Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
Pastoral do boletim da Igreja Batista Central de Macapá, 23.10.11
Uma de minhas ovelhas estreou óculos novos. Disse que estava vendo bem, e, como trabalha com digitação, agora erraria menos. Comentei que seria bom se houvessem óculos morais, para nos ajudar a errar menos. Logo me veio à mente que temos óculos morais: a Bíblia. Ela, além de ser a auto-revelação de Deus, tem o poder de nos orientar na vida, em todas as questões. A Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira diz que ela é “o fiel padrão pelo qual devem ser aferidas a doutrina e a conduta dos homens”.
A questão é que ela tem deixado de ser os óculos pelos quais examinamos o mundo, e passado a ser o objeto examinado. Ela tem sido interpretada à luz de pensadores ou de correntes seculares de pensamentos. Vi um trabalho intitulado “Uma visão afro da Bíblia”. Isto é tão válido quanto “Uma visão ariana da Bíblia”. As pessoas têm seus pressupostos e interpretam a Bíblia à luz deles. Outras interpretam à luz dos fundadores de suas seitas, como Ellen White, Joseph Smith, e menores. A Bíblia deve reger a doutrina da igreja e a vida dos fiéis, não o oposto.
Por outro lado há pessoas que defendem o que pensam ser doutrina bíblica com uma truculência que não compete aos crentes em Cristo. A Bíblia não precisa de quem a defenda, mas de quem a viva. Violência em nome da ortodoxia é um absurdo. Já vi gente defender o que julga ser doutrina correta com palavras vulgares e de ódio. É “zelo sem entendimento” (Rm 10.2). Foi assim que surgiram as fogueiras da Inquisição. Felizmente hoje é proibido queimar discordantes doutrinários.
Quem tem a Bíblia como óculos morais cultiva a ortopraxia, “conduta correta”. Procura viver como as epístolas recomendam. Paulo usa muito as expressões “antes” e “depois”, ou “antes”e “agora”. Como éramos antes e como somos agora. Um irmão deu um testemunho de como brigava nos bares, antes de sua conversão, mas agora era convertido. Meu filho, na ocasião adolescente, comentou: “Antes ele dava garrafada nos bares, agora dá garrafadas verbais na sessão da igreja”. Mudara o lugar, mas não o hábito.
Ter a Bíblia como óculos não é apenas pautar a doutrina por ela. É pautar também o comportamento, o vocabulário, as atitudes, a maneira de tratar os outros. Não basta dizer que se tem a doutrina correta. É preciso ser correto. É preciso tratar os outros corretamente.
Ter a Bíblia como óculos doutrinários não é muito difícil. Ainda mais porque muitos vêem o que querem ver, de doutrina na Bíblia. Mas tê-la como óculos morais é mais difícil e mais necessário. Trata-se de vivê-la. Trata-se de obedecer ao seu ensino, mais que defendê-lo.
Vamos viver os ensinos bíblicos! Principalmente os relacionais, que tratam da vivência cristã. Porque sobra credo ao mundo evangélico. E falta conduta.