Isaltino Gomes Coelho Filho
Preparado para a revista “Pregação e pregadores”, da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil
Infelizmente muitas pessoas pensam que falar corretamente é ato de vaidade ou exibicionismo cultural. Para pessoas que usam o idioma como ferramenta, isto deveria ser uma preocupação. Falar corretamente não é afetação ou vaidade. Falar complicado ou valendo-se um vocabulário complicado e não usual, isto sim, é afetação. Mas o uso correto da língua mostra cuidado e respeito pelo auditório e pela sua missão. Esta coluna não tem como pretensão ironizar ou ridicularizar pessoas nem considerar alguém inferior por cometer equívocos que aqui mostramos. Pretende ajudar em sua correção, pela dignidade que a pregação deve ter. A pregação não precisa ter uma linguagem afetada, mas esta pode ser correta. Assim apontamos alguns equívocos que podem ser corrigidos.
- Nunca diga “No entretanto”. Tal expressão não existe. É “no entanto” ou “entretanto”.
- Também não ore pedindo que “A mensagem venha de encontro às nossas necessidades” nem peça que Deus “venha de encontro à igreja”. A não ser que você queira ser atropelado pela mensagem ou por Deus. “De encontro” é chocar-se. Peça que a mensagem venha “ao encontro de nossas necessidades” ou que Deus “venha ao encontro da igreja” (se bem que ele nunca a perde; ela, às vezes, perde o rumo). Mas não confunda “ao encontro de” com “de encontro a”.
- “Outra alternativa” é pleonasmo, pois alter já significa “outro”. Diga, apenas, “alternativa”. Há também uma diferença entre “alternativa” e “opção”. A rigor, “alternativa” se aplica a uma possibilidade de escolher apenas entre duas questões. “Opção” é quando há mais de duas possibilidades de escolha. Mas, modernamente, nos testes escolares, se pede que assinale a alternativa correta, e se incluem quatro ou cinco opções. Como diz o Professor Sacconi: “A alternativa, em rigor, só poderia ser assinalada se houvesse apenas duas possibilidades de escolha para a resposta daquilo que se pede. Forçou-se assim, mais uma catacrese, já que em alternativa existe o elemento alter, que significa outro”.
- Não fale “previlégio”. É “privilégio”, que se diz. “Previlégio” é um sacrilégio contra a língua.
- Evite o uso do termo “Ofertório” para o momento de devolução de dízimos e entrega de ofertas no culto. Todo mundo entende, mas não é o mais correto. “Ofertório” é (1) a “parte da missa durante a qual o padre oferece a Deus o pão e o vinho, antes de consagrá-los”; (2) “orações que precedem ou acompanham essa oblação”; (3) “trecho musical composto para esta parte da missa”. Chame de “entrega dos dízimos”, ou, melhor, ainda, de “devolução dos dízimos”. Cuidado, também, com “dizimar”. Está popularizado entre nós como o ato de entrega do dízimo, e todos compreendem, mas “dizimar” vem do latim decimare, “matar um em cada dez”. Dicionários ainda registram “Destruir em parte ou quase completamente” e “desbaratar, desfalcar”. De repente, um purista da língua entende ao pé da letra, e eis o problema!
- Não confunda “bimestral” com “bimensal”. “Bimestral” acontece de dois em dois meses, e “bimensal”, duas vezes por mês. Na realidade, “bimensal” está mais como sinônimo de “quinzenal”.
- Não confunda “estada” com “estadia”. Não diga que o conferencista está em “estadia” na igreja. “Estada” é o ato de estar ou permanecer, e sempre se aplica a pessoas ou animais. “Estadia” é o tempo de permanência de veículos na garagem. O carro do conferencista poderá fazer “estadia” no estacionamento da igreja, mas ele, não, coitado. Arranje-lhe um quarto.
- Da mesma maneira, não confunda “ao invés de” com “em vez de”. “Ao invés de” se usa com a idéia de oposição, de situação contrária ou antônima. “O dólar, ao invés de baixar, subiu”. “Em vez de” se usa para simples troca ou substituição: “O Pr. João, em vez de pregar um sermão expositivo, pregou um sermão temático”. A diferença de sermões não é uma situação contrária, mas o dólar subir e não baixar, isto é.
Até a próxima edição. Se você tem alguma dúvida ou alguma sugestão ou algum comentário sobre os tópicos, escreva para a redação.