Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
Pastoral do boletim da Igreja Batista Central de Macapá, 21 de abril de 2013
Domingo passado escrevi a pastoral sobre duas ervas, a phylanthus e a cannabis. Pensei que fosse a cannabis do vizinho que cheirava mal, mas era a minha phylanthus. Uma ex-ovelha de Campinas comentou que se isso lhe lembrava duma anedota que corre pela Internet, da mulher que criticava a roupa encardida que a vizinha punha para secar. Até que um dia a roupa não estava mais encardida. Quando a mulher comentou isso, seu marido disse que ele lavara as vidraças da sua casa. Não era a roupa da vizinha. Era a vidraça suja da crítica.
É uma realidade nas igrejas evangélicas. Como os membros de igreja gostam de apontar os defeitos alheios, normalmente para esconder suas falhas! É difícil dizer: “Pequei!”. É mais fácil apontar o pecado alheio!
Recordo-me de um sermão que o Pr. Renato Cordeiro pregou na Central de Macapá, sobre Saul. Por que Deus o rejeitou, e não a Davi, sendo que este tinha uma “ficha” que serve de pretexto, até hoje, para lhe darem bordoadas no púlpito? O Pr. Renato mostrou que o grande pecado de Saul foi a soberba. Questionado por Natã, que o acusou do pecado, Davi logo exclamou “Pequei!” (2Sm 12.13). Questionado por Samuel, quando de seu pecado, Saul valeu-se de evasivas e só disse que errara após um “aperto” de Samuel. Ainda assim sua preocupação foi com sua imagem: “Honra-me agora diante dos anciãos” (1Sm 15.30).
Há membros de igreja muito imaturos, autênticas crianças espirituais. Só que criança espiritual não dá alegria como as crianças etárias. Só traz dificuldades e cria problemas. E muito da criancice espiritual é por ausência de senso de autocrítica. Porque vida espiritual abundante começa quando a pessoa se vê como pecadora, reconhece seus erros, pede perdão, tem humildade para voltar atrás e reorganiza a vida. Ninguém será um cristão de vida espiritual transbordante, autêntica e não artificial, se primeiro não se enxergar como pecador e clamar por perdão. Há muito triunfalismo em nossas igrejas, e pouco senso crítico. A consciência de pecado está esgarçada. O conceito de graça está diluído. Mas não temos mérito. Tudo é graça, apenas graça. Não somos tão bons como imaginamos, nem nossas bênçãos são por merecimento. São bondade de um Deus gracioso. Menos “eu” e mais “Tu” e “eles” ajuda muito.
Menos phylantus e menos vidraças sujas nos fariam reclamar menos da cannabis e dos lençóis encardidos alheios. Quando teve a visão da glória do Senhor, Isaías não saiu apregoando sua espiritualidade. Seu primeiro grito foi: “Ai de mim!”. Tornou-se o “Príncipe dos profetas”, mas o começo foi aqui: “sou um homem de lábios impuros…” (Is 6.5).
Vamos limpar nossas vidraças?