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O PROFETA NAUM

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Um estudo preparado pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho para o campus avançado do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, em Cabo Frio, agosto de 2004

Pode ser que nunca tenhamos ouvido uma mensagem pregada em Naum, mas ele é um profeta extraordinário. Num momento muito difícil de minha vida, um aluno meu, da Faculdade Teológica Batista de S. Paulo, deu-me um cartão com uma palavra pessoal e a passagem de Naum 1.7. Foi meu primeiro contato com o profeta em termos de ensino pessoal. Diz o texto: “O Senhor é bom, uma fortaleza no dia da angústia; e conhece os que nele confiam”. Tôv Iahweh, que mensagem! Há mensagens bonitas em Naum. Mas, mais que versículos bíblicos isolados, este profeta traz uma lição global que precisamos levar em conta nos dias atuais, em que a Igreja de Cristo sofre uma hostilidade velada do mundo e tem sua mensagem bem descaracterizada. O grande ensino de Naum é o senhorio divino sobre a História, e sua moralidade, que pune o mal. Vamos aprender dele.

1. O NOME E A MENSAGEM – UMA HARMONIA

Há uma admirável harmonia no livro. Embora o significado do nome do profeta e o conteúdo de sua mensagem parecem não coincidir, à primeira vista, os dois formam uma admirável harmonia. É que há uma particularidade nos profetas menores. O nome de cada um deles tem uma forte relação com um determinado aspecto de sua mensagem.  Naum significa “consolação”, “compaixão” ou “confortador”.  O nome é  uma variação de Neemias,  que significa “Iah consola”. É semelhante a Barnabé,  “filho da consolação” no Novo Testamento (At 4.36). Mas sua linguagem é muito dura. Ele é mais duro que o duro Obadias. Na realidade, Naum é o mais duro dos profetas, no uso de linguagem de condenação. Vejam seu “cartão de visitas”: “Oráculo acerca de Nínive. Livro da visão de Naum, o elcosita. O Senhor é um Deus zeloso e vingador; o Senhor é vingador e cheio de indignação; o Senhor toma vingança contra os seus adversários, e guarda a ira contra os seus inimigos” (Na 1.1-2). Este é começo.  Podemos imaginar o restante de sua obra. Que conexão há entre sua mensagem de consolação e sua linguagem tão forte? É que ele é o único profeta que não profere julgamento contra o povo de Deus. Só prega contra os inimigos do povo de Deus. Por isso faz justiça ao seu nome. Ele consola o povo de Deus com sua linguagem dura anunciando um juízo seguro de Deus contra os adversários de Israel. É uma segurança para a Igreja de Cristo saber que o Senhor vê seus sofrimentos e sai em defesa dela. Já podemos depreender esta lição  de Naum.

Ele é chamado de “o elcosita” (1.1), isto porque era natural de Elcós, uma desconhecida cidade que, sabemos, ficava na parte sul de Judá. Profetizou para Judá, reino do Sul, e contra Nínive,  capital da Assíria. A desconhecida Elcós parecer ser a Cafarnaum  do Novo Testamento. Ou então a cidade de Cafarnaum recebeu este nome em homenagem a ele, pois o nome da cidade significa “vila de Naum”. Esta parece ser a única lembrança dele no Novo Testamento. Foi ali, na vila de Naum, que Jesus fez alguns de seus mais notáveis milagres e foi contra esta cidade que proferiu um duro discurso: “E tu, Cafarnaum, porventura serás elevada até o céu? até o inferno descerás; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje” (Mt 11.23). Naum lembra o cuidado de Deus pelo seu povo. E Cafarnaum foi a cidade que viu os milagres de Jesus pelo seu povo, e não creu nele.

Naum é um dos seis profetas menores que não têm data no texto.  Pelo contexto, deduzimos que ele profetizou cerca de 710 a.C. durante o reinado de Ezequias, ou em 650 a.C., durante o reinado de Manassés.  Determinamos a data na base dos seguintes dados:

(1) Ele profetizou a futura destruição de Nínive (Na 2.8-10; 3.6-7), que aconteceu em 612 a.C.

(2) Ele fez referência à invasão de No Amom (Tebas, em grego), a capital do sul do Egito.  Isso aconteceu várias vezes. Em 718 a.C., por Sargão III da Assíria; 714 a.C. pela Etiópia; 663 a.C. por Assurbanipal, da Assíria.

(3) Ele escreveu para consolar Judá quanto às ameaças de destruição por seus inimigos.

