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Isaltino

DOIS TIPOS DE DISCÍPULOS

Isaltino Gomes Coelho Filho

“Respondeu-lhe Felipe: Duzentos denários de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pouco. Ao que lhe disse um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro: Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto para tantos?” – João 6.7-9

Filipe e André são discípulos de Jesus com nomes gregos significativos: “amigo dos cavalos” e “homem”. Um voltado para animais e outro para pessoas. Ambos são mais de bastidores que da linha de frente. São mencionados sempre em papéis secundários, e nunca propriamente de comando.

André é uma figura fantástica. Viveu nos bastidores e à sombra do irmão, Pedro, que ele levou a Jesus. Sempre com uma palavra positiva e colaborando para decisões. No episódio em tela, Jesus levanta a questão: onde arranjar comida para tanta gente? Já decidiu o que fará, mas experimenta os discípulos. Se foi um teste, do ponto de vista de Recursos Humanos, Filipe foi reprovado e André foi aprovado.

Quando Jesus traz o problema a Filipe, este o agrava: sete meses de salário de um trabalhador não bastariam. Filipe dramatiza o problema. André aponta numa direção. Não chega a dar uma resposta, mas devolve o problema para o Senhor, após mostrar alguma coisa. E a pista de André é assumida imediatamente por Jesus, que age a partir de sua sugestão. Se fosse se lastrear na palavra de Filipe, Jesus apenas teria o problema com cores mais vívidas.

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LUZ TEMPORÁRIA, SIM; DEFINITIVA, NÃO

“Ele era a lâmpada que ardia e alumiava; e vós quisestes alegrar-vos por um pouco de tempo com a sua luz.” – João 5.35

Isaltino Gomes Coelho Filho

“Luz” é uma das metáforas usadas por João, como verdade, vida, caminho, água, etc. Ele se ligou muito neste estilo de Jesus ensinar. Esta palavra do Mestre que ele registrou em 5.35 é significativa. Jesus falava de João Batista (v. 33). Os homens se alegraram com sua luz, que era temporária. Mas quando veio a luz verdadeira, que João não era (“Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Pois a verdadeira luz, que alumia a todo homem, estava chegando ao mundo” – Jo 1.8-9), eles não quiseram.

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Animes e Mangás: a influência da religião oriental em nosso meio

João Oliveira Ramos Neto

Licenciado em História – Estudante de Teologia – Rio de Janeiro – RJ

Quando eu era criança, gostava de desenho animado. Na década de 90, a moda era “Pica-Pau”, “Pernalonga” e “Tom e Jerry”. Eu também gostava de jogar video game. Você já ouviu falar em “Super Nintendo”? Que saudade!  Além disso, ainda achava tempo para ler minhas revistas em quadrinhos: as da “Turma da Mônica” e as de “Walt Disney”. Ficava horas e horas viajando com aqueles personagens: o Cascão, querendo fugir da água, o Cebolinha, dando nó na orelha do Sansão, e o Pato Donald, arrumando confusão com o Tio Patinhas.

Nos últimos anos, no entanto, mudanças começaram a acontecer, e o Japão começou a ocupar mais espaço na mídia. Agora, os desenhos animados exibidos na TV são, em sua maioria, animes, e os quadrinhos são mangás. Até a Turma da Mônica passou a ser desenhada no estilo japonês. Geralmente, os mangás saem do papel e vão para as telas do cinema e da televisão e se tornam animes. Portanto, seja revista em quadrinhos, seja desenho animado, seja video game – porque geralmente um influencia o outro – eles estão ao nosso redor: Dragon Ball, Digimon e Pokemon, só para citar os principais.

A influência da cultura oriental

Que importância tem essa mudança toda? Como cristãos que somos, não precisamos deixar de usar todos esses recursos para o nosso entretenimento, contudo, algumas considerações precisam ser feitas. Para começar, precisamos identificar a cultura oriental por trás desses desenhos.

