como essencial para crescimento. De todos os perigos que ela enfrenta, o institucionalismo é o mais grave. Porque vem de dentro, vem embasado em boas intenções, e com ar de preocupação. A igreja necessita de um mínimo de instituição para funcionar, mas se a instituição se sobrepõe aos relacionamentos e à fraternidade, ela corre risco.

Concluo este tópico com um evento que sucedeu numa cidade onde pastoreei. Um irmão realizava o culto doméstico com a família, quando a família vizinha veio visitá-los. O irmão os convidou para participarem do culto, eles o fizeram, gostaram e perguntaram se podiam vir uma vez por semana. Resumindo e ganhando tempo: em breve o irmão tinha cerca de 20 pessoas, porque outras famílias do prédio vieram. Assim que soube, o pastor censurou o irmão. Ele não estava autorizado para dirigir cultos, e sim o Departamento de Evangelismo da igreja. Assim despachou para lá um irmão, de paletó e gravata, que transformou uma reunião cordial, em que as pessoas iam de bermuda e sandália, em algo formal e rígido. O encontro se esvaziou e morreu. A instituição triunfou sobre o relacionamento.

 

A ORAÇÃO SACERDOTAL DE JESUS

            Em João 17 temos um dos mais belos comoventes capítulos da Bíblia. É um dos trechos mais tocantes da literatura mundial, ouso dizer, sem resvalar para o exagero. Jesus, o fundador do maior movimento de todos os tempos, a igreja, está se despedindo dos seus seguidores. A história vem do capítulo anterior. Ele interrompe o que fala aos discípulos e levanta os olhos ao céu, e começa a orar. O capítulo é melancólico, profundo em conteúdo, em sentimento e em dor. É difícil lê-lo sem se comover. É a “Oração sacerdotal de Jesus” [3].

            Ela tem três divisões bem nítidas. Na primeira parte (vv. 1-8) ele descreve o relacionamento entre o Pai e o Filho. Eles estavam juntos e se amavam desde a eternidade (v. 5). Na segunda parte (vv. 9-19) ele ora pelos discípulos ali presentes, a igreja daquele momento histórico. Na terceira parte (vv. 20-27), ele ora pelos que crerão no futuro, a igreja que viria. Foi a noite em que Jesus orou por nós. E o primeiro pedido pela igreja do futuro, por nós, é este: “Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”(Jo 17.20-21).

            O primeiro desejo de Jesus para sua igreja é unidade. Não orgânica ou institucional, porque o modelo é a unidade entre o Pai e o Filho. Ou seja, uma unidade relacional. Unidade de família, como um pai e um filho têm.

            Esta unidade é fundamental para o testemunho da igreja junto ao mundo: “para que o mundo creia que tu me enviaste”. Para Jesus, o maior testemunho ao mundo de que ele é o enviado do Pai é a forma como os membros da igreja se relacionam entre si.

            Scott Horrel, na obra A essência da igreja, faz o seguinte comentário neste texto, ao falar sobre a comunhão na igreja: “O amor uns pelos outros é a apologética mais convincente para nosso mundo cético e a que mais desarma este ceticismo (Jo 13.35). A comunhão mostra o amor por Deus por meio de uns pelos outros. Ela antecipa a comunidade celestial que todos os cristãos compartilharão” [4].

            Horrel narra um episódio sucedido em um retiro de solteiros, em que o tema do estudo foi “Servir uns aos outros”. Havia umas trinta pessoas em pé, em círculo, na grama, ao redor de um esguicho, uma esponja um sabão. Uma jovem de vinte e poucos anos pegou a mão de outra jovem a levou-a para o centro do círculo. Enquanto lavava seus pés, chorando, pediu-lhe perdão por seus ciúmes e suas fofocas contra ela. Depois a segunda lavou os pés da primeira. Um pastor colocou seu filho de seis anos no centro e lavou os pés dele, prometendo que seria um pai melhor. Um jovem permaneceu resistente, não se envolvendo, até que um outro o pegou pelo braço, trouxe-o ao centro, lavou-lhe os pés, mostrando o amor cristão em atos. O jovem resistente foi desarmado, chorou muito. Nunca se sentira amado e aceito. Como resultado, este jovem resistente ao evangelho tornou-se missionário em diversas regiões do mundo, desde a Amazônia peruana até a Sibéria.

