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A questão da liturgia

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A questão da liturgia

Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

 

INTRODUÇÃO

         Liturgia é palavra que nos vem do grego leitourgeía. Originariamente, o termo se usava para o serviço público.  Na democracia grega significava o serviço que um cidadão prestava ao povo. No Egito, na época dos Ptolomeus, significava o serviço público, inclusive remunerado. O litúrgico era o funcionário público.

         A LXX usa o termo para designar o serviço dos levitas no templo. A literatura grega-cristã a usou o termo liturgia para designar o culto cristão e seus ritos. Serviu para designar o culto público, em contraste com o culto privado.

         A busca de uma liturgia cristã nas páginas do Novo Testamento e nas da história da igreja primitiva será pouco frutífera. A igreja primitiva não sacralizou uma liturgia. Nos capítulos 9 e 10 do Didaquê (ano 90), vemos que o clímax do culto era a celebração da ceia do Senhor. No capítulo 8 há instruções sobre o batismo. E só. O capítulo 4 da Epístola a Diogneto (ano 150) trata do culto, mas alude somente aos sentimentos, não à forma. As Cartas de Inácio de Antioquia (primeira década do ano 100) mencionam a questão litúrgica, mas nunca tocando na questão de forma. Nas páginas do Novo Testamento é possível observar que a ênfase não está na atividade do homem, sequer no culto, mas naquilo que Deus, na pessoa de Jesus Cristo, fez pelo homem. Isto é significativo: a ênfase estava na ação de Deus. É triste que hoje se brigue por questões de forma, ou seja, como o homem deve se expressar diante de Deus. Abramos os olhos porque estas querelas interessam mais ao Diabo que à sã doutrina.

         É bem provável que eu consiga desagradar a todos, mas expresso minha convicção: acho ridículo que questões tão triviais ocupem nossa pauta de preocupações. O radicalismo das partes me impressiona. Infelizmente, não guardei o recorte, mas recordo-me de um artigo de uma pessoa, dessas que são intituladas de autoridade em ordens de culto, dizendo que "Deus não gosta de órgão". Nunca li isso na Bíblia. Sei que a questão é delicada e que a questão de música ainda vai nos ocupar por alguns anos, até que nos cansemos de discutir por isso e elejamos outro motivo.  Mas me preocupa que visões pessoais estejam querendo se impor como padrão, de ambos os lados: dos mais modernos e dos mais tradicionalistas.

 

1. VARIAÇÕES LITÚRGICAS EM NOSSO MEIO

         Simplifiquemos nossa linguagem, evitando o academismo e o tecniquês. De forma geral, podemos classificar em quatro categorias as práticas litúrgicas em nossas igrejas.

         A primeira é a que chamo de "solene". O coro veste becas, o oficiante usa terno escuro e o culto não tem partes anunciadas, pois está tudo no boletim. A hora de sentar e a de levantar estão designadas por asteriscos no boletim. Tudo está determinado e não há variações. Conheci um pastor que escreve os sermões, lê-os no púlpito, mas aos sábados vai ao salão de cultos para ensaiá-los. A hora de virar a cabeça, os gestos, a inflexão verbal, tudo está definido.

         A segunda é que chamo de "tradicional". Chamo-a assim porque é a da maioria das igrejas. Há uma ordem de culto preparada, mas não tanta rigidez. Há coros com becas, há hora de sentar e levantar, mas há mais pessoalidade no culto.

         A terceira é a que chamo de "espontânea". A congregação pode escolher hinos ou cânticos, há espaços para testemunhos, etc. O termo "espontânea" talvez não seja o melhor, porque algumas vezes há uma clara condução das pessoas numa direção. Mas uso-o porque o elemento congregacional é muito forte no culto.

         A quarta é uma absoluta ausência de qualquer ordem. "Quem cantar um corinho? Quem quer dar um testemunho?" e  as coisas acontecem  ao sabor do  momento. Por vezes até o pregador é escolhido na hora. O sermão, então, nem se fala. Escolhendo-se o pregador na hora, ele escolhe alguma coisa na hora.

