Não sou o autor do titulo acima. Ele pertence a um colunista da Internet, que postou um artigo assim intitulado, no dia 16 de fevereiro. Refere-se à brasileira Paula Oliveira, que alegou ter sido atacada por simpatizantes do nazismo, que a espancaram, fizeram-na abortar de gêmeos e marcaram seu corpo com as iniciais de um partido político suíço. Quando os suíços desconfiaram e começaram a contestar a versão de Paula, o articulista escreveu sua coluna. Um dos argumentos que ele utilizou foi que a Suíça é o país que mais lava dinheiro sujo no mundo. Mas acho que empatou, pois dizem que parte deste dinheiro supostamente sai do Brasil (“dizem” e “supostamente”, até para evitar processos, pois não sou Jarbas Vasconcelos que diz e todo mundo “fica na encolha”). Lavadora e sujadores se igualam. Só se lava alguma coisa porque alguém sujou…
Apesar do portuguesíssimo “Gomes Coelho”, do qual me orgulho, descendo de suíços. Meu sobrenome materno seria Werdan, e a família de minha mãe veio de Gruyéres. Sou dos Werdan, de S. José de Ubá, RJ. Por isso, brasileiro (sem me envergonhar) e descendente de suíços, fiquei na minha, esperando o desenrolar dos fatos. Salvei várias reportagens para depois analisar com calma. E, finda a história, com a brasileira confessando que nunca esteve grávida, nunca foi espancada por skinheads (cabeças raspadas), que se automutilara, e não os corvos, decidi deixar alguns registros aqui.
O que impressionou mais que tudo foi a precipitação das pessoas em formar juízo sem ter todos os fatos em mãos. Como se posicionaram sem ouvir os dois lados. Coitados dos suíços! Como foram criticados! Quem lesse algumas opiniões pensaria que na Suíça o esporte predileto, como cá é o futebol, é a caça aos estrangeiros.
Uma sucessão de non sense veio em seguida. Veio no “Folha Online”, de 12 de fevereiro: “O ministro Paulo Vannuchi, da SEDH (Secretaria Especial dos Direitos Humanos), afirmou nesta quinta-feira que o caso da brasileira agredida na Suíça por três homens brancos e carecas que pareciam skinheads traz de volta ´˜o horror do holocausto´”. Em outro artigo do “Folha”, lê-se: “O Ministério das Relações Exteriores do Brasil declarou que o crime pode ter motivação racial. De acordo com o Itamaraty, os criminosos a levaram a uma área deserta perto da estação, onde as agressões foram cometidas. Um dos homens teria uma inscrição neonazista tatuada na cabeça”.
No dia 13 de fevereiro veio esta nota na Internet: “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira (12) que ´˜o governo brasileiro não pode aceitar e não pode ficar calado diante de tamanha violência contra uma brasileira no exterior´, ao comentar o caso da bacharel (sic) em direito brasileira Paula Oliveira”.
Brasileiros residentes na Suíça queriam fazer uma passeata, saindo do Palácio da Justiça, em Zurique, com cartazes e faixas protestando contra a violência contra a brasileira.
Até a Igreja Católica se meteu na história. Lê-se na Internet, no dia 13 de fevereiro: “O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Geraldo Lyrio Rocha, classificou nesta sexta-feira de um ´˜ato de barbárie´ o caso da brasileira Paula Oliveira, 26, que afirma ter sido agredida por skinheads na Suíça. Dom Geraldo criticou a versão divulgada pela polícia suíça sobre o episódio, sugerindo que a brasileira tenha se automutilado – ao invés de ter sido atacada por neonazistas. ´˜Nós não deveríamos desfocar a discussão. O que foi cometido é um ato bárbaro, é isso que a polícia tem que investigar´, afirmou o bispo”.
Agora, tudo desmentido. Paula confessou: não esteve grávida, não foi espancada, autorretalhou-se, o resultado de gravidez por ultrassom que enviou aos amigos foi tirado da Internet. Seu noivo desapareceu e a verdade se estabeleceu. Segundo dizem (e precisa se provar, também) ela se mutilou pensando em ter visto permanente na Suíça (perdera filhos que seriam suíços) ou atrás de uma recompensa.