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O VALOR DA ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL

Palestra preparada pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho, para a IB de Vila Elmaz, em São José do Rio Preto, São Paulo, e apresentada em 28 de fevereiro de 2010.

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INTRODUÇÃO: UMA EXPERIÚNCIA DO PASSADO PRODUZ A REFLEXÃO SOBRE O PRESENTE

Eu era adolescente de dezesseis anos, no Rio de Janeiro, e tinha um ano de convertido e batizado. Morava no bairro da Penha e ia de lotação (micro-ônibus) da Penha até Cascadura e lá tomava outra condução para Acari, onde ficava minha igreja, a Batista de Acari. Foi onde me converti. Vendo-me com a Bíblia (naquele tempo portávamos bíblias e éramos chamados de “crentes”), um padre sentou-se ao meu lado e, polidamente, perguntou-me se podíamos conversar. Foi um papo amistoso. O padre era mesmo educado e respeitador. Queria apenas tirar algumas dúvidas sobre como eu via minha fé. Ele recebera de alguém uma assinatura de “O Jornal Batista” e por isso os conhecia um pouco.

Fez algumas perguntas e a todas respondi citando a Bíblia. Como meus dezesseis anos estão quatro décadas atrás, não me recordo de todas, mas de duas ou três. A última foi “Por que os batistas não aceitam Maria como mediadora entre Deus e os homens?”. Também respondi com a Bíblia. Citei 1Timóteo 2.5: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem”. Quando nos despedimos em Cascadura, o padre me perguntou: “Meu filho, você estuda em algum seminário da igreja batista?”. Respondi que não, mas que era aluno da Escola Bíblica Dominical.

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O RELIGIOSISMO DO PR. DANIEL

Isaltino Gomes Coelho Filho

O colega Pr. Daniel Teixeira de Azevedo é o autor do neologismo “religiosismo” (desculpem-me a aliteração, mas não consegui fugir-lhe). Ele usa o termo para designar a atividade religiosidade que se desvia do foco da verdadeira fé, que é a reconciliação com um Deus santo. Eu criara “adoracionismo” e “louvorismo” para designar o frenesi em nossas igrejas com o período do culto que, sem adornar, chamávamos de “cantar corinho”, no passado. O “louvorismo” passou a ser o momento mais importante do culto, um shiboleth, em que todas as igrejas fazem as mesmas coisas: um período em pé, ouvindo uma oração e um sermão antes de cada cântico. Os grupos de louvor são clones uns dos outros.

Precisamos considerar esta questão com seriedade. Não é implicância ou rabugice, mas essência. Chacrinha disse que “na televisão nada se cria, tudo se copia”. Dá-se o mesmo na teologia. Muita gente acha que está inovando, criando um movimento novo, quando apenas está pondo uma roupa nova em um movimento antigo. O velho montanismo do segundo século, quando Montano, Prisca e Maximiliana alegaram ter revelações diretas do Espírito Santo e profetizaram com línguas extáticas, está aí, de volta. Uma de suas características era tirar o foco de autoridade da igreja e colocar em pessoas que eram receptáculos especiais de Deus, com suas profecias. Como no montanismo do passado, o atual montanismo neopentecostal vê um lugar especial para as revelações de sua legião de homens e mulheres especiais, que lutam entre si por espaço e ministérios, colocando-as em pé de igualdade com a Revelação.Continue a ler »O RELIGIOSISMO DO PR. DANIEL

A Crucificação de Cristo, a partir de um ponto de vista médico

de C. Truman Davis

Lendo o livro de Jim Bishop “O Dia Que Cristo Morreu”, eu percebi que durante vários anos eu tinha tornado a crucificação de Jesus mais ou menos sem valor, que havia crescido calos em meu coração sobre este horror, por tratar seus detalhes de forma tão familiar – e pela amizade distante que eu tinha com nosso Senhor. Eu finalmente havia percebido que, mesmo como médico, eu não entendia a verdadeira causa da morte de Jesus. Os escritores do evangelho não nos ajudam muito com este ponto, porque a crucificação era tão comum naquele tempo que, aparentemente, acharam que uma descrição detalhada seria desnecessária. Por isso só temos as palavras concisas dos evangelistas “Então, Pilatos, após mandar açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado.”

