Apresentar um livro do Pr. Vanderlei Marins é ponto no currículo. Quem o conhece, respeita-o e sabe de sua integridade ministerial. Tempos atrás, pediram-me os nomes dois obreiros que, eu entendia, melhor personificavam o ministério pastoral. Citei dois, João Falcão Sobrinho, com quem me converti, com quem me decidi para o ministério e que moldou minha vida cristã, e Vanderlei Marins, com quem convivi esparsamente, mas o suficiente para me impressionar com seu caráter.
A impressão se robustece a cada contato e mais ainda na leitura dos originais de Excelência no Ministério Pastoral. Sobretudo porque o autor cumpriu o que prometeu, comunicar mais que conceitos e “compartilhar convicções”. Isto tem faltado ao ministério: convicções. Há conveniências de sobra. Gente sem rumo, sem projeto, desejando apenas notoriedade e, para tal fim, comprometendo a dignidade do ministério pastoral. No capítulo “Atuação do pastor”, Vanderlei já põe as cartas na mesa. Pelo dedo se conhece o gigante, pelas linhas iniciais se conhece um bom livro. Como é bom ler alguém dizer que o pastor precisa entender que a igreja está acima dele! Há pastores que usam a igreja, que contornam sua autoridade, que não a amam, mas apenas a seus ministérios. A igreja está acima de nós. Ela é de Cristo e o pastor não é seu dono, mas apenas toma conta dela para o Dono.
Foi bom ser lembrado que o pastor transita entre o cortejo e a solidão. Lembrei-me de um email que recebi certa vez: “Pastor, às vezes você chora e ninguém vê suas lágrimas; você ri, mas ninguém vê seu sorriso; mas, cometa uma falha…”. É verdade. Do cortejo ao abandono, da popularidade ao tornar-se alvo de comentários mesquinhos. Por vezes, de colegas. A solidão do ministro do evangelho é profundamente dolorida. Só quem a experimentou sabe o quanto dói… Somos, como diz o autor, “alvos da incompreensão humana e da assistência divina”. É bom recordar-nos isto, caro amigo.
O tópico sobre “Pregação contextualizada” merece atenção especial. O púlpito é ferramenta de instrução e de edificação, e não pode ser banalizado ou desperdiçado. Alguém, com um pouco de maldade, definiu o pastor como “Um homem invisível durante a semana e irrelevante aos domingos”. Se o púlpito é levado a sério, o pastor não é irrelevante. E se o pastor, como alerta o Pr. Vanderlei, cuida de pessoas, como Jesus fazia, não será invisível durante a semana.
“Caminhos de crescimento” é um capítulo para ser bem pensado. O pastor nunca é um projeto terminado. Usando uma palavra da qual Darci Ribeiro gostava, está sempre em “fazimento”. Sempre deve aprender. Lembrei-me de Paulo, em sua segunda carta a Timóteo, pedindo que este lhe trouxesse “os livros, principalmente os pergaminhos” (2Tm 4.13). Os estudiosos dizem que “livros” era um termo geral, e “pergaminhos”, os escritos sagrados. O Pr. Vanderlei comenta que esta carta “é uma espécie de adeus do apóstolo”, no que está muito certo. No seu adeus, Paulo ainda quer estudar.
O estudo não pode ser diletantismo nem transformar o pastor num livre pensador. Como diz o autor, “precisamos, sim, é de fiéis teólogos, que façam conclusões bíblicas e não simulem aplicações que sejam apenas para forjar na mente do povo seus interesses”. O estudo é para que o homem de Deus seja aprovado, não tenha do que se envergonhar. Que seja um homem da Revelação, que interprete as correntes de pensamentos seculares pela Bíblia, e não o contrário. Um dia desses, um obreiro tentava dar uma visão socialista das Escrituras. Perguntei qual era a diferença dele para os teólogos alemães que deram uma visão ariana das Escrituras e criaram o “cristianismo alemão”. Ele estava sancionando o “cristianismo cubano ou coreano”, qualquer um desses regimes falidos. Não havia diferença hermenêutica. A diferença é que o nazismo era um defunto já sepultado, e o socialismo é um defunto que se recusa a morrer. Ou se recusam a sepultá-lo. Nos dois casos, faltou o que diz o colega: subordinar tudo à Revelação, que nunca será sepultada.
Poderia dizer mais, mas o livro é dele, e não meu. Por isso, encerro com sua lembrança de que “A Teologia tem de nos despertar para um relacionamento pessoal e verdadeiro com Deus”. Estudos teológicos que enfermam são, no mínimo, estranhos. Porque Teologia não é falar de Deus, apenas, mas falar com Deus, também. A primeira vez que alguém falou de Deus na terceira pessoa foi no Éden. Foi a serpente. Não deu boa coisa. A serpente continua a fazer teologia, em nosso tempo. Que se fuja desta teóloga.
Em suma: um livro bom, inspirador, e que fazia falta. Pelo conteúdo e pelo autor. O Pr. Vanderlei Batista Marins nos devia esta obra.
Isaltino Gomes Coelho Filho
Leitor crítico, com capacidade de discernir o que é bom e o que é ruim.