A data de 710 a.C., com Ezequias, é preferida por alguns porque àquela altura os assírios representavam uma grande ameaça a Judá.  Outros preferem a data de 650 – 620 a.C. nos reinados de Manassés e Josias porque assim a destruição de Tebas (Na 3.8 – “És tu melhor do que Tebas, que se sentava à beira do Nilo, cercada de águas, tendo por baluarte o mar, e as águas por muralha”) por Assurbanipal já teria acontecido em 663 a.C.

2. O GRANDE INIMIGO – NÍNIVE

Para entender o conteúdo de Naum precisamos saber algo sobre Nínive. Falemos da cidade.

Nínive era a capital da Assíria. Dois nomes, Nínive e Assíria, são intercambiados, usados para designar a mesma potência.  A cidade era assustadora.  Além do poderio militar, que a fez assombrar o mundo por pelo menos meio milênio, Nínive era de uma incrível crueldade, além de seu grosseiro paganismo. Um de seus métodos para tratar os vencidos era o do empalamento: atravessar  a pessoa com uma estaca afiada, que ia do ânus em direção ao tronco. O esfolamento, em que a pele da pessoa era tirada, com prática e com requintes de desumanidade, era um outro método de tratar os vencidos. Geralmente, conquistada uma cidade, alguns de seus habitantes eram levados como escravos para trabalhar na construção, mas outros, impossibilitados para o trabalho forçado, como doentes e idosos, eram levados como exemplo. Às portas de uma outra cidade sitiada, eram empalados ou esfolados, como sinal do que aconteceria aos moradores da cidade cercada se esta não se rendesse. Por tudo isto, Nínive era temida pelas pequenas nações que lhe pesados pagavam tributos para poder viver em paz. E assim entendemos o porquê da linguagem tão dura empregada pelo profeta, por ordem divina, à cidade. Deus pune a crueldade. E em matéria de crueldade, Nínive era imbatível.

No ministério profético de Isaías a Assíria, após ter destruído Israel, chegou às portas de Jerusalém. Num relato fantástico, a Bíblia mostra como Isaías, em nome de Iahweh, enfrentou o poder assírio e como o poderoso exército foi vencido às portas da cidade (2Cr 32, Is 36 e 37). Assim como viu o expansionismo assírio, o profeta viu o início de seu ocaso.

As origens ninivitas remontam a Gênesis 10.9-12: “Ele era poderoso caçador diante do Senhor; pelo que se diz: Como Ninrode, poderoso caçador diante do Senhor. O princípio do seu reino foi Babel, Ereque, Acade e Calné, na terra de Sinar. Desta mesma terra saiu ele para a Assíria e edificou Nínive, Reobote-Ir, Calá,  e Résem entre Nínive e Calá (esta é a grande cidade)”. O fundador de Nínive foi Ninrode, que, repitamos o texto, surge assim na Bíblia: “Ele era poderoso caçador diante do Senhor; pelo que se diz: Como Ninrode, poderoso caçador diante do Senhor”  (Gn 10.9). Ninrode, o poderoso caçador, fundou a cidade. O hebraico para “caçador” é tsayd, que tem sido interpretado por hebraístas como Cassuto e Calvino como “caçador de homens”. Ele  foi o primeiro escravista, o primeiro homem a fazer escravos e a dominar os outros. Foi assim que se tornou poderoso, caçando as pessoas, tornando-as escravas, oprimindo-as. As origens de Nínive estão na escravidão e na brutalidade.

Nínive era bem protegida.  A cidade media 48 km de extensão por 16 de largura, sendo protegida por cinco muralhas e três fossos. A chamada “Nínive interior”, que era a  capital propriamente dita,  media quase 5 km de largura por 2,5 de largura, protegida por muralhas de 30 metros de altura, o equivalente a um prédio de nove andares, hoje. Podemos ter uma idéia da grandeza da cidade com esta observação de Baxter:

Os muros tinham 30,5 m de altura, eram tão largos que três carros podiam andar lado a lado sobre eles. Essas paredes eram fortificadas com 1.500 torres, cada um com 61 metros de altura. Com base num levantamento trigonométrico, a área total foi calculada em 900 km quadrados – comparável à da moderna Londres! [1]

Esta segurança geográfica aliada ao seu poderoso exército fez da Assíria uma nação arrogante. O que acontece comumente com os poderosos. Ela se julgava imbatível, acima das demais. Ela fazia as suas próprias leis. Assim podemos  ter uma idéia do significado aterrorizante dos ninivitas para as nações do Oriente Médio antigo. E entendemos também  porque ela é a sombra que paira ameaçadoramente sobre o povo de Deus, na  primeira parte de Isaías. E também  porque Naum fala com tanta dureza contra ela. Seu fim chegaria. Vale a pena uma citação de Wiseman, sobre sua destruição:

A Crônica Babilônica relata como uma força conjunta de medos, babilônios e citas pôs cerco à cidade, a qual caiu em resultado das brechas feitas nos muros pelas águas do rio inundante (Na 2.6-8). A cidade foi assolada pelos medos, e o rei assírio, Sinshar-ishknun pereceu nas chamas, embora sua família tivesse escapado. A cidade foi abandonada e se transformou no montão de ruínas que ainda é hoje em dia (Na 2.10; 3.7), uma terra de pastagens para os rebanhos (Sf  2.13-15),  que empresta ao  cômoro da cidadela seu moderno nome de Tall Kuyunjik (cômoro de muitas ovelhas). [2]

Vale a pena ao estudante da Bíblia, que deseja mais compreensão e mais profundidade na Palavra de  Deus, a leitura do livro de Naum. É um livro pequeno, mas que mostra todo o desgosto divino contra a cruel Assíria.

Mas continuaremos as considerações sobre Nínive com a dura advertência contra ela feita por Sofonias: “Ainda ele estenderá a mão contra o Norte, e destruirá a Assíria; e fará de Nínive uma desolação, terra árida como o deserto. E no meio dela se deitarão manadas, todas as feras do campo; e alojar-se-ão nos capitéis dela tanto o pelicano como o ouriço; a voz das aves se ouvirá nas janelas; e haverá desolação nos limiares; pois ele tem posto a descoberto a obra de cedro.  Esta é a cidade alegre, que vivia em segurança, que dizia no seu coração: Eu sou, e fora de mim não há outra. Como se tem ela tornado em desolação, em covil de feras! Todo o que passar por ela assobiará, e meneará a mão”  (Sf   2.13-15). Esta advertência encontrada em outro profeta menor mostra como Nínive tinha uma reputação negativa no mundo da época e na mente dos profetas.

Em um de meus livros fiz o seguinte comentário sobre a cidade:

A poderosa Nínive foi tornada um deserto. Animais ferozes e cerimonialmente imundos passaram a habitar suas ruínas, cumprindo o versículo 15. um cenário melancólico e deprimente como destino final para quem se julgava tanta coisa!  No ano 401 a . C. o general ateniense Xenofonte passou pelo lugar onde outrora a arrogante Nínive se erguia. Ele soube que houvera ali, no passado, uma grande e poderosa cidade, mas pensou que ela tivesse sido destruída porque Zeus –  Deus grego – privara seus habitantes do seu juízo. Zeus era tão inexistente como os  deuses assírios, mas numa coisa Xenofonte estava certo: Nínive, como um todo, não regulava bem da cabeça para se presumir imbatível; como não está de posse de sua inteireza mental quem se presuma imbatível e se porte arrogantemente diante de  Deus, seja pessoa ou nação.[3]

3. O TEMA DO LIVRO

Uma sentença gramatical curta define o tema de Naum: “O grande julgamento divino sobre Nínive, a violenta rainha do oriente“. Ele pregou a mensagem que Jonas gostaria de ter pregado e viu o que Jonas gostaria  de ter visto, Nínive destruída.  Aliás, Jonas e Naum têm mais de uma coisa em comum: ambos tratam de Nínive, ambos terminam com uma pergunta e a pergunta com que ambos terminam não precisa de resposta. É retórica.  Mas têm algo de diferente: com Jonas, apesar de sua mensagem de destruição, houve arrependimento. Com Naum, apenas destruição.

4. ESBOÇO  DE NAUM

Há três partes no esboço de Naum:

  1. Declaração do divino julgamento de Nínive ………………………………………..1.1-15

(1)   O Juiz Divino ………………..               1.1-7

(2)   O Julgamento Divino ……..                1.8-15

  1. Descrição do divino julgamento de Nínive ………………………………………….2.1-13
  2. Motivos do divino julgamento de Nínive …………………………………………….3.1-19

Observe que a expressão chave nas três divisões é “divino julgamento de Nínive”. Observe, ainda, que a primeira divisão tem duas subdivisões, sendo que a primeira chama a atenção para quem vai julgar. O sujeito do livro não é Nínive nem o profeta. É Deus. Muitas vezes somos tentados a nos vingar das pessoas que nos fazem mal. Gostaríamos que Deus julgasse este mundo iníquo e depravado o mais cedo possível e exaltasse a Igreja. Mas não nos compete a vingança. Deus é o juiz e retribui no tempo certo, segundo seu relógio. Lembremos de Hebreus 10.30: “Pois conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo”. Deus não perdeu o controle do mundo e age no tempo que lhe apraz.

