Isaltino Gomes Coelho Filho
Eudemonismo não tem a ver com demônio. É um neologismo que vi, pela primeira vez, em uma obra de Packer, intitulada “Religião vida mansaâ€. Vem do grego eudaimon, termo para “felizâ€. Um dicionário da lÃngua inglesa define eudemonismo como “o sistema de filosofia que faz da felicidade humana seu objetivo mais altoâ€.
Packer faz este comentário, após definir eudemonismo: “O eudemonismo diz que, já que a felicidade é o valor supremo, podemos confiantemente olhar para Deus aqui e agora para nos proteger de coisas desagradáveis em cada circunstância, ou então, se as coisas desagradáveis aparecerem, livrar-nos delas imediatamente, pois nunca é da vontade dele que tenhamos que conviver com elasâ€.
O mais significativo é que esta observação de Packer vem no capÃtulo que se intitula “A religião da banheira quenteâ€, que ele inicia dizendo que a banheira quente é o maior sÃmbolo do prazer da cultura ocidental. Assim ele traça o perfil da religião prazerosa que dominou o cenário evangélico. Eudemonismo e banheira quente esposam o mesmo conceito: o evangelho é para nos dar prazer, Deus existe para nossa satisfação, a igreja existe para nosso deleite.
Eudemonismo, o querer ser feliz, não é de todo errado. Deus nos fez para desfrutarmos o seu bom mundo, para nos regozijarmos nas coisas boas que ele nos deu. Mas quando vivemos em função do prazer vamos de encontro ao significado do evangelho, pois a vida se torna sensual e egocentralizada. O evangelho é espiritual e nos ensina a vida teocentralizada e doada aos outros. Como Jesus encarnou em sua vida. O eudemonismo que é visto em muitas pregações de hoje é o antievangelho, mesmo que tenha uma roupagem evangélica e uma tintura bÃblica. Por exemplo: uma igreja eudemônica anunciava com um letreiro em letras garrafais: “Você nasceu para vencer!â€. O que é vencer? É ter coisas? Acumular bens? Saúde hercúlea? O correto é “Você nasceu para servir!â€. Não é nem mesmo adorar, porque para muita gente adorar é cantar corinho e pular no culto. É servir, dando, se preciso, a vida. Há escassez de santos e servos na igreja contemporânea.
Vejo pessoas que apenas tecem crÃticas à igreja. Nada fazem para melhorá-la. Ouvi um crÃtico, funcionário de um determinado setor. Que anda muito mal. Quando eu lhe disse isso, ele retrucou: “É, mas eu faço a minha parte para melhorar. Vendo a minha alma para o serviço!â€. Disse-lhe para vender a alma para a igreja para melhorá-la.
Há também os que a vêem como uma prestadora de serviços. Tanto que procuram a que melhor lhes sirva. O correto é vê-la como uma comunidade de comprometidos com o reino de Deus. Eudemônicos crônicos e apedrejadores sistemáticos da igreja têm algo em comum: não se dão. Querem receber. Têm algo mais em comum: são infantis e nada acrescentam.
Um pouquinho de eudemonismo não é mal. Precisa apenas ser equacionado: o que é felicidade? Para um crente de verdade é estar engajado na obra, ver conversões, ver o crescimento espiritual dos irmãos, apoiar missões. Ele se preocupa consigo e com sua famÃlia, mas sabe que seu primeiro dever é ser fiel. Pelo menos enquanto Mateus 6.33 estiver na BÃblia. O apedrejador não tem espelho. Não se olha em um.
O bom mesmo é servir a Cristo, amar a igreja, ser útil no reino e aos irmãos. Sem queixas. Aà vem o eudemonismo da realização.