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O desabamento do teto da renascer

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O desabamento do teto da renascer

Isaltino Gomes Coelho Filho

 

            Os leitores são sabedores do evento e por isso não é necessário despender espaço sobre o aspecto físico do desabamento do teto de uma igreja da Renascer, em S. Paulo. Quero comentar alguma coisa sobre os desdobramentos do episódio e peço a sua reflexão como cristãos norteados pelos ensinos de Jesus e não como simpatizantes ou discordantes da citada denominação.

            O frenesi com que a mídia se lançou ao evento, relembrando inclusive que os responsáveis pela seita neopentecostal cumprem pena nos Estados Unidos, era de se esperar. A mídia é hostil aos evangélicos. Mas é uma questão desfocada. O desabamento é um evento à parte da pena (justa, por sinal, porque os responsáveis transgrediram as leis daquele país). A associação do ato ilegal do casal com o acidente e as mortes das pessoas não tem conexão. Foi mais uma tentativa de trazer um aspecto negativo (a justa prisão) ao evento chocante, o acidente. Assim se carreou mais impopularidade para a Renascer. Uma atitude imoral da mídia. A prisão do casal e o acidente nada têm a ver um com o outro. Bem disse a episcopesa (ou episcopisa, mas nunca bispa) Sonia que havia mais gente preocupada em vender jornal e conquistar audiência que com a verdade. O desabamento das arquibancadas do estádio Fonte Nova e do estádio de S. Januário não tiveram esta cobertura. Em poucos dias estavam relegados ao esquecimento. E me ajudem: quem foi punido? O episódio da igreja está rendendo. Estão vistoriando os demais templos da Renascer e querendo impedir suas reuniões. Vistoriaram os demais estádios? Estão vistoriando boates, casas de espetáculos, quadras de escolas de samba? Se estão, ótimo. Se não, façam-no com o mesmo rigor.

            A postura dos políticos evangélicos quando da tentativa de enquadrar os locais de reuniões públicas dentro de critérios de segurança estabelecidos pela municipalidade foi imoral. Eles se preocuparam em livrar as igrejas evangélicas do enquadramento, quando deveriam ter trabalhado não para livrá-las, mas ajustá-las a cumprir a lei. Um deles disse, inclusive, que defendia as igrejas evangélicas. E deu sua justificativa: 95% delas estavam irregulares e todas fechariam. É lamentável que igrejas dêem mau exemplo, descumprindo a lei. Se estavam irregulares, que se regularizassem. Quando burlamos as leis perdemos a autoridade moral que vem da decência pública. Houve um tempo em que a igreja de Cristo, a verdadeira igreja de Cristo, não precisava de defensores humanos nem manipulava cordéis em bastidores. Ela confiava no poder de Deus e cumpria as leis que não conflitavam com a sua consciência cristã. Não podemos abandonar a ética, a retidão, a decência e o cumprimento das leis quando somos atingidos pela lei. A Universal do Reino de Deus, em 1997, apoiou José Serra em sua candidatura ao Senado. O Pr. Ronaldo Didini, que na revista “Cristianismo Hoje” (dezembro2008/janeiro2009) diz que “A teologia da prosperidade é demoníaca”, na época defendia esta teologia e sua maior proponente, a Universal. Disse candidamente que Serra foi apoiado porque a igreja temia ser prejudicada em seus projetos (revista “Veja”, de 20.8.97). Para prosperar valiam a pena os conchavos políticos. Esta mentalidade continua. Para sermos beneficiados, mexam-se os pauzinhos…

            Políticos evangélicos não devem ser despachantes das igrejas evangélicas, mas homens retos, íntegros, que ajam como cristãos na política. Que digam “não” a práticas políticas erradas. E que digam “não” a atitudes erradas das igrejas, quando estas quiserem se aproveitar deles e contornar a lei.

             Há pastores que pulam de igreja em igreja, e mudam de doutrina conforme sua conveniência. Mas se mudam de cor eclesiástica e de posição doutrinária, continuam com a mesma visão de não entender que a ética ocupa lugar preponderante no cristianismo.

             De repente, quando se pensa que as coisas já estão bastante tumultuadas e enfocadas de modo emocional, surge a episcopesa Sônia e ameaça os críticos, dizendo que eles serão perseguidos pela igreja. Leio sua palavra no “Correio Braziliense” (com “z”mesmo, em homenagem ao primeiro jornal brasileiro): “É bom não mexer conosco, ou nos levantaremos para perseguir nossos inimigos assim como nos perseguem” (Caderno Brasil, 26.1.9, p. 8). Que declaração lamentável!  E o ensino bíblico que diz “A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas dignas, perante todos os homens” (Rm 12.17)? E Romanos 12.19: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados…”? E como fazer com Romanos 12.14: “Abençoai aos que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis”? O Pr. Didini, quando da crise das tevês Record e Globo, disse que com eles não havia esse negócio de dar a outra face. Era olho por olho. Mas e o ensino de Jesus, tão claro, em Mateus 5.38-48?

            Não podemos desprezar as declarações claras sobre ética e relacionamentos do Novo Testamento e seguir os impulsos carnais de líderes (como eu tenho os meus impulsos carnais, e luto contra eles). Pastores e demais líderes devem se colocar sob a autoridade das Escrituras. As igrejas e seus líderes estão debaixo da autoridade das Escrituras e devem agir em consonância com elas. Nossos impulsos, nossa maneira de agir, nossa vida, enfim, devem ser subordinados à Palavra de Deus.

            Estão errados os que se aproveitam do evento para denegrir a imagem da igreja. Discordo dela em suas práticas (muitas delas antineotestamentárias) e em atitudes que não mostram o crivo da Bíblia estabelecendo o rumo. Mas apedrejá-la por este evento, não. No que ela errou, desprezando leis e transgredindo postura municipal, que seja criticada. Mas querer restringir sua ação, seu direito de expressar seu culto e tentar obstar outros cultos só por serem dela, está errado. E está errada a igreja, não só ela, mas todas as demais, que contornam leis, que elegem homens para facilitar sua vida, e que negaceiam os valores éticos, valendo-se de atalhos que nem sempre se mostram compatíveis com o caráter cristão.

            Se a igreja é de Cristo, que aja como Cristo agiria. Cumprindo a lei, dando exemplo de moralidade, amando, e nunca odiando nem forçando situações. A igreja de Jesus precisa ser correta e depender, mais que de políticos, do poder e da graça de Deus. E deve ser modelo de cidadania. Nós devemos ser a luz do mundo. E se esta luz for trevas, quão grandes serão tais trevas!

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