            O sentido de vida relacional na igreja precisa ser restaurado. Muito de nossa vida cristã se resume à ida ao templo, onde nos comportamos como num teatro, assistindo um drama que se desenrola, desenvolvido por alguns artistas, enquanto a maior parte dos crentes parece ser assistente. E fora do templo não nos relacionamos. Vida cristã não é louvor no templo, nem misticismo. É relacionamento. Com Deus e uns com os outros. A igreja não é um teatro, mas uma família, onde as pessoas interagem, devem se relacionar em amor, solidariedade e autodoação. Buscamos o domínio, mas não é este o modelo. Jesus o mostrou como Lucas 22.26-27 relata: “Mas, vocês não serão assim. Ao contrário, o maior entre vocês deverá ser como o mais jovem, e aquele que governa, como o que serve. Pois quem é maior: o que está à mesa, ou o que serve? Não é o que está à mesa? Mas eu estou entre vocês como quem serve”.

 

INSTITUIÇÕES E MÉTODOS SÃO RUINS?

            Não, não são. Vários grupos saem de suas denominações, dizendo que não querem mais ser denominação, e acabam criando mais uma. Podem dar-se o rótulo que quiserem, mas acabam sendo mais uma denominação. Dizer que uma árvore não é uma árvore não faz com que ela deixe de ser uma árvore. É como a antiga rede se sorvetes em S. Paulo, intitulada de “Sorvete Sem Nome”. O nome era “Sem Nome”. Há a denominação Não Denominação. O nome das igrejas que a compõem é Igreja Sem Nome Mas Este é Nosso Nome.

            Precisamos de instituição e método, mas eles não podem ser nosso baal, substituindo a Adonai. São necessários, mas sua existência e uso devem ser bem equacionados. Volto a Horrel: “Os métodos eclesiásticos que drenam a energia  dos membros, em vez de disseminá-la, contradizem a direção descentralizada do reino de Deus no Novo Testamento” [5]. A energia da igreja deve ser centrífuga (para fora de si) e não centrípeta (para dentro de si). Muito de nosso trabalho, expressão de nossa metodologia, é para perpetuar forma e instituições. Em toda igreja há coisas imexíveis. São serpentes de metal adoradas até que surja um avivamento como o de Ezequias que acabe com a idolatria da forma (2Rs 18.4).  Gastamos mais tempo com atividades meio que atividades fim. O método, o modelo, a forma, a instituição, acabam sendo mais importantes que tudo. Cuidado com isto. É pecado. É idolatria. Instituições e métodos são necessários, mas não são a essência do evangelho.

 

AS CARACTERÍSTICAS DA IGREJA COMO FAMÍLIA

            Vou caracterizar o que entendo por igreja como família. É óbvio que falo de uma família sadia, pois há famílias doentes. Como age uma igreja sadia que busca ser uma família sadia? Quais são suas marcas?

            Primeiro: Na família, as pessoas se conhecem, sabem seus nomes e têm vida em comum. Assim é a igreja família. As pessoas se conhecem, se relacionam, sabem seus nomes. Não é “aquele irmão que tem um Vectra azul”, mas “o irmão João”. Quando a igreja cresce, o risco de anonimato eclesiástico se acentua. Buscam-se alternativas para que isto não aconteça. O crente novo não é um estranho, mas um irmão bem-vindo. Um crente reclamou que em sua igreja havia muito crente novo e isto era ruim. As tradições dos antigos estavam ficando para trás. Quando um bebê chega a uma família, muitos hábitos são quebrados, e quando um casal chega a ter três ou quatro filhos, sem dúvida que muitos costumes do passado ficam para trás. Isto não desestabiliza, mas é sinal de vida. A igreja é um organismo, como a família é um organismo. Organismos mudam, adaptam-se, assumem riscos para sobreviver. A igreja deve se conhecer e se relacionar, mesmo às custas de mudança.

            Segundo: Numa família, as pessoas são diferentes, mas se relacionam e se respeitam. Não devemos buscar clones, mas respeitar e valorizar diferenças. Elas são saudáveis. Um homem me disse que tinha cinco filhos. Tantos quanto os dedos da mão. E eram diferentes, como os dedos da mão. Na igreja família, há espaço para diferenças, que ser vividas em respeito. Há semelhanças, e elas são boas também. Mas não devem ser forçadas. As diferenças devem ser vistas como saudáveis, porque permitem haver análise de problemas e situações por mais de um ângulo.

