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AOS POUQUINHOS…

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“Abrão ficou na terra de Canaã, e Ló foi morar nas cidades do vale. Ló foi acampando até chegar a Sodoma, onde vivia uma gente má, que cometia pecados horríveis contra o Deus Eterno” (Gênesis 13.12)

Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

Abraão saiu de Ur para a terra que Iahweh lhe daria levando consigo seu sobrinho Ló. Mais tarde os dois se separaram, tendo Ló escolhido a terra que lhe pareceu melhor e mais produtiva. Abraão deu-lhe o direito de escolha, como homem educado e espiritual que era. Ló se valeu desta opção, mas deveria ter recusado, por um princípio cultural muito forte da época: Abraão era seu tio e era, presume-se, mais velho. Naquela cultura, um parente com ascendência e uma pessoa mais idosa tinham a prioridade. Por mais gentil que Abraão fosse, cabia a Ló negar a oferta. Mas parece que ele amava muito mais aos bens que a educação recebida e aos valores de sua época. Parece um homem que só tem olhos para seu bem-estar pessoal. Enquanto a destruição de Sodoma era traçada, ele se preocupava com uma cidadezinha para morar, e não com as vidas das pessoas. Nem uma vez sequer orou pelos moradores da cidade, mas preocupou-se com sua vida material.

A fama de Sodoma não era ignorada. Na cidade “vivia uma gente má, que cometia pecados horríveis contra o Deus Eterno” (v. 12). Deus mesmo dissera isto: “Aí o Eterno disse a Abraão: – Há terríveis acusações contra Sodoma e Gomorra, e o pecado dos seus moradores é muito grave” (Gn 18.20). Não era um lugar para Ló morar. Mas ele não entrou de vez na cidade. Foi se mudando aos pouquinhos. “Foi acampando até chegar a Sodoma”. Cada dia mais perto, cada dia mais atraído, mais envolvido, até que, por fim, se instalou definitivamente na cidade. É assim que o pecado faz. Atrai, seduz e leva à negligência até que nos envolve por completo.

Mais tarde, Ló tornou-se administrador da cidade. Quando os anjos que a destruiriam chegaram, encontraram-no na porta da cidade (Gn 19.1). Não estava lá mendigando. “Portas da cidade” era o lugar da administração. E a queixa dos habitantes de Sodoma contra ele sinaliza que, realmente, ele ocupava lugar de destaque: “Esse homem é estrangeiro e quer mandar em nós” (Gn 19.9). Tornou-se poderoso, mas sua influência foi nula. Não a conduziu ao bem. Deixou a coisa rolar.

Muita gente faz como Ló. Vai se aclimatando aos poucos ao pecado. Deixa-se envolver gradativamente por ele. Dizem os biólogos que se colocarmos uma rã na água fervente ela pulará fora. Mas se a colocarmos em água fria e aquecermos gradativamente a temperatura, em fogo brando, ela se adapta até morrer. Morre cozida sem sentir. Assim fazemos muitos de nós. Aos poucos, a lixarada midiática nos empurra valores anticristãos goela abaixo. O adultério dos casais e o desrespeito dos filhos para com os pais nas novelas se tornam comuns e aceitáveis para nós. Achamos interessante a apologia da violência. Ela se torna entretenimento, ao invés de ser vista como pecado. Cremos que é engraçado o beijaço gay e que a violência mostrada na televisão é apenas entretenimento. Aceitamos que um pouco de corrupção faz parte da cultura brasileira, e pouco a pouco nossas tendas se aproximam mais da cidade do pecado. Não entender essas coisas é ser radical e fundamentalista.

Paulo nos diz: “Não se enganem: ´˜As más companhias estragam os bons costumes´”. (1Co 15.33). Sábio conselho! Por vezes, o adolescente cristão, para não ser visto como “nerd” pelos seus colegas, transige com seus padrões e age como os incrédulos, para ser bem aceito na turma. Não apenas os adolescentes etários. Os adolescentes espirituais também fazem isso. Têm medo de desagradar às pessoas ou de serem vistos como “fanáticos” e deixam seus valores cristãos de lado. Uma piadinha suja hoje, outra amanhã, um palavrãozinho aqui e outro acolá, e pronto! Quando vê, já se está dentro de Sodoma.

Ló foi um fardo para Abraão. É difícil ver nele os traços de um homem de Deus ou de uma pessoa comprometida com a vontade de Deus. Nada acrescentou ao patriarca e lhe deu apenas trabalho. Mas além de ser fardo para Abraão, como deu trabalho para Deus! Que esforço os fizeram anjos para salvá-lo (Gn 19.16-22)! E por fim, terminou sua vida de maneira deplorável. Em incesto com suas filhas, gerando dois povos inimigos de Israel, os moabitas e os amonitas (Gn 19.20-38). Deu trabalho a Abraão e deixou problemas para os descendentes de Abraão. Mas enquanto este, como vimos, levantava altares para Deus, Ló ia armando suas tendas, devagarinho, até chegar em Sodoma. Esta é a diferença entre o homem que coloca Deus em primeiro lugar na vida, e o homem que coloca seus interesses em primeiro e usa Deus para alcançar objetivos pessoais. É a diferença entre o grande e o medíocre.

No Novo Testamento, Jesus usou sua esposa, anônima, mas chamada de Edite pela tradição judaica, como exemplo negativo de pessoa negligente com a vida espiritual: “Lembrem da mulher de Ló” (Lc 17.32). É triste quando tudo que uma pessoa pode ser é apenas mau exemplo. E é triste que uma família tenha terminado sua história com o relato de incesto. São as tendas armadas aos poucos na direção de Sodoma.

É bom nunca descuidarmos de nossa vida espiritual. Nem flertarmos com o pecado. Em nome do “bom mocismo” e do politicamente correto fazemos muitas concessões e transigimos muito com os valores do reino. O resultado é visível. O nome “evangélico”, quando mencionado na mídia secular, está sempre ligado a trambiques e atos desonestos. Evangélicos trocam votos por tijolos, ambicionam o poder político, apóiam candidatos com valores opostos aos do evangelho, tudo em troca de espaço, de poder e de dinheiro. São as tendas na direção de Sodoma. Nunca façamos assim!

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