Eu não tenho nenhuma competência para discutir o infinito sofrimento psíquico e espiritual do Deus Encarnado que paga pelos pecados do homem caído. Mas parecia a mim que como um médico eu poderia procurar de forma mais detalhada os aspectos fisiológicos e anatômicos da paixão de nosso Senhor. O que foi que o corpo de Jesus de Nazaré de fato suportou durante essas horas de tortura?Continue a ler »A Crucificação de Cristo, a partir de um ponto de vista médico

À BEIRA DO TANQUE…

“Achava-se ali um homem que, havia trinta e oito anos, estava enfermo” – João 5.5

Por que a precisão de João em dizer que o homem estava enfermo há trinta e oito anos, ainda mais quando os judeus apreciavam números redondos, e quarenta era um número com idéia de algo completo? Porque este foi o tempo que Israel passou no deserto: exatamente trinta e oito anos. O homem é um símbolo de Israel.

A multidão ao redor do tanque se compunha de “enfermos, cegos, mancos e paralíticos” (v. 3, Almeida Século 21). Quando o messias viesse, diziam os judeus, os cegos veriam, os surdos ouviriam, os paralíticos saltariam e os mudos falariam. Baseavam-se em Isaías 35.5-6, um texto que fala de águas e ribeiros. Na teologia dos hebreus, a vinda do messias se ligava a curas de cegos, surdos, mudos e paralíticos. Então, Jesus cura um paralítico, anunciando que o messias chegou.

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O CÂNTARO ESQUECIDO

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“Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens…” – João 4.28

Que relato! Que desfecho extraordinário! Como conhecemos bem a história da mulher samaritana, é desnecessário recontá-la. Nosso foco é este: ela foi ao poço com seu cântaro, buscar água. Descobriu a água da vida. Deixou o cântaro junto ao poço e foi à cidade testemunhar de Jesus.

Parece que ela não tinha boa reputação. Seria mesmo uma pessoa indicada para testemunhar de Jesus? Era. Exatamente por isso. Logo ela, falando de assuntos espirituais? Seu testemunho teve um impacto tão grande que muitos creram em Jesus. O testemunho baseado numa profunda experiência de encontro com Jesus causa impacto no mundo. Mais que técnicas e macetes de como testemunhar (a mulher não tinha nenhuma orientação sobre isso), as pessoas precisam de uma experiência com Cristo.

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A SÓS COM DEUS

Isaltino Gomes Coelho Filho

Fazia a meditação diária, com Meacir, dia 18 de janeiro. Usamos o “Manancial” (aliás, sugiro aos meus parcos – não porcos – leitores: usem o “Manancial”, que é nosso). A meditação tinha o mesmo título deste artigo. Sua autora, Ana Maria Gomes, citou três exemplos de “Sala de oração”. Uma, em uma universidade, e duas em igrejas.

Uma sala de oração é algo muito bom. Não é a sacralização do espaço físico, como se crêssemos que Deus só pode ouvir orações feitas naquela sala. Mas o ambiente é especialmente preparado para este fim. Por vezes, com isolamento de ruído externo. As igrejas precisariam ter mais salas assim, reservadas para este propósito, abertas o dia inteiro. Dona Ana fala de uma igreja em que as pessoas chegavam e recebiam uma lista de pedidos de intercessão. Isso é muito positivo. Quem pediu oração fica sabendo que seu pedido será considerado pela igreja.

