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A SÓS COM DEUS

Isaltino Gomes Coelho Filho

Fazia a meditação diária, com Meacir, dia 18 de janeiro. Usamos o “Manancial” (aliás, sugiro aos meus parcos – não porcos – leitores: usem o “Manancial”, que é nosso). A meditação tinha o mesmo título deste artigo. Sua autora, Ana Maria Gomes, citou três exemplos de “Sala de oração”. Uma, em uma universidade, e duas em igrejas.

Uma sala de oração é algo muito bom. Não é a sacralização do espaço físico, como se crêssemos que Deus só pode ouvir orações feitas naquela sala. Mas o ambiente é especialmente preparado para este fim. Por vezes, com isolamento de ruído externo. As igrejas precisariam ter mais salas assim, reservadas para este propósito, abertas o dia inteiro. Dona Ana fala de uma igreja em que as pessoas chegavam e recebiam uma lista de pedidos de intercessão. Isso é muito positivo. Quem pediu oração fica sabendo que seu pedido será considerado pela igreja.

Meacir leu o texto bíblico e eu li a meditação. Aí comentei com ela sobre a observação feita por Helmuth Thielicke, pastor alemão (bípede), que numa viagem aos Estados Unidos, foi ao edifício das Nações Unidas. Havendo lá uma capela, quis vê-la. O guia o corrigiu: “Ah, é a Sala de Meditações que quereis dizer!”. Thielicke o seguiu, pensando no nome singular: Sala de Meditações, e não Sala de Orações.

Ele viu a tal Sala de Meditações. Pintada de branco, com algumas cadeiras. Perguntou ao guia se alguém meditava ali. A resposta foi “não”. Tielicke olhou para o lugar onde deveria haver um altar (ele é luterano; para nós seria o púlpito ou a mesa da ceia). Procurou uma cruz, uma Bíblia. Nada! Onde deveria estar o altar, o holofote punha seu foco sobre o vazio. Não sobre um altar, uma cruz ou uma Bíblia. Sobre o nada. E diz o teólogo luterano: “Os holofotes não sabiam em que direção dirigir seus raios de luz, e aos homens responsáveis convidados a esta sala, não se mostrava a quem dirigir seus pensamentos. Era um templo da mais horrível solidão, o campo de ruínas vazias de uma fé desaparecida há muito”.

Excelente observação. Orar não é meditar. Ao meditar, a pessoa fala consigo. Ao orar, fala com Deus. Aliás, isto explica as constantes crises do mundo e das pessoas. O homem fala demais consigo e pouco com Deus. Focar-se em si é focar-se sobre o nada. A teologia contemporânea tem se esquecido do evento teológico Queda, bem como da Graça, e se centra na bondade e na capacidade humanas. Contaminada pelo Iluminismo, acha que o homem é suficiente e pode dar contas de si, prescindindo de uma Revelação. A meditação do homem sobre o homem não produz nada, a não ser vazio. E também alienação e desespero.

Francis Schaeffer, que um desinformado chamou de “líder da direita cristã norteamericana”, comentou que uma vez perguntaram ao teólogo neo-ortodoxo Paul Tillich se ele orava. Ele respondeu: “Não, mas eu medito”. E Schaeffer continua, sobre Tillich: “Tudo que lhe restava era a palavra Deus, sem qualquer certeza de que pudesse haver algo a mais que do que pantudismo panteísta. A teologia do Deus-está-morto que se seguiu a Tillich concluiu logicamente que, se tudo que nos resta é a palavra Deus, não temos motivo algum para nos livrarmos da própria palavra”. Se Deus não é uma pessoa a quem podemos falar, mas apenas um conceito, por que ficar com ele e não optar por outros conceitos? Por que orar? Só nos resta meditar.

Para a nossa cultura, Deus está morto, seja por ser considerado desnecessário ou por ser considerado irrelevante. Não há com quem falar. Não há porque orar. Há apenas meditação. Mas se o ser humano pensa em encontrar luzes dentro de si e resposta dentro de si, cairá em profunda desilusão. Esta visão romântica de que podemos achar Deus dentro de nós é um equívoco, que ignora a Queda e que esquece que há uma revelação objetiva, as Escrituras Sagradas e Jesus Cristo, que nos orientam na busca de Deus.

Sala de oração, sim. Sala de meditação, nem tanto. Meditar é bom. Mas meditar e orar são coisas diferentes. Orar não é comunhão com o subconsciente nem falar com seus próprios desejos. Nem buscar luzes dentro de si. É falar com um Deus Transcendente, que se revelou na pessoa histórica de Jesus de Nazaré, que consubstanciou seu desvelar nas Escrituras Sagradas. Orar é crer que, graças a Jesus e pela presença do Espírito Santo em nós, podemos falar com Deus Pai.

Por isso, com todo respeito, entre Tillich e o Manancial, este me é mais útil. Porque me alimenta a alma. E me estimula a orar ao Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, também meu Pai, e não apenas a meditar. Já medito demais. Preciso orar mais.

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