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julho 2006

É impossível ficar indiferente quando a felicidade cruza o nosso caminho…

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É Impossível Ficar Indiferente Quando A Felicidade Cruza O Nosso Caminho…

            Não é romance de banca de jornal. Nem “filosofia de farmácia”, um pensamento de almanaque de laboratório. É um outdoor, numa das mais bonitas e bem cuidadas avenidas campineiras, a Aquidabã, indo do charmoso Cambuí para a Anhangüera. Propaganda de automóvel. Fiat. Com preço: R$ 24.990,00. Acho que é. A velocidade local não permite focar a atenção.
            Então tá. A felicidade passa à nossa frente, como um Fiat, e custa cerca de R$ 25.000,00. Ela se movimenta, em forma de carro. Mas tinha que ser Fiat? E expressa num cartaz enfeando a Aquidabã?
            Deixando a verve de lado, mais uma vez o equívoco que a publicidade nos empurra: felicidade é ter bens materiais. É a visão mundana de que carros, que devem ser vistos como instrumentos de transporte, são símbolos de status (Fiat? De 24 mil?). A felicidade está em ter coisas e mostrar algo aos olhos alheios. É o espírito de competição: “Sou feliz e bem-sucedido, tendo algo que você não tem”.
            Ter posses é melhor que não tê-las. Não sou pobre por opção, mas por contingência. Filho de pobre, casei-me com filha de pobre. Não tenho herança material a receber. Mas pobreza ou escassez de bens não é virtude. E riqueza e fartura material não são pecado.  No neopentecostalismo é o oposto. Escassez é coisa do demônio, pomposamente chamado de “Devorador”, e riquezas e fartura são bênção de Deus. Assim, a religião sacraliza os bens como o maior valor da vida.
            As coisas não podem ser o alvo supremo da vida. Se forem, nos frustraremos.  Precisamos de bens e de recursos financeiros. Até a igreja precisa. Mas coisas e dinheiro são incapazes de dar sentido à vida humana. Nossa dignidade e nosso valor não estão nas coisas, mas na nossa relação para com elas. Como ganhamos, como aplicamos, como vemos os bens. Muita gente, ao invés de usar os bens, inclusive para a glória de Deus, é dominada por eles. Faz dos bens o seu deus. Muitos, até crentes em Cristo, caem neste engodo. Colocam o significado da vida em bens materiais e sucesso econômico. Na ânsia de mais, sacrificam a família, privando-a de sua presença. Sacrificam o reino de Deus, sonegando contribuições. São desleais com sua igreja: dela recebem, nela não aplicam. Muitos sacrificam honra e dignidade. A polícia paulista, nesta semana, em confronto, matou alguns bandidos do PCC. Uma senhora que abrigava quatro desses bandidos disse que não se importava com o que eles eram e com o que faziam. Ela recebia alguma coisa deles. É isto: o banditismo é irrelevante, desde que nos beneficie. A moral foi posta de lado (e, incoerentemente, uma sociedade que baniu a moral fala de ética) em troca de dinheiro. O certo é o que dá dinheiro.
            Como crentes em Cristo precisamos de seriedade no trato com os bens. Eles são coisas, não pessoas e menos ainda Deus. Precisamos de seriedade na forma de ganhar nossos recursos (um crente em Cristo vendendo drogas ou abrigando bandidos?) e na maneira de aplicá-los. E saber que se temos recursos, é bondade de Deus. Ele pode tirá-las. Pode cassar-nos os meios de consegui-los.  Não devemos nos conformar com a miséria. Subamos na vida, se pudermos, mas sem deixar Deus no degrau de baixo. Diz o Salmo 62.10: “Ainda que suas riquezas aumentem, não confiem nelas”. Diz Provérbios 22.1: “O bom nome vale mais que muitas riquezas”. Caráter vale mais que dinheiro. Vale mais ser decente e íntegro aos olhos de Deus que ter muitas coisas aos olhos humanos.
            Felicidade não está nas coisas. Nem num carro. É mais que isso. Um coração limpo diante de Deus experimenta satisfação muito maior que ter um Fiat de R$ 25.000,00.

Isaltino Gomes Coelho Filho

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