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A BANALIZAÇÃO DO SAGRADO

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Isaltino Gomes Coelho Filho

Estava a ler “Espiritualidade subversiva”, de Eugene Petersen. Explico-me aos críticos de quem lê: não estava ocioso. Levara uma pessoa ao hospital, esperava sua alta, e remia o tempo, lendo. Como era madrugada, fazia isto também para não dormir. Desculpem-me por estar na leitura, de novo. Não se zanguem, por favor.

Desculpas à parte, voltemos ao assunto. Este comentário dele me impactou: “Moisés não tirou uma foto da sarça em chamas para levar para casa e mostrar à mulher e aos filhos. Os serafins cantores de Isaías não estavam acompanhados de um oratório de Handel, cujo CD depois ele comprou para escutar e apreciar mais tarde. João não reduziu sua visão de Jesus em gráficos para usá-los com o propósito de entreter consumidores religiosos com visões sensacionalistas do futuro” (p. 96). A figura de linguagem de Petersen se chama anacronismo e seu uso aqui ressalta seu argumento: não podemos domesticar o sagrado. Não podemos tornar o santo em matéria de entretenimento e de comércio. É preciso zelo e temor diante do sagrado para não banalizá-lo. Infelizmente, isso acontece.

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PECADOS VIA INTERNET

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Isaltino Gomes Coelho Filho

Apresentado aos casais da Igreja Batista do Cambuí, em 11 de fevereiro de 2006

Há uma idéia corrente na sociedade de que tudo que é moderno é bom. O conceito de muita gente é que a ciência é a grande libertadora, a grande redentora, e assim, tudo o que ela nos traz é bom. A cultura brasileira recebeu forte influxo do positivismo, que via a ciência como a libertadora da humanidade. Entre nós este conceito, então, é mais forte. Está no nosso imaginário.

Entre as modernidades contemporâneas está a Internet. Ela nos facilita muito a vida, tanto em pesquisas, como em comunicação. Mas há a face oculta dos perigos e da podridão. Podridão mesmo. Este é o termo. Este tema brotou de uma reportagem da revista “Veja” sobre traição virtual. Não li na revista, mas li trechos no site. Não sei se li a reportagem toda, portanto. Mas li as cartas na edição seguinte da revista. Uma mulher se sentiu muito ofendida, e um homem teve problemas sérios para consertar o relacionamento conjugal, depois do envolvimento virtual. A grande ofensa para a mulher é que ela foi trocada por nada. Não foi por uma figura de carne e osso, outra mulher que competisse com ela. Ela poderia se comparar com outra mulher, mas como se comparar com uma figura abstrata? A irritação é compreensível. Quando uma pessoa é comparada com outra ou é trocada por outra, isto é injusto, mas tem base. Mas quando se é trocado por nada, como a pessoa se sente?

O fato de que não há envolvimento físico pode aplacar a consciência da pessoa e lhe dar a idéia de que não está fazendo nada de errado. Mas será que é assim?

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QUE ELE CRESÇA E EU DIMINUA

“É necessário que ele cresça e que eu diminua” – João 3.30

Eu estava na Igreja Memorial Batista de Brasília quando o Pr. Éber Vasconcelos, até então pastor da igreja, deu posse ao seu sucessor, o Pr. Norton Lages. O “Príncipe do Púlpito” entregava seu púlpito a um colega. É difícil esquecer Éber Vasconcelos. Quem o ouviu, nunca o esquecerá. O melhor pregador que já ouvi. Mas queria diminuir e que seu ex-rebanho seguisse agora outra orientação. Leu este texto e saiu pela porta lateral.

Um verdadeiro homem de Deus age assim. Não anseia por spotlight, mas sabe sair de cena. E sabe ocupar lugar inferior. Lembro-me de uma antiga oração dos crentes, que, ao intercederem pelo pregador, diziam: “Esconde teu servo atrás da cruz de Cristo”. Bonita oração! Hoje o culto à personalidade em nosso meio chega a ser asqueroso. Parece que a oração é “Esconde a cruz de Cristo atrás do teu servo”.