         Qual delas está certa?

         Minha opinião: todas. Particularmente, sinto-me mais à vontade com a segunda e convivo com a primeira. Aceito a terceira e fujo da quarta, que fica para quem goste.  Mas sei que a forma de expressar o culto depende da cultura dos adoradores. E é difícil afirmar que esta ou aquela forma cultural é mais elevada que outra. Outro dia, uma senhora comentava, chocada, o hábito de algumas tribos amazônicas de furarem o nariz para usar um adorno. A dita senhora ostentava dois enormes brincos, um em cada orelha. Eis a diferença: a selvagem fura o nariz, a sofisticada fura a orelha. Cada uma fura uma parte do corpo para usar o enfeite. Parece-me com as brigas de Liliput e Blefusko, em As Viagens de Gulliver: uma nação cortava o ovo em cima, a outra cortava o ovo em baixo.

         Em princípio, não sacralizo uma forma de culto como a correta, embora tenha preferência pessoal. Sinto-me melhor numa igreja luterana, onde já estive algumas vezes, que numa igreja pentecostal, onde também já estive. Mas é meu gosto, minha cultura. Tenho receio porque vejo uma tentativa muito grande hoje de homogeneizar a denominação batista. Parece-me que uma das forças e vantagens do sistema congregacional é permitir que haja uma razoável dose de individualidade nas igrejas. E as pessoas devem se ajuntar a uma igreja onde tenham mais condições de expressar sua cultura.

 

2. DE ONDE VEIO NOSSA FORMA DE CULTO?

         É significativo que o Novo Testamento seja omisso quanto à forma de culto. Sendo o registro do nascimento da igreja, não deveria ele registrar o surgimento da forma de culto cristão?

         Os primeiros cristãos eram judeus e assim se consideravam. O cristianismo era tido como uma seita judaica. Em Atos 24.5, fala-se da "seita dos nazarenos". Em Atos 1.14 lemos que os seguidores de Jesus "perseveravam em oração". É o mesmo termo grego usado em Atos 16.13,16 para designar a reunião de oração judaica. Talvez os primeiros cristãos até pensassem numa reforma radical do judaísmo. Suas primeiras reuniões eram nas sinagogas. A partir de Atos 15 é que os dois caminhos ficam bem delineados. Entenderam os seguidores de Jesus que o vinho novo não podia ficar em recipientes velhos nem o vestido velho podia receber um remendo novo. Desta convivência inicial, a forma do culto cristão foi herdada da sinagoga. Aliás, é significativo que "não abandonando a nossa congregação", em Hebreus 10.25, é, literalmente, "não abandonando a nossa sinagoga".

         A sinagoga surgiu no período do exílio. Talvez durante o primeiro cativeiro. Outros julgam ter sido durante o período intertestamentário. Eram lugares de adoração e de estudo da Torah. Não havia sacrifícios, que só podiam ser oferecidos no templo.

         O culto da sinagoga era muito simples. Recitava-se a xemá, o maior tesouro teológico dos judeus (Dt 6.4) e se declaravam as bênçãos de Iahweh sobre Israel. Paulo segue o modelo da sinagoga em Efésios 1.3 e o Pedro o faz na 1a. carta, 1.3, modificando o termo "Deus e Pai de Israel" para "Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo". Veja-se novamente a semelhança entre a igreja e a sinagoga. Essas orações eram seguidas pelo "amém" coletivo da comunidade. Havia a leitura da Torah e, no Novo Testamento, vemos a leitura dos profetas, como Jesus fez em Lucas 4.17, ao ler Isaías 61.1. À leitura, seguia-se o sermão. Depois, deste havia cânticos.

         As sinagogas não eram clericais. Nota-se isso no convite feito a Jesus, em Lucas 4, e nos convites feitos a Paulo (Atos 13.14-15). Os visitantes eram honrados com o convite de trazerem uma palavra de exortação ao povo. A sinagoga era bem mais informal que o templo, portanto.  O ensino não era exclusividade sacerdotal.

