Deus cuida dos pardais (mas eu dou comida para eles)
Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
Deixei o pastorado da IB do Cambuí após um período de quase nove anos e mudei-me para uma casa que possuo, no entorno de Brasília. Para deixar murchos os fofoqueiros de plantão: não fui mandado embora nem estou em pecado. Deixei o pastorado por questão de visão ministerial.
A casa estava alugada e depredada. Reformá-la tem sido uma tarefa custosa e lenta, mas agradável. Minha rotina de vida, além de ver minha esposa gerenciar a reforma da casa (nisto eu sou bom: ver os outros trabalharem), tem sido múltipla. Dei-me um semestre sabático, que tem sido bom para todos nós. Tempo para ler, escrever, meditar, buscar a Deus, crescer espiritual e emocionalmente, curtir a família. Moro em frente à casa de meu irmão, o Pr. Isaías, e batemos longos papos. Moro a uma quadra da casa do meu pai e vemo-nos regularmente. E tenho mais tempo para mim e para Meacir.
Readquiri um hábito de quando morei em Brasília anteriormente: dar comida a pardais. Começo cedo, com os farelos do pão do café da manhã. Comprei alpiste e painço, misturo-os, esfarelo miolo de pão e jogo na frente da casa, na calçada e na garagem. Se demoro, eles reclamam: vêm piar na porta da cozinha. Coloquei uma tigela com água para eles, porque os vi bebendo água que corria pela rua, oriunda de lavagem de uma varanda. Dei-lhes água limpa. A casa do mano é um sobrado e tem muitos beirais. Lá eles fazem o ninho. No Salmo 84.3, os pardais fizeram ninho na casa do Senhor. Aqui fizeram na casa do pastor. Atravessam a rua e vêm comer na minha casa. São pardais pastorais. Dormem na casa de um pastor e comem e bebem na de outro.
Deus cuida dos pardais e de todos os passarinhos (Mt 10.29, Lc 12.6). Mas eu dou comida e água para eles. Da mesma maneira, Deus cuida de todos nós, mas por vezes se vale de outras pessoas. Deus vela pelo seu reino, mas se vale de nós. Como aconteceu com uma igreja que, em ocasião de forte vendaval, teve o telhado destruído. O tesoureiro, no domingo seguinte, informou à igreja quanto ficaria reconstruir o telhado. Um valor elevado. E disse mais: “Tenho duas notícias, uma boa e outra má. A boa é que já temos os recursos para o novo telhado”. Estrugiram “Aleluia!” e “Glória a Deus”. Os pardais que moravam nos beirais que ainda existiam levantaram vôo. “A má”, disse ele, “é que os recursos estão nos bolsos dos irmãos”. Todo mundo murchou.
Os recursos para a obra de Deus estão com o povo de Deus. Não precisamos de churrascos, bingos, rifas, e outras coisas para levantar recursos para a obra de Deus. Ele estabeleceu que são dízimos e ofertas. O dinheiro para a obra de Deus está com o povo de Deus.
Uma menina, filha de um crente muito rico, disse certa vez, ao pai: “Pai, eu queria ser Deus”. O pai, curioso, indagou: “Para que, filha?”. Ela respondeu: “Eu atenderia suas orações para que Deus cuidasse dos pobres usando o dinheiro que o senhor tem”.
Deus cuida dos pardais que moram na minha quadra. Mas eu lhes dou comida e água. Deus cuida da sua obra, dos missionários, dos seminaristas, dos obreiros, das igrejas. Mas quem deve lhes prover os recursos são os crentes.
“Meus” pardais estão felizes. Bem alimentados. Deus cuida deles. E eu faço o que posso. Faça tudo que puder pelo reino de Deus.