Isaltino Gomes Coelho Filho
Estou lendo a BÃblia na versão Almeida Século 21. Hoje li o livro de Lamentações. Antes de lê-lo, li o comentário introdutório. É bom fazer isso. É como ler o prefacio e o Ãndice de um livro. Ajuda-nos a ver o que leremos.
Duas observações do comentarista me ajudaram muito. Elas tocam em dois aspectos bem sérios. Um que nos faz falta, porque o esquecemos. Outro que não, e espero que desapareça de nossas igrejas.
O que faz falta está contido nesta observação: “O crente aflito pode encontrar nas elegias do livro sua própria confissão, auto-humilhação e invocação do Senhorâ€. O livro trata de confissão de pecados. “Jerusalém pecou gravemente†(1.8) e “O SENHOR é justo, pois me rebelei contra os seus mandamentos†(1.18). O livro é um lamento pela desgraça que veio sobre Jerusalém, em 587, diante dos caldeus, devido aos pecados do povo. Ele fala de pecados, de confissão, de pedido de perdão. Lamentações é um impacto! Porque temos um raciocÃnio canhestro: Deus não tolera o pecado no Ãmpio, por isso irá castigá-lo; mas pecado em nosso meio não faz mal, porque ele faz vistas grossas. Lamentações mostra que Deus não tolera o pecado na vida do seu povo.
Falta reflexão falta em nosso meio. Quando me converti, a igreja dava muita ênfase à santidade. Havia momentos de oração silenciosa, para as pessoas se confessarem. Hoje as pessoas querem forró, para sacolejarem. Que pensar, que nada! Recitávamos muito 2Crônicas 7.14 (“E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se desviar dos seus maus caminhos, então eu ouvirei do céu, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terraâ€). Lamentações diz isto: “ai de nós. porque pecamos†(5.16). Hoje é só “adorarâ€! Ninguém mais confessa, ninguém mais chora, não há contrição.
Fui moldado numa igreja (louvo a Deus por isto) que fazia apelos. Apelos para conversão (assim fui à frente, com 14 anos, 10 meses e 26 dias de idade, e permaneço até hoje) e para consagração de vida (foi assim, com 15 anos e um mês de idade, que entreguei a vida a Cristo para ser pastor). Hoje vendem a imagem de que fazer apelo é uma aberração teológica, um sacrilégio. Éramos desafiados à conversão e à consagração. Tenho pregado em igrejas em que o culto é mais entretenimento que desafio. É mais massagem no ego que chamada à correção. Em Lamentações vemos o peso do pecado na vida do povo de Deus, e como Deus corrige seu povo que está errado (Hb 12.7-8). É um veemente apelo à mudança de vida, ao abandono do pecado. Não é blábláblá, ou mera exposição de fatos, mas uma chamada ao arrependimento, à confissão, à esperança no Senhor. Quem prega isso, não tem dificuldades em chamar as pessoas a manifestarem que aceitaram isso. Qual é o problema em fazer apelos? É risÃvel dizer que eles violam a soberania de Deus. Que soberania fraquinha é essa, que um pregador consegue violar chamando as pessoas à frente? Lamentações chama à conversão, à santidade, à mudança de vida. Isso faz falta em nossas pregações.
O que não faz falta está na declaração do comentarista de que o autor de Lamentações, embora tenha advertido que aquilo aconteceria, não diz “Eu bem disseâ€. Ou seja, ele não é o dono da verdade nem pretende ser “a consciência moral da igrejaâ€. Há muitas pessoas nas igrejas que estão sempre certas, que nunca são voto vencido, cuja vontade deve ser sempre acatada, e quando não conseguem se impor pelo voto,  agem deslealmente nos bastidores, desestabilizando a igreja e o obreiro. São pessoas pródigas nas crÃticas, que nunca estão satisfeitas, se sua vontade não for acatada. Quando algo não dá certo, ao invés de colocar o ombro debaixo para consertar, ficam dizendo “Eu não disse?†ou “Eu sabia!â€. Uma senhora que dizia que sua famÃlia era o eixo da igreja, impedindo-a de “fazer besteirasâ€. Jeremias, autor de Lamentações, apenas diz: “Esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los, e voltemos para o Senhor. Levantemos os nossos corações com as mãos para Deus no céu dizendo: Nós transgredimos, e fomos rebeldes, e não perdoaste†(3.40-42). Ele não é o certinho no meio dos errados. Ele é “nósâ€: esquadrinhemos, provemos, voltemos, levantemos, transgredimos, fomos rebeldes… Não ficou nos bastidores fofocando, mas veio à frente para colocar o ombro debaixo da carga e dizer: “Tô nessaâ€.
Reconhecer pecados e pedir perdão fazem falta. Jogar pedras e agir nos bastidores, de forma desonesta, não. Eis uma para fazermos, e outra para evitarmos.