         Na realidade, a sinagoga desdobra uma mudança na religião hebraica. Ela acompanha o judaísmo. Desde Neemias 8 que o hebraísmo deriva para o judaísmo, uma religião normatizada por um livro. O hebraísmo é calcado sobre o sacrifício. O judaísmo rabínico sobre o ensino das Escrituras. Na realidade, o judaísmo nasce com Esdras, "escriba hábil na lei de Moisés" (Ed 7.6).

         A postura que a igreja cristã adotou vem daqui: o púlpito tem lugar central porque a proclamação é central no evangelho. Não se diz "como ouvirão, se não há quem cante?", mas "como ouvirão, se não há quem pregue?" (Rm 10.14). O verbo grego é querissóntos, aludindo à pregação verbal.

         Há algum tempo que vimos ouvindo a crítica feita a uma declaração do passado. Antigamente, quando se ia apresentar o pregador, alguns poucos diziam que "era a parte mais importante do culto". Isso desagradou muito o pessoal da música (o pai do Pr. Dewey Mulholland, que foi pastor no Meio-Oeste americano, chamava o Depto. de Música de sua igreja de "departamento de guerra"). A oportunidade de questionar a declaração nunca foi deixada em branco. Não vou dizer que a pregação é mais importante que os cânticos, até porque muitas vezes o cântico está bem preparado e o sermão, não. Mas parece que esta repetição constante  depreciou a pregação em alguns segmentos. O carro-chefe de muitos cultos é o louvor e não mais a pregação. A palavra do homem tornou-se mais importante que a Palavra de Deus. Alguém dirá que o louvor também proclama. Sim, mas em boa parte das vezes, o que vê hoje é um louvor intimista, uma autêntica catarse espiritual, numa linguagem cifrada, que o não-crente não entende.

         Na realidade, a igreja primitiva estabeleceu sua forma de culto dentro da sua cultura, que era judaica. Não seguiu uma forma especial que lhe teria sido revelada por Deus, mas uma forma que era a sua cultura. Quero citar Shelley em A Igreja, o Povo de Deus: "A história da igreja, assim como o Novo Testamento, nos ensina que a igreja pode e tem sobrevivido às mudanças dos tempos e às culturas contrastantes, adaptando sua mensagem básica a formas diferentes. O critério final que define a igreja não é uma forma especial, mas o evangelho, ativado pelo Espírito Santo" (p. 58).

 

3. O SIGNIFICADO DO CULTO

         Em 1968, quando entrei no Seminário, ainda adolescente, me ensinaram que o modelo de culto está em Isaías 6. Um dias desses, vendo uma apostila atual, vi que ainda ensinam a mesma coisa. Em Isaías 6 temos alguns elementos que devem ser encontrados no culto, como a manifestação da presença de Deus, a convicção de pecado, a consagração de vida, o perdão, etc. Mas é duvidoso que Isaías quisesse nos deixar um modelo de culto para as igrejas ocidentais do século XXI. Talvez nem estivesse em culto público no momento. Podia ser um culto individual. Respeito o ensino, mas creio que o culto precisa de visão mais ampla que a mostrada no Antigo Testamento.

         Há vários cânticos no Apocalipse. Aliás, este é um livro de cânticos. Todos eles seguem numa linha: a glorificação, a exaltação do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo. Mas o contexto é diferente do nosso. É mais de redimidos na glória do que de salvos batalhando na terra.  

         Parece-me haver hoje muita preocupação com o que acontece com o adorador, como em Isaías 6. Mais do que como se porta ou do que com o que se diz, como no Apocalipse.

         Mas para uma análise humana, horizontal, do culto, fico com Martin, em Adoração na Igreja Primitiva: "Há três elementos principais: o louvor, a oração e a instrução" (p. 29). O problema hoje está em que há mais louvor que oração e instrução. Esta é a questão: por quê? Qual o significado disto?