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O VENTO SOPRA ONDE QUER

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“O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito” – João 3.8

“Vento” e “espírito” são a mesma palavra hebraica, ruah. Ninguém diz ao Espírito onde soprar. Ele sopra onde quer. Mas muita gente quer lhe dizer onde soprar. Povo curioso, o povo crente!

Dizemos ao Espírito onde ele deve soprar quando sacralizamos formas e métodos como suas linhas de ação. Sou conservador em teologia e tradicional em liturgia. Mas minha opção não move Deus. Sou batista por conversão (converti-me numa igreja batista) e depois por opção (examinei e frequentei outros grupos, e permaneci batista). Exulto com minhas opções e as julgo corretas, não porque sejam minhas; são minhas porque as julgo corretas. Mas não penso ter o copyright de Deus. Sou expressivo no que abraço e defendo, mas não sou parvo.

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A Trindade no Antigo Testamento

Luciano R. Peterlevitz

INTRODUÇÃO

Há um grande debate sobre a doutrina da Trindade no Antigo Testamento. Os Pais da Igreja afirmaram categoricamente que o Deus de Israel é Trino. Desconsideraram assim a revelação progressiva. Outros teólogos, em contrapartida, defendem que a doutrina da Trindade inexiste no contexto veterotestamentário. Existe também a afirmação de que embora no Antigo Testamento Deus seja Trino, ali a doutrina da Trindade não é manifesta de maneira tão clara. Assim, ensinar essa doutrina tendo por fundamento o Antigo Testamento é cristianizar por demais o texto.

É verdade que na antiga aliança não existe uma manifestação clara da Trindade. No entanto, podemos afirmar que a manifestação do Deus de Israel é plural. Muitos estudiosos até afirmam que essa pluralidade é apresentada porque originalmente o conceito de Deus surgiu num contexto politeísta. O pluralismo a respeito do divino apresenta-nos um resquício da crença politeísta1.  Mas prefiro acreditar que essa pluralidade está de acordo com a crença cristã na Trindade.

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ESTUDO NO LIVRO DE GÚNESIS

  • por

Preparado pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho, para a IB Nova Vida, Valparaíso, GO, pastoreada pelo Pr. Isaías Gomes Coelho e apresentado em 3.1.10

INTRODUÇÃO

É difícil apresentar um panorama de Gênesis em apenas uma aula. É um livro extenso (50 capítulos) e com muito material, não pela extensão, apenas, mas pela riqueza de seu conteúdo. Alguma coisa será sacrificada. Analisando meus arquivos, vi que é o livro do AT em que mais prego, exceção à Salmos, onde fiz uma série de estudo na IB do Cambuí, tendo chegado ao Salmo 150. É óbvio que há mais mensagens em Salmos. Mas Gênesis é fascinante. É o começo. Do mundo, de Israel, da história da salvação. Para se entender bem toda a mensagem da Bíblia não se pode perder Gênesis de vista. Andaremos por aqui, nestas duas noites. Vou me deter mais na primeira parte do livro. A segunda, que é histórica, analisarei do ponto de vista da teologia do livro.

1. TÍTULO E TEMA – Gênesis é uma palavra grega que vem da Septuaginta (o Antigo Testamento traduzido para o grego) e significa “princípio”, “origem”, “nascimento”. O título em hebraico é Bereshith , uma palavra composta: (“na”) e reshit. Esta palavra deriva de rosh, literalmente, “cabeça”, e o sufixo it, com a idéia de algo indefinido. Por isso o nome é entendido como “princípio”. São as duas primeiras palavras do livro, significando “no princípio”. O livro trata dos princípios, e daqui já vem seu tema: o princípio da criação do mundo, o princípio da história da salvação (a partir do capítulo 12) e o princípio de Israel, com o surgimento da família eleita.

