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UM NÃO SEI QUÚ, TRISTEZA DO INFINITO, SAUDADE DE DEUS

  • por

Isaltino Gomes Coelho Filho

Pastoral do boletim da IBC de Macapá, 31.10.10

Relendo Camões, reencontrei um dos seus sonetos que conclui com este terceto:

“Que dias há que na alma me tem posto

Um não sei quê, que nasce não sei onde,

Vem não sei como, e dói não sei porquê”.

O gênio maior de nossa língua foi melancólico. Como o catarinense Cruz e Souza, que assim termina, na duodécima quadra, a poesia “Tristeza do Infinito”:

“Ah! Tristeza imponderável!

Abismo, mistério aflito,

Torturante, formidável…

Ah! Tristeza do Infinito!”

Numa ocasião fui à Igreja Luterana, na Av. Rio Branco, em S. Paulo, ouvir o Pr. Eugênio Foheringer, amigo de Marília, onde pastoreei a PIB e ele, a Igreja Luterana. Ele não estava. Pregou um jovem que narrou sua saída do interior de S. Catarina para S. Paulo. Falou do susto com a cidade que não dorme, da saudade da vida calma do interior de seu estado, da saudade de casa e da comida da mãe. Veio-lhe profunda melancolia. De férias, voltou à cidade natal. Reviu-a, reviu a família, comeu a comida da mãe. Continuou melancólico. Uma saudade que não sabia de quê, nem de onde nem porquê. Domingo, ao tocarem os sinos da igreja, ele, que desde que saíra de casa, se afastara da igreja, entendeu. Era tristeza do Infinito, a falta de algo maior que ele. Saudade de Deus.

Deus “pôs na mente do homem a idéia da eternidade, se bem que este não possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim” (Ec 3.11). Em toda a criação, só o homem tem a idéia de eternidade, conta o tempo e tem noção de morte. É o único que sabe que é finito e que vai morrer. Uma vez vi um potro morto. Atropelado. Sua mãe tentava levantá-lo, pois não entendia o sucedido. Não sabia o que era a morte. O homem sabe. Sabe que vai morrer. Sabe que a vida é mais que os dias de sua existência. E no fundo, por ter na mente a idéia de eternidade, junto com sua finitude, tem crises. Só ele pergunta “Quem sou? De onde venho? Para onde vou? Por que estou aqui?”. Tristeza do infinito.

O cristão tem rumo espiritual. Sabe de onde veio e para onde vai. Sabe que a vida tem sentido. Paulo explica: Deus “que nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos, sendo agora revelada pela manifestação de nosso Salvador, Cristo Jesus. Ele tornou inoperante a morte e trouxe à luz a vida e a imortalidade por meio do evangelho” (2Tm 1.9-10). É a luz do evangelho.

Camões e Cruz e Souza falaram do vazio emocional e existencial próprios do homem. Há uma resposta. O evangelho mostra que há sentido na vida e que não precisamos ter saudades. Não se tem saudade de quem está conosco. Deus caminha ao lado de quem crê em Jesus. Não se tem tristeza do Infinito porque o Deus Infinito, na sua graça, nos acompanha.

Você está em paz? Ou há uma tristeza “que nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei porquê”? É saudade de Deus, tristeza do Infinito. Em Jesus, o Infinito se tornou finito, e nos deu a paz. Com ele, a vida vale a pena e tem sentido. Tudo é diferente. Com ele, a pessoa sabe para onde vai, com quem anda, e em quais mãos a vida está. Ande com Jesus.

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