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O RELIGIOSISMO DO PR. DANIEL

Isaltino Gomes Coelho Filho

O colega Pr. Daniel Teixeira de Azevedo é o autor do neologismo “religiosismo” (desculpem-me a aliteração, mas não consegui fugir-lhe). Ele usa o termo para designar a atividade religiosidade que se desvia do foco da verdadeira fé, que é a reconciliação com um Deus santo. Eu criara “adoracionismo” e “louvorismo” para designar o frenesi em nossas igrejas com o período do culto que, sem adornar, chamávamos de “cantar corinho”, no passado. O “louvorismo” passou a ser o momento mais importante do culto, um shiboleth, em que todas as igrejas fazem as mesmas coisas: um período em pé, ouvindo uma oração e um sermão antes de cada cântico. Os grupos de louvor são clones uns dos outros.

Precisamos considerar esta questão com seriedade. Não é implicância ou rabugice, mas essência. Chacrinha disse que “na televisão nada se cria, tudo se copia”. Dá-se o mesmo na teologia. Muita gente acha que está inovando, criando um movimento novo, quando apenas está pondo uma roupa nova em um movimento antigo. O velho montanismo do segundo século, quando Montano, Prisca e Maximiliana alegaram ter revelações diretas do Espírito Santo e profetizaram com línguas extáticas, está aí, de volta. Uma de suas características era tirar o foco de autoridade da igreja e colocar em pessoas que eram receptáculos especiais de Deus, com suas profecias. Como no montanismo do passado, o atual montanismo neopentecostal vê um lugar especial para as revelações de sua legião de homens e mulheres especiais, que lutam entre si por espaço e ministérios, colocando-as em pé de igualdade com a Revelação.

O perigo da igreja nascente de um evangelho desfocado é nosso, hoje.Vemos um novo evangelho, que ocupa as pessoas, dá-lhes um ar de religiosas, mas que enfoca apenas o bem-estar pessoal e a aquisição de bênçãos. Surpreendem-me debates como “O que a igreja deve fazer para atrair os jovens” ou “O que a igreja deve fazer para atrair a terceira idade”, e que igrejas façam pesquisas junto ao mundo para saber o que o mundo deseja, para lhes oferecer o produto certo.

Tenho sérias dúvidas se a finalidade da igreja é atrair pessoas e depois entretê-las dando-lhes o que elas querem. E se para isso deve elaborar estratégias que muitas vezes comprometem sua essência. Não consigo ver o Salvador pensando em como alcançar os fariseus, procurando saber o que eles gostariam de ouvir. Ou planejando como sair de uma comunidade de pescadores para uma de figurões. Ou como conseguir mais adeptos e simpatizantes, ao invés de discípulos. Sua toada foi a mesma: o anúncio da salvação. Reconheço haver estratégias diferentes para diferentes culturas. O evangelho pregado por Paulo no Areópago foi o mesmo que ele pregou nas sinagogas, mas a abordagem foi diferente. Mas a essência nunca foi alterada. O conteúdo do evangelho não pode ser mudado.

Temos religiosismo, mas não me parece que temos um evangelho conforme o do Novo Testamento. Muitas pregações que ouvi soam mais a Lair Ribeiro que a Jesus. E o louvorismo vem na esteira do religiosismo. Tenho participado de cultos com uma hora de louvor em alto volume. Depois me dão a palavra para pregar. Falta bom senso aos dirigentes destes cultos! Dão-me um auditório cansado de tanto pular e gritar. Os que não estão cansados estão num nível de excitação tão grande que não acompanham raciocínio algum. Prego para um auditório com a metade das pessoas exaustas e a outra metade que sequer consegue pensar. O jeito seria continuar gritando, mas eu não grito. E mais barulho levaria à histeria. A falta de bom senso no uso da música faz supor que seus líderes não passaram por um seminário ou, se passaram, o seminário nada lhes ensinou. A pobreza litúrgica dos cultos é deplorável. Realizei uma série de pregações evangelísticas e, ao findar o sermão, tínhamos novamente mais três cânticos esfuziantes, em alto volume, e depois o apelo. Os cânticos vinham em sentido oposto ao da mensagem e quebravam seu efeito. Não temos corinhos com letra evangelística e com música que leve à reflexão sobre salvação. Ouvir um sermão evangelístico e depois ficar mais trinta minutos em pé, ouvindo mais sermões do “grupo de louvor”, pulando e gesticulando são situações conflitantes. Mas é emblemático: as igrejas não querem pensar. Querem agito. Reflexão, não; ativismo, sim. É o religiosismo do Pr. Daniel. Religião sem reflexão, sem quebrantamento, sem conversão. É o louvorismo deste rabiscador.

O carro chefe de um culto não pode ser o louvor. Nem a pregação. Nem a desajeitada coreografia, que faz o deleite dos pais das coreógrafas, mas nada acrescentam ao culto. Se suprimida, diferença alguma faria. O carro chefe de um culto cristão deve ser Jesus Cristo. Culto em que Cristo não foi pregado, sua pessoa não foi exaltada, sua cruz não brilhou, sua salvação não foi apregoada, falhou. O religiosismo tem nos brindado com situações atípicas. Por duas vezes ouvi sermões de quase 50 minutos, em que o nome de Jesus não foi uma vez sequer mencionado. Pior, seu ensino sequer foi tangenciado. Poderia ter sido pregado numa sinagoga, num centro espírita ou numa reunião de qualquer associação moral. Foi moralismo e autoajuda. O religiosismo não fala de Jesus, mas de esforços religiosos. Não promove uma reflexão sobre a pessoa e a obra de Jesus, mas procurar manter as pessoas ocupadas e animadas com alguma atividade religiosa. É um desfocar da verdade cristã. Como muito do louvorismo, que se preocupa em manter as pessoas eufóricas, satisfeitas, em uma autêntica catarse, e chama tudo isso de adoração, mas pode ser questionado.

Religiosismo, não. Cristianismo, sim. Louvorismo, que produz mera agitação, não. Louvor a Deus que produz quebrantamento, consagração e conversão, sim.

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