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O Otimismo Correto

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O Otimismo Correto

 

Isaltino Gomes Coelho Filho *

 

         Uma das coisas boas que aprendi do Pr. Xavier foi o gosto pelas obras de Eugene Petersen, a quem ele admirava. Por conta disto adquiri Trovão inverso – o livro do Apocalipse e a oração imaginativa, deste autor. Lê-lo me ajudou muito. Li-o devagarinho, conectando com outras leituras feitas e informações guardadas comigo.

         Um dos capítulos é “A última palavra sobre salvação”. Nele Petersen faz uma avaliação da salvação bíblica e da salvação que os homens apregoam. Ele começa do ponto certo: a queda. Não se pode falar de salvação sem falar de queda. A teologia cristã sadia fala da queda. O homem caiu. É acaciano, mas é bom afirmar, a queda é para baixo; não se cai para cima. A queda trouxe transtorno e, assim, o mundo que temos não é o mundo ideal de Deus, mas o mundo contaminado pelo pecado.

         Petersen analisa, com profundidade e simplicidade, o termo hebraico para salvação e fala do substituto do mundo para o ensino bíblico de salvação: otimismo. Cita dois tipos de otimismo, o moral e o tecnológico. No primeiro vem a idéia de que boa vontade, determinação e aplicação de fórmulas e conceitos à montanha de injustiça, maldade e corrupção que nos cerca acabará nos redimindo. É atraente porque apela para a bondade humana, tece loas a nós mesmos, mostra como somos bons e estamos incomodados com a injustiça e queremos um mundo melhor. Massageia o nosso ego. As pessoas se sentem bem, conseguem manter Deus à distância e continuam em seus esforços inúteis para redimir o homem. Curioso: o que causou a queda, o querer ser como Deus, perpetua a queda. O homem continua querendo fazer o papel de Deus, tentando ser seu próprio redentor.

         Uma máxima maçônica diz: “A maçonaria escolhe os homens bons e os torna melhores”. Filha do Iluminismo, pregoeira da razão e crente na ciência e na bondade humana, a maçonaria é coerente com seus pressupostos ao dizer isto. Mas, numa curta frase comete dois erros teológicos. O primeiro é presumir que existam homens bons, quando a Bíblia diz que não os há (1Rs 8.46, Rm 3.23). “Não há justo, nem sequer um” (Rm 3.10). O segundo é presumir que os homens podem se tornar bons. Jeremias 13.23 é um texto enfático em negar a possibilidade que venhamos a ser bons por nós mesmos. O erro do otimismo moral nesta máxima é crer na bondade inata do homem e desprezar a graça de Deus. Não há possibilidade de melhora sem a graça, sem o poder de Deus operando na vida do pecador.  O otimismo humano mantém Deus a distância por desconsiderar a graça. É otimismo pecaminoso.

         O otimismo tecnológico é mais ingênuo. Crê que máquinas e aparelhos nos melhorarão. É a visão superficial de que a tecnologia é redentora. Se temos remédios que debelam doenças antes mortais e máquinas que nos favorecem a vida, também temos máquinas mais mortais.   Em 2001, uma odisséia no espaço, o primeiro artefato de guerra é um osso, usado por um macaco. Hoje temos armas nucleares. Que não matam um, mas milhares de uma vez.

         Falta a ambos os tipos de otimismo o discernimento bíblico da maldade inata do homem (Gn 6.4 e Sl 51.5). Só há um otimismo possível, o que é produto da graça. Deus pode transformar as pessoas, pela sua graça e pelo seu poder. Mas, é curioso: as pessoas temem mais a graça que o mal. Porque a graça declara nossa falência. Ela torna inútil toda a nossa discurseira filosófica e sociológica. A alternativa é a graça de Deus. Quem conhece a Bíblia não é otimista sobre o homem. Como disse Billy Graham: “o homem é exatamente o que a Bíblia diz que ele é”. Mas quem conhece a Bíblia tem o otimismo correto. Deus está fazendo um mundo novo na pessoa de Jesus Cristo. “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21.5). Os fundamentalistas de esquerda me chamarão de biblicista (agradeço-lhes a honra), mas insisto neste ponto: o otimismo correto só pode surgir se olharmos para Jesus Cristo, o reconstrutor da nova ordem de Deus. “Se alguém está em Cristo, nova criação é” (2Co 5.17).

         Não há esperança para este mundo fora do evangelho de Jesus. Querer melhorar o mundo pela ciência ou pelo aperfeiçoamento do homem pelo homem é como alguém que tenta se levantar puxando os cordões dos sapatos. A possibilidade de melhora está em Cristo. Fora dele não há possibilidade alguma, apenas otimismo ingênuo.

         O otimismo correto se firmou numa manhã de domingo, quando o ocupante de um túmulo dele saiu. O otimismo correto é porque Cristo venceu os poderes malignos e nos assegura sua vitória final. O otimismo correto existe porque Cristo vive e voltará em poder e glória.

         Tecnologia e investimento cultural são muitos bons e necessários. Mas a pregação do evangelho que chama ao arrependimento e ao compromisso com Jesus é a maior base para o otimismo. Sem este evangelho, o futuro é obscuro.  A igreja deve nutrir o otimista correto. O outro é uma canoa furada…

 

* www.isaltino.com.br

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