            Terceiro: Numa família, as pessoas são diferentes, mas têm traços comuns. Genéticos e culturais. Elas têm o mesmo pecúlio patrimonial e, sendo uma família sadia, o mesmo pecúlio emocional. Assim é a igreja. Temos o mesmo DNA espiritual, o mesmo sangue, o de Cristo. Temos a mesma herança cultural, que é nossa cultura denominacional e teológica. A diferença, citada no tópico anterior, não impede a semelhança. A igreja se compõe de pessoas diferentes, mas ao mesmo tempo, semelhantes. A semelhança é mais valorizada que a diferença, embora não seja forçada. Deve ser a semelhança de Cristo em nós.

            Quarto: Numa família, as pessoas se apóiam mutuamente. Jesus disse, em Mateus 12.25: “e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá”. Uma família dividida não subsiste. Por vezes, numa família, há até um senso de grupo que fecha os olhos ao erro. Um filho é acusado de crime hediondo, com todas as evidências contrárias a ele, mas o pai e a mãe dizem que é uma pessoa muito boa. Na igreja não deve haver corporativismo, mas apoio mútuo. Este é o sentido de Gálatas 6.2: “Levem os fardos pesados uns dos outros”. A solidariedade em oferecer apoio. Por vezes vemos uma igreja em que irmãos vivem de forma nababesca, enquanto outros passam necessidade. Como cristãos podem viver no luxo, sentando-se ao lado de alguém que não tem o que comer, na mesma igreja? Apoio mútuo significa oferecer o ombro amigo ao que sofre, aos irmãos que precisa de estímulo, caminhar ao lado de quem está com problema. Significa ter vida compartilhada. Sem ciúmes, sem invejas.

            Sexto: Significa viver em empatia. Empatia é o termo da Psicologia para designar o conhecimento de outra pessoa, principalmente do seu eu social, como se estivesse no lugar dela. É sentir o que outro sente. Como diz Romanos 12.15: “Alegrem-se com os que se alegram; chorem com os que choram”. Já começa a empatia com Cristo: “Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus” (Fp 2.5). A igreja deve ter o sentimento de Jesus. E deve ter este sentimento de Jesus no relacionamento com outros. O sentimento de submissão, de autodoação de humildade, de amor. A igreja não pode viver em função de programas, mas de amor em que cada um se coloca no lugar de outro. Sente a dor do outro, vibra com a alegria do outro. Há crentes em competição. O sucesso de um incomoda o outro. Não é assim. A dor de um é a dor de todos. A alegria de um é a alegria de todos.

            Sétimo e último: Numa família não deve haver brechas. Ela é fechada. Não admite rachaduras. Em casa, nós quatro sempre fomos muito unidos, fechados, nunca permitindo brechas em nosso relacionamento. A igreja é assim. Ela é uma família em bloco, resistente aos inimigos externos. Mexeu com um mexeu com todos. Atacou um, todos procuram protegê-lo. Quando Paulo escreveu aos coríntios, disse: “Meus irmãos, fui informado por alguns da casa de Cloe de que há divisões entre vocês” (1Co 1.11). A palavra grega tem o sentido de “fratura”. A igreja é o corpo de Cristo, mas o corpo de Cristo em Corinto estava fraturado. A igreja família evita os grupos, os partidos, rejeita os acionistas majoritários, os agitadores de bastidores. Ela é íntegra (e embora deva ser íntegra moralmente falando, não é neste sentido que uso a palavra), sem brechas, e permanece íntegra, sem brechas.

 

CONCLUSÃO

            Os cristãos impactaram o mundo por se mostrarem, numa época de divisionismo, como uma família unida. Um dos grandes oponentes do cristianismo foi o pagão Celso. Mas ele nos legou um belo testemunho a favor dos cristãos ao comentar seus hábitos, que ele achava estranhos. Segundo ele, os cristãos se viam como uma família, que traziam os feridos e os sem teto para casa e os tratavam como seus. Eles se relacionavam como uma família. Isto lhe era tão estranho!

            Outro pagão apenas comentou sobre os cristãos: “Vede como se amam!”. Isto é ser uma família. A igreja é uma família, mais que uma instituição! Ajamos para que nossas igrejas assim sejam! E tenho dito.

 


[1] COELHO FILHO, Isaltino. À igreja, com carinho. Campinas: Igreja Batista do Cambuí. 2ª. ed., 2006.

[2] SNYDER, Howard. Vinho novo, odres novos. S. Paulo: ABU Editora, 1997, p. 62

[3] A Secretaria da Igreja Batista do Cambuí tem cópia dos três estudos apresentados neste texto, em reuniões de estudo bíblico e oração.  Podem ser pedidos.

[4] HORREL, Scott. A essência da igreja. S. Paulo: Hagnos,  p. 130.

[5] Ib, ibidem, p. 79.

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