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Uma foto que me angustiou

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Uma foto que me angustiou

 

            Há duas lojas de livros usados que Meacir e eu visitamos aos sábados de manhã, em Campinas. Cada um adquire um livro que lerá na semana. Ela comprou “O proprietário”, de Galsworthy, para ler numa de nossas viagens. Dentro veio uma foto, que me impactou muito. Alguém a esqueceu. A foto é antiga, preto e branco, e tem manchas. Um casal, na casa dos 80 anos, segura um bebê, que deve ser seu bisneto. Os semblantes são europeus. O bebê, menino, deve estar hoje com mais de 40 anos, pelo estado da foto. O casal deve ter morrido.

            Quem são? Não sei. Não há nome nela nem no livro. Pensei em jogar a foto fora, mas seria um assassinato emocional. Seria como se liquidasse as vidas dos anciãos. O bebê pode estar vivo, hoje adulto. Mas eles já se foram. Só existem na foto. Talvez o último vestígio deles na terra estivesse em minhas mãos. Que faço com a foto? Não sei a quem devolver! Guardá-la? Daqui a 30 anos alguém a encontrará entre meus guardados e perguntará: “Quem são?”. Descartá-la? Liquidaria o relacionamento deles com o bebê. A foto é do tempo em que fotografia era raridade.

            Aquelas pessoas amaram, riram, choraram. Foram importantes para alguém. Existem num papel na mão de um desconhecido. Por trás da foto, sonhos, amores, projetos. Eles olham para o bebê com amor. Nada mais existe. Fiquei deprimido. Como é a vida! Julgamo-nos tão importantes! Falamos sobre tantas coisas e tanta gente, temos a vida de outros em nossas mãos. Mas seremos apenas uma foto amarelada, lembrada por parentes. Outros não serão nada. Hoje, ilustres desconhecidos. Amanhã, desconhecidos.

            “Que é a vossa vida? Sois um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece” (Tg 4.14). Esta palavra foi dirigida aos que se julgavam importantes, esquecidos que não eram nada aos olhos de Deus e que a vida depende dele. Faziam planos e projetos seguindo sua cabeça, esquecidos da vontade de Deus. E Tiago continua: “Em lugar disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo” (Tg 4.15).

            Talvez você seja importante aos olhos humanos. Ou dentro da pregação de auto-ajuda que diz que Deus se abala e corre para satisfazer nossos caprichos. É candidato a fotografia desbotada. Por mais famosos que sejamos, um dia seremos passado. Como uma adolescente que me ouvindo falar de Elvis Presley, perguntou: “Quem foi ele?”.

            Há um que não passa, Jesus Cristo. O mundo amarelece e recebe manchas, mas ele brilha. A mais fantástica pessoa, o mais extraordinário vulto da história. Ele nunca é passado, porque continua fascinando no presente, transformando vidas, mudando histórias. Ele é o futuro porque “Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro, o princípio e o fim” (Ap 22.13).

            A foto dos simpáticos velhinhos com o bebê me deprimiu, pela reflexão que acabei fazendo. O hábito de filosofar é angustiante. Mas a lembrança de que há um Salvador e Senhor, Jesus Cristo, me soergue. Tudo está na mão dele, tudo terminará nele.

            E os ímpios, os que o desprezam e fazem o mal, estes sim, serão apenas uma foto desgastada, no anonimato que merecem. Quanto aos justos, diz Mateus 13.43: “Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça”.

            Não seja uma foto descorada amanhã. Dê seu futuro a Jesus. Você nunca se apagará.

 

Isaltino Gomes Coelho Filho

 

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