         O culto deve ser sempre para a glória de Deus. A moderna liturgia se preocupa muito com o adorador, mais do que com Deus. "As igrejas recorrem a som, luzes, simbolismo, liturgia e encenação, a fim de provocar sentimentos emocionais no adorador. Os que participam tendem a avaliar o culto em termos de como ele os edificou ou fê-los sentir-se bem ou os inspirou" (Shelley, 81). Este é um problema: o que queremos com a liturgia? Viabilizar o culto ou manipular as pessoas? Não me preocupo tanto com a forma do culto, mas em como se usa o culto. Vejo em muitos dos cultos jovens e até mesmo em alguns pastores, a preocupação em exercer influências emocionais nas pessoas, mais que em oferecer culto a Deus. A liturgia manipuladora que visa despersonalizar as pessoas e levá-las a um estado de emocionalidade quase que descontrolada me parece pouco saudável.

        

4. QUESTÕES LITÚRGICAS PROPRIAMENTE DITAS

         Comecei no particular, fui para o geral e volto para o particular. Estamos enfrentando dificuldades com respeito às formas variadas de culto em nossas igrejas. Tenho me impressionado como a questão se avultou e como há artigos debatendo a questão. Mesmo ponderando várias vezes continuo com o mesmo ponto de vista: a questão está sendo superdimensionada. Nossos maiores problemas não estão aí. Também não creio que a ameaça de pentecostização das igrejas parta daí. Parte muito mais de igrejas com pouca vitalidade evangelística, missionária e doutrinária. Uma igreja batista sem vitalidade espiritual, sem visão evangelística e missionária, sem uma visão do todo batista, perdida na contemplação de si mesma, é presa fácil de heresias.

         A questão tem sido esta, simplificando: devem-se bater palmas no culto ou não? O som em alto volume é batista ou não? Os corinhos estão substituindo o hinário, é uma das queixas. Vamos por partes e vejamos algumas questões para pensarmos.

         Por que devemos cantar o hinário? Respostas: porque sempre foi assim. Porque é sinal de ser batista. Porque nele há segurança doutrinária (embora o CC trouxesse hino ensinando o sono da alma, doutrina não batista). Porque estamos acostumados. Porque é histórico. São essas respostas mais comuns. Não as deprecio nem ridicularizo.

         Converti-me há 45 anos. Aprendi os corinhos, então, na União de Intermediários. Já havia corinhos. São nocivos, para alguns. As razões: são em ritmo de roque, são pobres de letra, têm pé quebrado. São muito barulhentos. São razões boas e há outras mais. Mais são mais dinâmicos para os jovens. Têm ritmo mais ágil que mais os atrai e possibilita acompanharem a mensagem.

         Quanto ao ritmo, esta é uma questão muito delicada. Nós nos acostumamos a alguns deles. Há muita música secular do passado que foi sacralizada. Hoje, quando se faz isso, há muita gritaria. Quando a valsa foi lançada, foi um escândalo, na sua época. Hoje é tida como música clássica. No meu tempo, Elvis Presley era um demônio e Roberto Carlos, um desencaminhador de menores. Hoje são postos de lado como ingênuos. Os adolescentes os ignoram.

         Corinhos, em si, não são bons ou maus. Ensinaram-me no Seminário as diferenças entre "salmos, hinos e cânticos espirituais" de Efésios 5.19. Não sei se Paulo tinha em mente o que me ensinaram, mas vá lá. Tomemos por certo que Paulo queria dizer isso. O NT abre espaço para diversidade de estilo. Mas me parece que a questão maior está no fato de que entregamos a direção da música em nossas igrejas para gente sem preparo musical, sem noção de teologia, de português, de música, muitas vezes, e sem noção do poder da música. Quando olhamos o CC e o HCC, vemos que uma boa parte dos hinos foi composta por pastores. Manoel Avelino, Ginsburg, Pitrowsky e outros. Havia consistência doutrinária. Os pastores não estão mais compondo, salvo Werner Kaschel, Marcílio de Oliveira e algum outro. Assim mesmo, uma produção pequena. A omissão dos pastores em prover boa música está sendo suprida por gente bem intencionada, mas despreparada. A primeira coisa  a fazer: os pastores precisam voltar a compor, para oferecer alternativa. E, como se diz na gíria do futebol, precisam chegar juntos.

