“Cuche foi pai de Ninrode, o primeiro grande conquistador do mundo (…) No começo faziam parte do seu reino as cidades de Babilônia, Ereque e Acade, todas as três em Sinar” (Gênesis 10.8,10).
Isaltino Gomes Coelho Filho
Ninrode é um personagem enigmático. O texto de Almeida diz que ele se tornou “poderoso”, e isso por três vezes. “Poderoso caçador”, diz o versículo 9. O hebraico é gibbor tsayidh, que pode ser traduzido por “caçador de homens”, ou “escravista”. Esta é a posição de Leupold (Leupold on the Old Testament, vol. I, p. 366). Calvino admite esta idéia, dizendo que isto “metaforicamente indica que ele era um homem furioso, mais parecido com uma fera que com um homem” (Genesis, p. 317). Wiseman alega que alguns o associam historicamente com Sargão de Adade (2.300 a.C.), guerreiro, escravizador e conquistador. A Linguagem de Hoje diz que Ninrode foi “o primeiro grande conquistador do mundo”.
Não é de estranhar que tenha sido ele o fundador de Babilônia e de Nínive, as duas grandes cidades cruéis do mundo antigo. Nínive destruiu o reino de Israel. Babilônia, o reino do Sul. As duas cidades que destruíram o povo de Deus foram fundadas por ele.
Logo no capítulo seguinte vem a história da torre de Babel. Há um jogo de palavras bastante interessante no relato bíblico. “Babel” vem do acadiano “Bab-Ilu” (“Porta do El”, ou seja, “Porta de Deus”). Em Gênesis 11.7, há um trocadilho: “confundamos” ou “misturemos” é balal. Para o caldeu, Babilônia era a porta do céu, a porta para Deus. Para o hebreu era porta da confusão. É esta a visão bíblica: os esforços humanos são confusão, apenas.
A violência de Ninrode, que o levou a ser poderoso e a fundar Babilônia, para Deus era apenas confusão. Os homens acham que o orgulho que vem do domínio sobre as demais pessoas é realização. Para a Bíblia, isto é confusão, e termina em julgamento divino. Este orgulho se vê na edificação da torre de Babel. A ordem divina era que o homem se espalhasse pela terra: “E os abençoou, dizendo: -Tenham muitos e muitos filhos; espalhem-se por toda a terra…” (Gn 1.28). Mas eles resistem: “Aí disseram: -Agora vamos construir uma cidade que tenha uma torre que chegue até o céu. Assim ficaremos famosos e não seremos espalhados pelo mundo inteiro” (Gn 11.4). Babel é o orgulho humano, é a força humana se opondo a Deus. São os filhos de Ninrode contra Deus. Eles não queriam se espalhar. Deus interveio e os espalhou: “Assim Deus os espalhou pelo mundo inteiro, e eles pararam de construir a cidade” (Gn 11.8).
Ninrode, Babel e Babilônia tipificam o homem voltado contra Deus. Por isso que as forças humanas corrompidas e orientadas contra Deus, no Apocalipse, se chamam de Babilônia. Não significa que a Babilônia do Antigo Testamento será reconstruída, porque a Bíblia diz que não será (Is 13.19-22, Jr 50.1-3, 51.29). Infelizmente, alguns intérpretes, para corroborarem seus esquemas escatológicos, ignoram estas declarações tão meridianas sobre Babilônia. Foi destruída para sempre. No Apocalipse, ela não é literal, mas simbólica. Significa o orgulho humano e o desprezo pela Palavra de Deus. Que serão destruídos para sempre.
Após Ninrode e Babel, vem o capítulo 12. Começa a história da salvação, com Abrão. Seu clímax será com o advento de Jesus. Em sua primeira vinda, e por fim, na segunda. O poder humano é frágil, por mais forte que aparente ser. Mas a vitória final é do Senhor Jesus. Toda a oposição a Cristo também cairá, e o seu reino triunfará. Por mais que as forças do mal se ajuntem contra Cristo, serão esmagadas. Caiu o Império Romano, caiu o bloco soviético, cairá a cortina de bambu, cairá o Islã, cairá qualquer oposição a Jesus Cristo. Os reinos humanos são confusão, apenas. Um dia, a confusão cessará, e assim podemos dizer como Paulo: “O que agora vemos é como uma imagem imperfeita num espelho embaçado, mas depois veremos face a face. Agora o meu conhecimento é imperfeito, mas depois conhecerei perfeitamente, assim como sou conhecido por Deus” (1Co 13.12). Nunca mais seremos confundidos.
E ao mundo, que advertência! Cesse seus esforços rebeldes contra Deus. Eles são inúteis. O mundo nunca abrirá a porta do céu. Fará apenas confusão. A porta está definida: “Jesus respondeu: -Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém pode chegar até o Pai a não ser por mim” (Jo 14.6).