5. OBJETIVO DO LIVRO

O livro, em linguagem poética, foi escrito para consolar Judá com referência ao seu feroz inimigo, a Assíria, profetizando a completa destruição de Nínive e a proteção de Judá (veja Is 14.24-27).  A justiça e o julgamento de Deus sobressaem no livro.  Neste sentido, os versículos chaves são 1.2-3: “O Senhor é um Deus zeloso e vingador; o Senhor é vingador e cheio de indignação; o Senhor toma vingança contra os seus adversários, e guarda a ira contra os seus inimigos. O Senhor é tardio em irar-se, e de grande poder, e ao culpado de maneira alguma terá por inocente; o Senhor tem o seu caminho no turbilhão e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés”,  e 1.7: “O Senhor é bom, uma fortaleza no dia da angústia; e conhece os que nele confiam”. Aliás, este é um versículo que vale a pena ser decorado e internalizado no coração. É uma das jóias ocultas nas páginas da Bíblia.

Em que este objetivo nos serve? Serve para ensinar que ninguém está cima de Deus, ninguém escapa de seu juízo e que os pecados são cobrados, um dia, quando a justiça divina entende que chegou a hora. Ensina, ainda, que os adversários do povo de Deus serão julgados por Deus. Assim é que entramos no tópico “O caráter retribuidor de Deus”.

6. O CARÁTER RETRIBUIDOR DE DEUS (Na 1.2-3,6)

Naum descreve  um Deus zeloso e vingativo, que virá com ira abrasadora contra seus inimigos, como se vê logo em 1.6: “Quem pode manter-se diante do seu furor? e quem pode subsistir diante do ardor da sua ira? a sua cólera se derramou como um fogo, e por ele as rochas são fendidas”. A propósito deste caráter de Deus veja também  Úxodo 20.5; 32.9-10; Deuteronômio 4.24; Josué 24.19; Romanos 12.19; Hebreus 12.29; Apocalipse 6.15-17; 19.15.  Ao mesmo tempo, Deus é tardio em irar-se e de grande compaixão para com os que se humilham e arrependem. Veja-se, a propósito, Úxodo 34.6-7; Números 14.18; Salmo 103.8 e 145.8-9.  Naum é o livro de julgamento que Jonas gostaria de ter escrito (Jn 4.2). Naum declara enfaticamente o julgamento dos ninivitas porque além da crueldade já mencionada, eles teriam recebido a misericórdia anos atrás, com Jonas. Foram advertidos, arrependeram-se, foram perdoados, mas teriam voltado à iniquidade e crueldade (Ez 18.20-27).  Desprezaram a graça de Deus. Seu arrependimento foi efêmero, fugaz, só para se livrar de uma situação. Não foi uma conversão que modificou a vida nacional. A retomada da antiga perversidade e violência intensificou o peso do seu castigo, sobretudo diante do desrespeito à misericórdia divina.  A antiga cidade de Nínive era um símbolo clássico do mundo quanto ao seu poder, violência e rebeldia contra Deus.  O Deus vingador descrito por Naum é um dos quadros mais aterradores da Bíblia.  Enquanto o livro de Jonas apresenta a misericórdia do Senhor estendida aos gentios desconhecedores da Lei de Deus, Naum retrata a ira e o julgamento divino das nações, conhecendo ou não a Lei de Deus, porque vivem segundo a lei da selva – do pecado, da violência, do poder do mais forte, da rebeldia contra Deus e a humanidade (Rm 1.21-23,32; 2.6-16). Ao mesmo tempo a obra de Naum é uma advertência muito clara sobre o perigo de alguém ser advertido por Deus, reconhecer a necessidade de mudar, mas retornar à prática do pecado. Devem vir à nossa mente as palavras de Hebreus 2.1: “Por isso convém atentarmos mais diligentemente para as coisas que ouvimos, para que em tempo algum nos desviemos delas”. É preciso ouvir, crer e permanecer naquilo em que se creu.

7. AS LEIS DO COMPORTAMENTO HUMANO

Eis uma curiosidade, mas não uma inutilidade, para nossa reflexão, baseada nas quatro possibilidades de comportamento que podemos assumir:

(1) Lei da selva – faça ao outro antes que ele faça a você. Antes que a outra pessoa lhe faça mal, faça-o preventivamente. Aniquile-a. É a chamada “guerra de prevenção”. Antes que os hebreus pudessem se tornar um perigo para o Egito, Faraó tomou as providências para aniquilar o povo, mandando matar os meninos que nascessem.

