Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
Pastoral do boletim da Igreja Batista Central de Macapá, 15.4.12
Saí de Manaus em 1998, após cinco anos pastoreando a PIB da cidade. Não saí corrido, mas com o Corpo Diaconal pedindo para reconsiderar a decisão. Pensei que ainda pudesse sentir-me bem na educação teológica, mas errei. Bem, isso é outro caso. Manaus é rica e imponente, a princesa da floresta, e a sexta cidade do Brasil em PIB (Produto Interno Bruto). Superou Porto Alegre e tem apenas S. Paulo, Rio, Brasília, Curitiba e Belo Horizonte à frente. O trabalho batista é forte e continua crescendo. Dizer que a qualidade de vida de uma cidade afeta o progresso do evangelho colide com os fatos. Manaus enriquece e o evangelho cresce.
Fui ministrar um curso sobre “Exegese e pregação cristã no Antigo Testamento”, para cerca de setenta pastores e pregadores. E preguei numa igreja pastoreada por ex-aluno, que a iniciou, há sete anos, do ponto zero, e hoje conta com 160 membros. É muito confortador ver o progresso dos ex-alunos e saber que, após catorze anos de minha saída, ainda sou respeitado. Não é questão de massagem no ego, mas de saber que não trabalhei em vão.
De Manaus a Macapá. Manaus no interior, Macapá quase no litoral. Ou no litoral, sei lá. Essa briga do rio com o mar é curiosa. Quando é rio e quando é mar? Manaus é rica. É a princesa da floresta. Macapá é a pobretona. Manaus é amada. Macapá parece ser odiada. Pelos seus administradores (como a cidade é maltratada!) e pelo seu povo, que também não a trata bem. O trabalho batista é fraco, as igrejas poucas e pequenas e há ausência de visão do todo. Há muita carreira solo, muita gente cuidando do seu jardinzinho ou querendo ser grande. Poucos querem ser pastor. O charme é ser apóstolo.
Chego e recebo um email de um irmão do Sudeste. Pergunta-me, respeitoso, por que estou aqui, quando poderia ter optado por outra cidade. Perguntaram-me isso várias vezes, mas nunca pensei no assunto. Foi-me tão natural vir para cá! Pastor não opta. Deus lhe mostra e ele acata. Ou não. Ficou-me claro que este era meu campo!
Não sou magnânimo nem herói. Sou um pastor comum. Que entende que é um privilegiado por ser vocacionado para o ministério. É privilegiado por ter uma igreja na qual vale a pena investir. Por ter um rebanho que tem crescido espiritualmente e me feito crescer com ele. Sou um pastor comum, que se sente realizado por ter a confiança de Deus e de uma igreja para pastoreá-la. Gostaria muito, mas muito mesmo, que parassem de me ver como um herói ou como um sofredor. Vivo numa cidade boa, numa casa boa, com gente boa, com uma igreja boa, e a serviço de um Deus que é sumamente bom.
Nem sei se escrevi uma pastoral, uma confissão ou um desabafo. Mas escrevi de coração. Não sou um coitado nem um herói. Sou um privilegiado. Sou pastor da Igreja Batista Central de Macapá, no Amapá. Com muita alegria.