2. ESBOÇO BÁSICO – O livro tem duas grandes divisões, cada uma com quatro subdivisões. Há quatro eventos de destaque, na primeira parte, e quatro pessoas de destaque, na segunda parte:.

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EM DEFESA DO LIVRO E DE QUEM LÚ

Isaltino Gomes Coelho Filho

Pedi à boa amiga Westh Ney que fizesse a apresentação do meu livro “O Pai Nosso: a oração que Jesus ensinou”. Competente e mais bondosa ainda (seu esposo, o amigo Marcelo, sabe bem disso), Westh caprichou e saíram elogios além da conta. Uma das coisas que ela disse foi sobre o número de livros que eu leio por ano.

Barbaridade, como isso rendeu zombarias! Foi aí que descobri que meu país e meu povo, o povo batista, são mais curiosos do que eu imaginava. Fui ironizado por ler e estudar, que é o que se espera de quem ensina! Bem, isto não é estranho num país onde o supremo mandatário, que deveria dar o exemplo aos estudantes, diz que livro é como aparelho de ginástica, a gente olha e foge. Se ele não disse exatamente isso foi algo parecido, porque são tantas parvoíces que a gente se perde. E o povo batista é curioso. Reclama de suas deficiências e investe para aumentá-las.

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O VINHO NOVO É MELHOR!

“E lhe disse: Todos servem primeiro o vinho bom e, quando os convidados já beberam bastante, servem o inferior; mas tu guardaste até agora o melhor vinho” – João 2.51

Este não é o primeiro milagre de Jesus, como costumeiramente dizemos. Os sinóticos o ignoram. Mateus relata curas de enfermidades e doenças, em geral (Mt 5.23). Para Marcos e Lucas foi a expulsão de um demônio (Mc 1.23ss, Lc 4.31).

João não usa a palavra milagre em seu evangelho. Usa “sinais”, o grego sêmeion, com a idéia de uma indicação. Os sinais são eventos que sinalizam uma lição teológica a seguir. João não faz história nem cronologia, mas um tratado teológico, com uma tese a ser provada (e que está em 20.30-31).

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Os batistas diante da crise de identidade e da falta de unidade

Preparado para um encontro com pastores batistas em Governador Valadares, MG, no “Culto da Unidade”, no dia 14.12.9

Falei, poucos dias atrás, em um encontro doutrinário em Altamira, no coração da Transamazônica. Fiquei feliz por vários motivos. Conheci o último grande rio brasileiro que me faltava conhecer, o Xingu. Conheci Altamira. Voltei à Amazônia. Conheci pastores, colegas de ministério, gente fantástica, fazendo uma grande obra. Admirei-os, respeitei-os e invejei-os por não ser como eles. E também por falar de doutrina. A frequência foi muito boa, considerando a região e o assunto. Na realidade, foi surpreendente.

Hoje venho falar sobre este assunto. Será que os batistas estão acordando para a necessidade de união? Nosso ambiente anda bastante bagunçado. Cada um por si, cada um querendo fazer seu próprio ministério, desconsiderando os demais, com uma visão extremamente paroquial, por vezes, com visão de gueto. Há colegas isolacionistas, afastando sua igreja do convívio com as demais, omitindo-se da cooperação denominacional. Não sei é se medo, narcisismo, falta de visão do reino ou incapacidade de olhar além do seu umbigo. Aliás, preciso reencontrar um artigo que li, intitulado “Adoradores de umbigo”, em que o autor fala de obreiros e igrejas que só vêem seu jardinzinho. Somos congregacionais e enfatizamos a autonomia da igreja local. Mas sempre enfatizamos e prezamos muito a cooperação. Hoje há muita gente querendo fazer uma carreira pessoal, escrever sua história, e não a do reino.