         Palmas, na igreja, deve haver ou não? Palmas são indícios de pentecostização? Batista bate palmas? Que batista bate palmas, não há dúvidas. Tenho visto muitos baterem. Que bater palmas seja início de pentecostização não é verídico. Há pentecostais que não o fazem. Novamente toco num ponto: o modismo. Alguém faz, outros passam a fazer. A questão deve seguir outro rumo: é necessário bater palmas? Honestamente: já vi cânticos cuja estrutura melódica praticamente exigia que se batesse palmas. Mas há outros em que não faz sentido algum. Convencionou-se que para um culto "descontraído" há que se bater palmas. É questão de se esclarecer. Numa igreja batista do Centro-Oeste, o pastor dissolveu uma reunião de oração porque os jovens se ajoelharam para orar. Aquele pastor acha que orar de joelhos é coisa de pentecostal. Isso me foi dito pelo próprio pastor. Tenho receio tanto de práticas que permitem posturas dúbias quanto de radicalizações de quaisquer lados. Por que não abrir um diálogo? Por que não reservar um espaço para os jovens: em suas reuniões, sintam-se à vontade, mas entendam que um culto público deve atender a todas as faixas etárias. Um problema muito sério hoje é a ditadura do jovem. Para não ter problemas com a mocidade, o pastor lhe entrega a direção da música. Lá se vão os famosos "grupos de louvor": pessoas com um microfone na boca, batendo com a mão na perna, cantando em alta voz, enquanto toda a congregação apenas os coadjuva.

         Entenda-se que onde falei "jovens" se pode entender "irmãos" ou "crentes" porque estas questões não se restringem a jovens.

         Pessoalmente, acho que bater palmas estraga a maior parte dos cânticos. O volume delas é maior do que o das vozes, irrita a um bom segmento da igreja e se se cantar sem batê-las, ninguém morre. Acho ainda que é banalidade e por vezes, até mediocridade. Mas entendo que para alguns pode fazer parte de sua cultura. Tenho esta postura que sempre expus e deixei claro por onde passo. Mas tenho visto que quando o culto é dinâmico, com a participação do povo, com muitos cânticos, com o povo podendo expressar sua fé e seu louvor, as palmas se tornam desnecessárias. Elas me parecem mais um par de muletas. Se o corpo está sadio não precisa delas.

         Bateria, sim ou não? Uma resposta que não é evasiva: em termos. De novo, a questão não é o instrumento, mas o uso dele. Um piano pode ser mal usado. Um órgão pode ser mal usado. Davi foi um inventor de instrumentos (Am 6.5). Talvez os tenha empregado em cultos. Não está predito que apenas um ou dois instrumentos devem ser usados. O Salmo 150 mostra um bom número de instrumentos para se usar no culto. Recomenda, inclusive a dança, o que não recomendo (não me ponham isto na boca). Entendo que a dança fazia parte daquela cultura, como expressão de louvor, o que não sucede na cultura ocidental, onde tomou uma conotação mais sensual. Com isso, estou repetindo que o culto traz muito da cultura dos cultuadores. Creio que precisamos entender isto. Não sou adepto de uma liturgia padrão, nem mesmo regional. As igrejas africanas são muito diferentes das americanas, por exemplo. Já preguei em igrejas chinesas e coreanas, com estilo bem distinto do nosso, copiado das igrejas americanas que nos trouxeram o evangelho. Creio que muitos sacralizaram o estilo e vêem-no como a única forma de culto. Cada igreja tem seu jeito de ser e muitas delas abrigam determinadas classes sociais em preponderância. Creio que o sistema congregacional precisa continuar respeitando a individualidade das igrejas. Buscar uma uniformidade de expressão e de práticas não fundamentais em nome de integridade denominacional vai trazer mais confusão que harmonia. Vai desintegrar mais. A questão da integridade denominacional não repousa, centralmente, sobre o louvor. Na realidade, ele é periférico. A questão da integridade denominacional repousa, basicamente, na visão do todo, do conjunto, da participação dentro de um grupo histórico, de origens dignificantes e que são motivo de júbilo: nossa herança batista, nossas ênfases, nossos princípios. 

