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VOCÚ DIRIGE UM CARRO ROUBADO?

Isaltino Gomes Coelho Filho

 

No excelente livro “Fim de jogo”, John Ortberg conta a história de uma senhora que parou atrás de um carro que freara no amarelo, em um semáforo. A senhora buzinou, gesticulou ofensivamente e dirigiu palavrões ao motorista parado à sua frente. Um guarda de trânsito bateu no vidro ao seu lado, pediu-lhe para sair, pediu os documentos do veículo, levou-a à Delegacia, onde ela foi fichada, suas digitais tiradas e verificou-se se o carro era dela mesmo.

Era. O guarda pediu-lhe desculpas e disse que pensou que o carro fosse roubado porque havia um adesivo no vidro traseiro: “O que Jesus faria?”. E outro adesivo com os dizeres: “Siga-me até a Escola Bíblica Dominical”. Além disso, no porta-malas havia o adesivo de um peixe, símbolo cristão. O guarda disse que notou que o carro era de um crente em Jesus Cristo, mas o motorista não mostrava ser o proprietário do veículo. Pensou que fosse um carro roubado.

 

Cá no Brasil, um crente em Jesus, ex-ovelha minha, guarda de trânsito, contou-me de uma pessoa que avançou o semáforo e ele, o guarda, o parou. Sobre o painel, uma Bíblia e uma revista da EBD. O motorista estava com pressa, e lhe ofereceu R$ 10,00  “para uma cervejinha”. O guarda lhe disse: “O senhor é crente?”. O motorista enrubesceu e disse que sim, e, meio sem graça, disse que era professor da Escola Dominical e estava atrasado, por isso furara o semáforo. Continuou o agente de trânsito: “Sou seu irmão em Cristo. O senhor peca, indo para a igreja, e tenta subornar um agente da lei? Diante da esposa e dos filhos? E com a Palavra de Deus diante de si?”. Multou o motorista (não sou especialista em leis, mas creio que poderia tê-lo prendido por tentativa de suborno) e ficou, ele, o guarda, que era crente novo, arrasado. “Como pode, pastor, uma pessoa que se diz crente fazer isso?”.

 

Há um descompasso entre credo e vida em nosso meio. Publiquei uma pergunta despretensiosa no Facebook: Se os membros de igreja procedessem nas assembléias da igreja como seus pastores procedem em assembléias convencionas, como os pastores reagiriam? Coisa banal, mas como choveram respostas! Em parte porque todo mundo quer falar alguma coisa, hoje nos meios de comunicação social. Em parte porque a frase “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” se tornou muito forte em nosso meio. O testemunho tem sido esquecido, e qualquer repreensão é chamada de “patrulhamento”. Os crentes tentam calar a voz do Espírito Santo, esgrimindo seus “direitos” sociais. Julgam que podem fazer o que querem, sem dar satisfações a ninguém, porque religião faz parte da esfera privada da vida da pessoa. É entre ela e Deus. Muita gente encrenca com a igreja porque deseja viver o seu evangelho, a sua vida cristã, sem interrelacionamento com os demais crentes. Julgam que podem pecar à vontade, fecham-se em seu coração endurecido, e atacam a igreja, acionando seu mecanismo de defesa. Não oferecem propina, mas justificam-se pelo ataque. Não podem subornar, tentam acuar. Honestamente: ainda não vi um crítico da igreja e da vida comunitária cuja vida cristã seja opulenta.

 

Francis Schaeffer foi muito feliz quando disse que “a salvação é individual, mas não individualista”. Vivemos em grupo, temos satisfações a dar à igreja, sim, e nossa vida cristã diz respeito a todo mundo. Basta ler o Novo Testamento para verificar isso. Precisamos de cautela nos atos, conduta e palavras. Podemos honrar ou denegrir o evangelho com nossa vida. Podemos escandalizar ou edificar um irmão. Nada de praguejar atrás dos outros. Nada de dirigir carro de quem não parecemos ser o proprietário.

 

É por isso que faço esta pergunta. Tão despretensiosa como a que publiquei no Facebook: Você está vivendo de uma maneira que mostra o evangelho em sua vida  e que honra a igreja de Jesus? Ou está dirigindo um carro roubado?

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