Nossa mídia, mais uma vez estabanada, demonizou os suíços, a CNBB, mais uma vez, emitiu opinião sobre o que não entende e fez papel de tola, Lula fez seu papel habitual, o Itamaraty idem, e agora é se fingir de morto, para ver se o assunto esfria.
Lá fora o assunto não foi esquecido. O periódico “Neue Zurcher Zeitung” ironizou o presidente Lula da Silva e alertou que a mídia brasileira “regularmente publica notícias de fatos totalmente inventados, acusações que já destruíram a vida de outras pessoas”. Afinal, Lula havia ameaçado até recorrer a organismos internacionais. E o Ministro de Relações Exteriores, distante da sobriedade do Barão do Rio Branco, deu declarações que deveriam ser evitadas por alguém na sua posição. As de Lula também deveriam ser mais comedidas, devido à sua posição pública.
Mas, gente, como isso, mutatis mutandis, acontece em nossas igrejas! Como se emite juízo estabanado, precipitado, como se demonizam pessoas, e até obreiros, por ouvir falar. Alguém comenta algo que é aumentado, passado para frente, se alastra e o coitado fica marcado para o resto da vida. Isto tem um nome: fofoca. E seu inspirador é o Diabo. Mas a fofoca parece ser o esporte predileto dos crentes.
Numa ocasião passei uns dias na praia com minha esposa, e hospedamo-nos num hotel de propriedade de batistas. Na praia, corri para um mergulho, mas não sabia que sob as águas havia pedras cobertas de mariscos. Cortei profundamente os dois pés, a ponto de não poder pisar direito e regressei ao hotel mancando dos dois lados, e amparando-me em minha esposa. Fiquei sabendo depois que a dona do hotel disse que eu havia bebido tanto que voltei carregado por Meacir. Nada me foi perguntado, mas o comentário foi feito. Não estranhei, pois já me habituei com este procedimento. Há crentes sempre esperando o pior dos irmãos, e quando vêem ou supõem algo, imediatamente alastram as notícias.
Eu pastoreava uma igreja e convidei um obreiro para pastorear uma das nossas congregações. Na semana anterior à sua posse recebi um telefonema de uma pessoa que não se identificou, mas o acusou de adúltero e de ladrão. Teria dado desfalque na igreja onde fora pastor. Pedi que pusesse tudo num papel, assinasse, reconhecesse firma e me enviasse, pois tomaria providências. Disse-me a pessoa: “Não quero me comprometer”. Respondi apenas: “Você é um fofoqueiro!” e desliguei o telefone. Telefonemas anônimos, emails com remetentes falsos, cartas anônimas ou com pseudônimos, tudo isso é coisa do Maligno. E de alguns membros de igreja, também. Infelizmente. Quem tem uma verdade para dizer assume-a publicamente, não a cochicha deturpada em bastidores. Isso não é de crentes, sequer de pessoas de caráter.
Uma vez fui duramente acusado numa igreja, que anos mais tarde votou em assembléia me pedir perdão. Mas fui exposto publicamente e a carta foi privada e não tornada pública. O mentor da acusação, que saiu pedindo minha cabeça à Ordem dos Pastores e nas instituições onde eu trabalhava, anos mais tarde veio me pedir desculpas num banheiro de assembléia convencional. Difamou em publicou, desculpou-se em privado. Há anos que tenho estas coisas entaladas na garganta. Não por ódio, mas por perplexidade. Não é assim que crentes agem. Primeiro, eles não difamam. E depois, quando erram, pedem desculpas públicas.
Comentários estabanados podem destruir uma vida. Podem macular uma honra. E honra não é lenço de caixa de papel, que tirando-se um, surge outro. Uma vez sujada por alguém fica difícil limpar.
“Não te precipites com a tua boca” (Ec 5.2) mesmo tirada do contexto, que é de fazer promessas a Deus, tem validade. Cuidado com o que falar sobre a vida dos outros.