Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
Pastoral do boletim da Igreja Batista Central de Macapá, 13.11.11
Voltei a Parintins, após catorze anos. Fui pregar nos 15 anos da 2ª. Igreja, pastoreada pelo Pr. Antonio. Templo grande, com ar condicionado, frequências ao redor de 300 pessoas. Reencontrei o Elmer, filho do Pr. Lessa, o homem que implantou o evangelho na ilha, há mais de meio século. Hoje é o Pr. Elmer, da PIB. A família Lessa foi perseguida e até atentado de morte sofreu. A PIB de Parintins se aproxima dos 1.000 membros. O Colégio Batista vai bem, e não está endividado.
Quando o Pr. Elmer era adolescente fizemos uma viagem louca à aldeia saterê na reserva Vila Nova. Os rios transbordavam e a água batia na copa das árvores. Ele, eu, o Brilhante (hoje pastor) e o Dr. Joel Afonso (PIB de Manaus) para tratar dos índios. Fui como Presidente da Convenção Batista do Amazonas. Fora lançado o NT em saterê e agora se lançavam Gênesis e Úxodo. Recebemos a Igreja Saterê, com 40 membros, no seio da Convenção. No ano seguinte, presidi a assembléia convencional, em Parintins. A Igreja estava com 120 membros e seu exuberante coral se apresentou, cantando em saterê.
Parintins é a terra dos bois Garantido e Caprichoso, que já foram folclore e hoje são indústria cultural. Seu clima é úmido e muito quente. Tudo é distante e difícil. Por isso não fui a Nhamundá ver o amigo Brilhante. Os rios baixaram, não há lancha a jato, só o barco de linha. Em vez de duas horas seriam oito e eu perderia os vôos (ao todo, oito horas em aviões de hélice até chegar a Macapá). O resultado da festa do boi não tem a plástica televisiva: mães solteiras, filhos sem pais, drogas, violência. Aqui, literalmente, o Bicho (aquele!) pega.
O Pr. Elmer me disse que o Pr. Alberto Graham, tradutor da Bíblia para o idioma saterê havia falecido, nos EUA. Sua esposa, Sue, trouxe suas cinzas e as sepultou na aldeia, ao lado do ex-tuxaua da tribo, pai do Pr. Maxyko, nativo da aldeia. Suas cinzas repousam na aldeia do povo que ele amou. Ele ressuscitará com os saterês salvos.
As igrejas crescem, têm congregações, treinam liderança entre os ribeirinhos e os indígenas. Com lutas, dificuldades, escassez de gente treinada e de recursos financeiros, a obra segue. Homens como o Pr. Lessa (um dos “monstros sagrados” da obra batista no Brasil), Pr. Graham, Pr. Élmer, Pr. Brilhante, Pr. Antonio (2ª. de Parintins) fazem-na andar, sendo instrumentos de Deus. Enquanto houver gente assim, o evangelho continuará crescendo. Nem o Bicho nem os bois impedem o avanço do Cordeiro.
Histórias do povo de Deus na Amazônia. Histórias que edificam. Por elas digo Uaco sesse Tupana. Se o saterê não me falha (metido!): Obrigado muito forte, meu Deus! Vale a pena trabalhar aqui!