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VÓS SOIS A LUZ DO MUNDO…

 

Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

 

Preparado originalmente para a revista “Você”, e publicado com a autorização da revista

 

            Quem sai da bela e rica cidade de Marília para Lins, interior de S. Paulo, percorrerá cerca de 60 km. Mas ao sair de Marília já avistará o brilho de Lins, à noite. Situada em plano mais alto, a cidade tem suas luzes vistas de longe. Esta figura se ajusta à palavra de Jesus, à qual hoje chegamos, em nossa caminhada pelo sermão do monte: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem os que acendem uma candeia a colocam debaixo do alqueire, mas no velador, e assim ilumina a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.14-16).

            No tempo de Jesus não havia energia elétrica, e a iluminação era precária. Mesmo assim, as cidades eram visíveis de longe, pois as casas eram construídas de pedras calcáreas, brancas, brilhantes sob o sol e o luar. Se edificadas sobre um monte, eram mais nítidas ainda. Os caminhos eram mal sinalizados, mas as cidades, vistas de longe, serviam de orientação. Assim deve ser o seguidor de Jesus. Num mundo desorientado, em trevas, ele deve ser referencial.

A METÁFORA DA LUZ

            A metáfora da luz é muito forte na Bíblia. Ela foi a primeira criação de Deus (Gn 1.3). Na poesia hebraica simboliza o conhecimento, a orientação e oposição às trevas, símbolo do mal (“a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela” – João 1.5). O sentido das palavras de Jesus é bem claro: seus seguidores devem servir de orientação para os que vivem nas trevas, e devem viver vidas opostas à vida daquele que vive em trevas.

            O cristão, aquele que segue a Jesus, tem uma vida transparente, sem nada para esconder. Deve iluminar e nortear quem vive sem Cristo. Este autor conheceu a Jesus na adolescência, em grave crise existencial que o deixou desorientado. Foi cercado por muitos adolescentes que seguiam sinceramente a Jesus, e lhe serviram de baliza. Até hoje agradece a Deus por aqueles adolescentes, crentes fiéis, que o ajudaram na fase mais difícil de sua vida. É assim que a luz faz. Ela orienta os desorientados.

UMA FIGURA QUE VEM DO ANTIGO TESTAMENTO

             A metáfora do povo de Deus como luz vem do Antigo Testamento. Em Isaías 60.1-3, Judá, o povo de Deus, está no cativeiro na Babilônia. O povo não tem alegria alguma (Sl 137). Recebe a mensagem de que será restaurado. Uma luz chegou sobre a nação (v. 1). O mundo, inclusive a poderosa, rica e culta Babilônia, jaz em trevas, mas a glória virá sobre Judá (v. 2), e ele será luz para o mundo (v. 3).

            O mundo estava em trevas, mas a glória de Deus viria sobre a nação e a iluminaria. Com a luz de Deus ela iluminaria o mundo. Esta figura, no Novo Testamento, se aplica à igreja de Jesus. Ele é a luz do mundo, como lemos em João 1.4 (“Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens”) e em João 8.12 (“Então Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida”).

            Esta luz de Jesus deve brilhar em nossas vidas e assim iluminar o mundo. Nós devemos refletir a luz de Jesus para quem está sem ele, nas trevas.

A METÁFORA DA CANDEIA

            Na continuação de sua palavra, Jesus fala da candeia que não é acesa para ser colocada debaixo do alqueire, mas no velador. A candeia era uma lamparina, e o alqueire era um cesto para medida de grãos. Era todo fechado, sem aberturas, para os grãos não vazarem. Colocar uma lamparina debaixo de um cesto faz com o que fogo seja apagado, por falta de oxigênio. Não somos uma luz para se extinguir. Não podemos ser sufocados pelos valores do mundo. Infelizmente, muitos cristãos acabam sendo sufocados, imitando o vocabulário, as gírias, a cultura e a  moralidade do mundo. Por falta de oxigênio, que vem da comunhão com Deus pela oração e pelo estudo de sua Palavra, se extinguem. Isto é uma situação ruim para tal tipo de cristão, que será cobrado pelo Senhor, mas é terrível para o mundo: “Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes são tais trevas!” (Mt 6.23b). Se nossa luz se apagar, quem iluminará o mundo, que já anda tão desorientado? Deus nos cobrará isto!

            A lamparina deveria ser colocada no velador, uma espécie de prateleira ou cantoneira, em boa altura, de modo a ter sua luz espalhada por todo o ambiente. Quanto mais alta estivesse, dentro da casa, mais brilharia. Da mesma maneira, quanto mais alto estivermos, do ponto de vista espiritual, mais brilharemos para iluminar o mundo.

UMA LUZ BRILHANDO NO ALTO

            Mas esta palavra de Jesus deve ser vista também como um desafio para o progresso na nossa vida. Sendo luz para o mundo em trevas, não somos gente de pouco valor. Muito pelo contrário. Temos muito valor. E devemos, além do crescimento espiritual e moral, para iluminarmos os que estão em trevas, buscar o crescimento na vida material.

            Nunca se contente em ser uma pessoa irrelevante ou inexpressiva. Ou, como se costuma dizer, um zero à esquerda. A Bíblia diz para não sermos  ambiciosos e gananciosos, mas não para sermos opacos. A luz é melhor que as trevas. Nós, como luz, precisamos crescer. O seguidor de Jesus deve representá-lo em qualquer segmento da vida em que esteja, mas não deve se contentar em ficar por último. A divisa da cidade de S. Paulo é Non ducor, duco, que significa “Não sou conduzido, conduzo”. Esta deve ser também a divisa do cristão. Ele não é conduzido pelo mundo, mas conduz o mundo. Deve aspirar ao melhor, subir na vida profissional, ser o melhor na profissão que escolher. E de lá, de cima, inspirar pessoas, iluminar vidas, marcar pessoas com a luz de Jesus.

            Se você puder subir, suba. Galgue os mais altos degraus na carreira que escolher, seja qual for. Ocupe os espaços principais. Se alguém da luz não sobe, sobe alguém das trevas. Temos deixado pessoas das trevas conduzirem os rumos da sociedade. Por isso, suba, mas ao subir, não deixe Deus no degrau de baixo. Suba com ele, para a glória dele, para que a luz dele que está você ilumine o mundo.

CONCLUSÃO

            Lembremos as palavras finais desta figura de linguagem de Jesus: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus”.

            Somos os instrumentos pelos quais nosso Pai pode brilhar no mundo. Não nos esqueçamos disto. Que brilhe a nossa luz! E do alto!

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