(2) Lei do Antigo Testamento – faça ao outro como ele fez a você. É a chamada lex talionis, e a vemos bem descrita em Úxodo 21.23-25: “mas se resultar dano, então darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe”. Infelizmente isto não ficou restrito ao judaísmo, mas pode ser visto na prática de muitos cristãos ou na forma de muitos se relacionarem, valendo-se de um autêntico “bateu-levou”.

(3) Lei do senso comum – faça ao outro como você quer que ele faça a você. Se a pessoa trata bem será bem tratada. O valor na é o que a pessoa é, mas  como ela quer que as outras sejam. “Minha educação depende da sua”. A virtude não é virtude, mas apenas moeda de troca. O relacionamento nunca é absoluto, determinado pelo caráter da pessoa, mas é sempre de forma relativa, buscando enquadrar a outra pessoa dentro do nosso esquema.

(4) Lei de Cristo – ame até seus inimigos. Cabem aqui as palavras de Jesus em Mateus 5.43-48: “Ouvistes que foi dito: Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos. Pois, se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis demais? não fazem os gentios também o mesmo? Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial”. Lembremos, ainda de Romanos 13.8-10: “A ninguém devais coisa alguma, senão o amor recíproco; pois quem ama ao próximo tem cumprido a lei. Com efeito: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo. De modo que o amor é o cumprimento da lei”. E, por fim, Gálatas 5.14 e 6.1-2: “Pois toda a lei se cumpre numa só palavra, a saber: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” e “Irmãos, se um homem chegar a ser surpreendido em algum delito, vós que sois espirituais corrigi o tal com espírito de mansidão; e olha por ti mesmo, para que também tu não sejas tentado. Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo”.

CONCLUSÃO

A grande lição teológica de Naum é a direção de Deus na história. Os impérios humanos são cruéis. Apesar de muitos crentes acharem que podemos construir uma sociedade cristã justa e perfeita neste mundo, o que não conseguiremos, mas não deve nos levar a desistir de lutar por justiça social, o fato é que o mundo está nas mãos de ímpios. Apesar de tantas declarações pomposas de que tal lugar pertence ao Senhor Jesus, declaração exibida em placas em entradas de cidades, o mundo “jaz no Maligno” (1Jo 5.19). Ou como diz a Linguagem de Hoje: “o mundo inteiro está debaixo do poder do Diabo”.

Mas Deus retomará o que é seu, aniquilando o poder do Mal. E dá mostras disto derrubando reinos, nações e culturas quando estas se ensoberbecem. Nós somos testemunhas históricas da queda do poder maior mundial de todos os tempos, o bloco soviético. Eram treze fusos horários, fazendo com que o sol nunca se pusesse sob o domínio soviético. Muitos preconizavam o domínio deste sistema em todo o mundo. Seus saudosos órfãos o julgavam imbatível a mais perfeita expressão de justiça social no mundo. Quando aprouve a Deus que chegasse ao fim, chegou. Nação alguma, por mais poderosa que seja, escapará do juízo divino. É oportuno aqui lembrar a palavra de Daniel 2.20-21: “Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque são dele a sabedoria e a força. Ele muda os tempos e as estações; ele remove os reis e estabelece os reis; é ele quem dá a sabedoria aos sábios e o entendimento aos entendidos”.

Deus é o Senhor da história. Nunca perdeu e nunca perderá o domínio. Eventualmente pode demorar em seu juízo, porque seu relógio não é o nosso, mas por fim, sua vontade prevalecerá. Para os incrédulos, uma advertência. Para nós, uma promessa. Há um Deus que pune o mal e que faz sua vontade triunfar. Há um Deus que vê os adversários de seu povo e os pune no momento certo. Por isto, confiemos no poder de um Deus que conduz a história e que a faz caminhar para onde ele deseja.


[1] BAXTER, J. Examinai as Escrituras. S. Paulo: Edições Vida Nova,  vol. 3, 1995, p. 228.

[2] SHEDD , Russel (ed.) O Novo Dicionário da Bíblia. S. Paulo: Edições Vida Nova, 2o.  vol. 1965, p.  1112

[3] COELHO FILHO,  Isaltino. Sofonias e Obadias – Nossos Contemporâneos. Rio de Janeiro, 1993, p. 86

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