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JESUS E A LEI DE MOISÉS

  • por

Isaltino Gomes Coelho Filho

 

“Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus. Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mt 5.17-20).

 

Publicado originalmente na revista “Você”. Postado no site por deferência da revista.

 

A relação entre Jesus e a Lei tem sido muito debatida. Não esgotaremos o assunto aqui, mas podemos dar algo por certo: ele não a aboliu: “Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas”. Mas ele a reinterpretou, ou seja, ele lhe deu novo sentido. Em várias ocasiões ele citou algo que a Lei dizia e a seguir disse: “Eu, porém”, dando sua interpretação: Mateus 5.21-22, 27-28, 31-32, 33-34, 38-39 e 19.8-9. Afinal, foi dele que Moisés, que entregou a Lei a Israel, escreveu: João 1.45 e 5.46.

Segundo Jesus, a Lei nunca passaria: “até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja cumprido“. Mas as palavras de Jesus, incluindo sua interpretação de Moises, também não passarão: “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão” (Mt 24.35).

 

Isto significa que Jesus é o grande intérprete da Lei. Seu ensino é o padrão para entendê-la. Assim sendo, o Novo Testamento interpreta o Antigo, porque o completa e esclarece. E Jesus é a chave para se entender o Novo Testamento, pois é dele que este fala. Sem Jesus, o ensino da Bíblia é incompleto, e será como o dos escribas e fariseus, perdidos em regrinhas, que eles fizeram. E Jesus disse: “Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus”.

 

O autor de Hebreus entendeu isto, ao dizer que Jesus foi a última palavra de Deus aos homens: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por quem fez também o mundo” (Hb 1.1-2). Quando Jesus se retirou deste mundo, enviou o Espírito Santo, que completou seu ensino aos apóstolos e recordou-lhe o que Jesus ensinara: “Mas o Ajudador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito” (Jo 14.26). Os escritos do Novo Testamento completam o ensino de Jesus, porque o Espírito inspirou os escritores: “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.21).  “A profecia”, aqui, é um termo amplo. Ele não especifica uma profecia, mas refere-se a algo geral, a revelação.

 

Como muita gente gosta de fazer com a religião, no tempo de Jesus, os líderes transformaram os dez mandamentos num cipoal de regras. Eram agora 613 mandamentos, sendo 248 positivos (porque achavam que esse era o número de ossos do corpo humano) e 365 negativos (um para cada dia do ano). Esses mandamentos tinham subdivisões. O do sábado, por exemplo, tinha setenta divisões e cada subdivisão tinha setenta subdivisões. Assim se entende bem a conversa de Jesus com um dos doutores da Lei, conforme registra Mateus: “Mestre, qual é o grande mandamento na lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mt 22.36-40).

 

Jesus sintetizou a Lei (os dez mandamentos de Moisés ou os 613 da tradição) em apenas dois: amar a Deus e ao próximo. Ele acabou com os “não” dos dez mandamentos, bem como com os mandamentos negativos da tradição. E também tornou a Lei positiva, um ato de amor. Por isso que o teólogo Agostinho pronunciou a célebre expressão “Ama e faz o que quiseres”. Quem ama realmente, com amor puro, sem distorções, nunca faz o mal. E busca agradar a quem ama.

 

Dos dez mandamentos, os quatro primeiros eram alusivos a Deus e os seis últimos ao próximo. Algumas representações gráficas mostrando Moisés trazendo a Lei exibiam-no com dois blocos de pedra. No primeiro, os mandamentos referentes a Deus e na segunda os referentes ao próximo. Os mandamentos com respeito a Deus são verticais (homem e Deus). Os mandamentos com respeito ao próximo são horizontais (homem e homem). Belo quadro do que seja a cruz de Jesus: uma linha vertical e uma linha horizontal. Sem uma dessas duas linhas não há cruz. A cruz é um símbolo do relacionamento com Deus e com o próximo. Uma linha para cima e outra para os lados. Uma figura de como a cruz resolve a questão da Lei. Cristo a cumpriu, como disse que viera fazer. E, quando cremos nele, ele atribui o mérito do cumprimento a Lei nós. Somos justificados, perdoados, por ele.

 

Os fariseus se orgulhavam de conhecer e procurar cumprir a Lei. E cumpriam. A lei deles, não a de Deus, porque tramaram a morte de Jesus. E se esmeravam em conhecer a Lei, mas não conheciam a Deus. Por isso é bom lembrar: não basta ter informações sobre Deus. É preciso conhecer a Deus e fazer a sua vontade. Quando nos rendemos ao homem da cruz, passamos a conhecer a Deus, e podemos fazer a sua vontade. Amamos a Deus e ao próximo.

 

 

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