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THOMAS JEFFERSON E JOSÉ BONIFÁCIO? FICO COM O SEGUNDO!

  • por

Isaltino Gomes Coelho Filho

Pastoral do boletim da IBC de Macapá, 3.10.10

Ganhei e logo li o livro “1822”, de Laurentino Gomes. O subtítulo é “Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar errado”. Antes que algum depressivo diga que deu errado, afirmo que não. Quem lê o livro vê que, embora ainda haja muito por fazer, andamos muito!

Laurentino é brilhante. Já lera dele “1808”, com o subtítulo “Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil”. Os dois livros ajudam a entender mais o Brasil e desfazem mitos radicados em nosso meio. Lembro de minhas professoras primárias, que diziam que somos um povo cordial e que a Independência foi tranquila, uma festa para os dois lados.  Mas correu muito sangue.

Impressionou-me, na obra, a figura de José Bonifácio de Andrada e Silva. Além do que fez, ele era genial, brilhante. Homem bem preparado, um dos mais cultos que tivemos. Laurentino o coloca no nível de Thomas Jefferson, na independência dos Estados Unidos. Mas, na comparação, Bonifácio o supera.

Ambos viram a Revolução Francesa, e Jefferson defendeu sua violência. Bonifácio viu seus horrores, e rejeitava a violência. Jefferson, no ano que em escreveu a declaração de independência dos EUA, pela qual “todos os homens nascem iguais”, tinha 150 escravos. Representante da aristocracia racista da Virginia, lutou contra a abolição da escravatura até à morte. Bonifácio nunca teve escravo e era abolicionista convicto. Não foi um santo. Era mulherengo, bom copo e vaidoso, mas foi coerente. Queria independência para todos, e não via os negros como sub-raça humana. Para Jefferson, todos eram iguais, desde que brancos.

Jefferson me lembra certo tipo de crentes. Que dizem uma coisa e fazem o oposto. Dizem que a Bíblia é a Palavra de Deus, mas não a lêem. Passam semanas sem abri-la, só o fazendo nos cultos. Dizem que Jesus os salvou, mas não valorizam a salvação. Não a desenvolvem, não se engajam na igreja, não a pregam aos outros. Dizem que a oração funciona, mas não a praticam, nem vêm à igreja (que dizem ser o corpo de Cristo) praticá-la com os demais. Chamam os outros de “irmãos”, mas não são fraternos.  Dizem que “só Jesus Cristo salva”, mas não evangelizam nem contribuem para missões. Fazem afirmações de fé que não colocam em prática. Crêem que Deus cuida do fiel, mas se afligem ao mínimo problema, como se Deus fosse incompetente. Reclamam da falta de amor dos irmãos, mas não os amam. São incoerentes.

Jesus foi paciente com os pecadores. Chamaram-no de “amigo dos pecadores”. Mas foi duro com os incoerentes. Ele os chamou de “hipócritas”, num duríssimo sermão (Mt 23).

Nunca chamarei alguém de hipócrita, mas também não gosto de incoerência. E a igreja precisa de gente coerente. Que viva o que crê. Que torne o seu credo em sua conduta. Gente sincera.

A quem me deu o livro, muito obrigado. Quem puder lê-lo, que o faça. Mas todos nós: não sejamos como Jefferson. Compatibilizemos o que cremos com o que fazemos. Sejamos coerentes.

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