Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
Pastoral do boletim da Igreja Batista Central de Macapá, 20.3.11
Uma pessoa que têm o hábito de ser do contra disse que ao invés de enviarmos missionários para a África, devíamos pedir perdão aos africanos por causa da escravidão.
Tô fora! Nunca tive escravos. Sou branco, de cabelos e olhos claros, mas é acidente genético. A mãe de meu pai, Vó Isaltina, era mulata. Meus ancestrais maternos e paternos trabalharam como se fossem escravos, aqui no Brasil. Os paternos Gomes Coelho, portugueses, se acabaram no cabo da enxada. Os maternos Werdan Suhett, suíços, vieram a convite de D. Pedro, que queria evitar a “mulatização” do país. Foram iludidos e se acabaram no cabo da enxada. Nunca tive escravos. Nem meus ancestrais, portugueses e suíços. Por que pedir perdão por algo que eles nunca fizeram?
Segundo a pessoa, os brancos sequestraram os filhos da África. Fosse ler, ao invés de repetir chavões, saberia que a África vendeu seus filhos. Tribos africanas caçavam e vendiam seus inimigos aos brancos. Países africanos foram os últimos a abolirem a escravidão.
Perdão profético é sentimentalismo e vaidade. No fundo, o que a pessoa está dizendo é o seguinte: “Você e eu nada temos com isso, mas eu quero que você veja como eu sou um cara legal. Eu não sou como esses do passado. Estou até pedindo perdão por eles. Viu como sou bom?”. É fácil pedir perdão aos africanos e aos índios por pecados que supostamente nossos ancestrais cometeram. O difícil é pedir perdão às pessoas que ofendemos hoje. Ao motorista de trânsito com quem se trocou gestos obscenos. Ao professor que se desrespeitou ou porque colou na prova. Ao cônjuge, porque foi grosseiro.
A Bíblia fala da responsabilidade individual. Cada um leva sua própria maldade e é responsável por sua vida: “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai levará a iniquidade do filho, A justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele” (Ez 18.20).
Jesus não me disse para pedir perdão por supostos pecados cometidos por supostos ancestrais. Mas me mandou pregar o evangelho a todas as nações: “Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15). Ando farto de tolices teológicas ditas com ar de gravidade por algum guru ou apóstolo que reinventa o evangelho. Interessa-me saber o que a Bíblia diz. Particularmente o que o Novo Testamento, que interpreta o Antigo, diz.
Não vou pedir perdão porque nunca tive escravos. Mas fui escravo do pecado. E devo dizer aos escravos do pecado que Jesus os liberta. Perdão profético, não. Evangelização e missões, sim. Por isso, amo missões, faço missões e contribuo para missões.