         Temos bateria em nossa igreja, mas nunca foi mal usada. Há, quando utilizada, um nível de som e de ritmo. Toda a música está subordinada a uma pessoa, o ministro de Música. Nada se canta e nada se faz nesta área sem sua supervisão. Creio que muitas vezes falta diálogo e estabelecimento de regras claras. O pastor não se senta para conversar e, cordialmente, expõe seus pontos de vista e ouve. É possível chegar-se a um meio termo. O que não pode é cairmos em dois extremos: um, o culto anárquico, barulhento, para agradar a uns, desagradando a maioria. Outro, o culto que para alguns parece formal. Posso dar um exemplo: no tempo em que freqüentei a Memorial de Brasília, no pastorado Éber Vasconcelos, via um culto solene, mas dinâmico, em que a presença de jovens e adolescentes era muito forte. E sem cair na bagunça ou no estilo de missa. É possível haver um termo que agrade a todos. O segredo está no líder.

 

CONCLUSÃO

         Acho que não respondi muita coisa. É bom. Não tenho respostas prontas, mas estou disposto a analisar, para aprender. Algumas questões vim mostrando, ao longo da minha apresentação. Quero reafirmá-las e, a partir daqui, podemos debater o assunto:

1.  Creio que brigar por formas de culto não é a melhor política.  Estamos despendendo energias com questões que não são as mais importantes.

2.  Creio que não há uma liturgia oficial batista, mas que o sistema congregacional permite a variação de modelos.

3.  Creio que não há uma liturgia modelo nas páginas da Bíblia. Não há textos precisos e específicos sobre o assunto, mas inferências e deduções, onde pomos muito de nosso ponto de vista.

4.  Creio que a forma de se expressar a fé está ligada à cultura do grupo.

5.  Creio que os pastores precisamos tomar as rédeas da música na mão e não deixá-las nas mãos de gente inexperiente e despreparada.

6.  Creio que os pastores precisam voltar a compor.

7.  Creio que o carro-chefe do culto ainda é a proclamação do evangelho. Creio que o louvor tem lugar de destaque no culto, mas não pode ser transformado numa catarse.

8.  Creio que o problema de pentecostização não surge mais daí do que de igrejas frias, sem visão evangelística e missionária.

9.  Creio que o pastor deve deixar bem clara e definida sua posição com respeito à liturgia e que sua orientação deve ser acatada.

10.Creio que há espaço para variedade de instrumentos no culto, obedecendo-se a critérios de ordem.

11.Não creio que palmas sejam mostra de falta de doutrina batista. Particularmente não gosto delas e nos cultos públicos de minha igreja, se há espaço para elas, não seduzem a maioria da congregação, que acaba imitando seu pastor.

12.Creio que a melhor maneira de neutralizar tudo isto é um culto dinâmico, com maior participação congregacional, com espaço para o povo manifestar sua fé, seu júbilo e suas preocupações. Há uma dicotomia injusta: o culto tradicional, com hinos de hinários, é "careta", e cultos com corinhos, palmas e baterias são dinâmicos. O dinamismo não está aí. É preciso acabar com esta visão maniqueísta

13.Creio que tudo na igreja deve ser feito para a glória de Deus. Principalmente o louvor. Louvor onde pessoas aparecem mais do que o louvado deve ser banido.

 

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