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Jovens santificados fazendo a obra num mundo pós-moderno

Preparado pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho, para os jovens da Igreja Batista do Bom Retiro, em Ipatinga, MG, e apresentado em 12.12.9

O tema é oportuno porque os jovens são uma força na vida da igreja, mas desmobilizada. Sua energia está sendo canalizada para o louvor, que muitas vezes é mero entretenimento, e não para o testemunho transformador da sociedade. Por isso, santificação é um tema extremamente necessário de se abordar.

Jovens cristãos devem ser santos sempre, e em qualquer cultura. O Novo Testamento faz apenas uma referência a eles. Está em 1João 2.14, e alude, em termos gerais, à santidade, embora não a citando: “(…) Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e já vencestes o Maligno”. Os jovens do tempo de João eram fortes, tinham a palavra de Deus permanente neles e venciam o Maligno. Isto é resultado de uma vida santificada. Não sei de quantos jovens se diria isto hoje.

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Apresentação do livro O Fruto do Espírito

Pastor Renato Cordeiro de Souza

Fui criado no subúrbio carioca, numa igreja de gente simples. Na minha tenra infância, a minha primeira professora da Escola Dominical contou a história bíblica mais gostosa que já ouvi. Ela nos ensinou sobre o menino que trouxe cinco pães e dois peixinhos para Jesus, e como o Mestre multiplicou aquele sanduíche para uma multidão faminta. No final, cada criança recebeu um pedaço de pão com sardinha. Simplesmente inesquecível. Mas inesquecível mesmo era, já crescido, conversar com ela. Como uma senhora tão simples conseguia ser tão agradável e passar tanto conhecimento e sabedoria cristã? Uma vez, já com a vista bastante prejudicada, por causa da diabete, ela foi levada a uma consulta com um oftalmologista. Ao examiná-la, em tom amistoso, o médico lhe perguntou: “Como foi que a senhora perdeu esta vista?” Ela respondeu: “Ah, doutor, eu não a perdi. Gastei-a muito bem gasta”. Já tive o privilégio de participar de inúmeras semanas teológicas, e ouvir iminentes mestres, teólogos e pastores, mas, se fosse possível optar, preferiria conversar uma hora com ela, a ouvir o mais competente erudito falar uma semana sobre a fé cristã.

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A escada de Jacó – O sonho se fez realidade

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“E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem” (Jo 1.51)

É o primeiro “em verdade, em verdade” de Jesus, segundo o evangelho de João, um evangelho que não é cronológico e sim teológico, com uma construção estrutural para provar uma tese e não para narrar uma vida. “Em verdade, em verdade” é um idiomatismo aramaico e hebraico, que o autor registrou em grego, e designa a solenidade e a convicção do que está se dizendo. É o primeiro em João, e é usado por Jesus, aplicando-se a si uma estranha figura.

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O Servo Hoje

Palestra preparada pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho para os diáconos da Igreja Memorial Batista de Brasília, e apresentada em 5.12.9

Tenho certo receio com temas que trazem o “hoje”. Anos atrás, uma denominação irmã me pediu para falar em uma formatura de seu seminário e me deu o tema “O perfil do obreiro de Deus necessário para os dias de hoje”. Preparei o trabalho, mas deixei claro que era o mesmo perfil do obreiro de ontem. Fui falar em um seminário de nossa denominação, em 1992, e me deram o tema “Como deve ser o pastor no próximo milênio”. Eu disse que deveria ser o mesmo do milênio em que estávamos. Outra palestra, e creio que para a ABIBET, foi “O papel do seminarista na igreja de hoje”. Segui a mesma linha: deve ser o mesmo papel do seminarista na igreja de ontem.

Explico-me. Não é rabugice, mas fruto de preocupação. Não invalido o tema nem discordo dos irmãos. Muito pelo contrário. Vejo o tema com satisfação porque expõe o desejo de querer servir hoje. O desejo de querer ser diácono hoje, mesmo com tantas mudanças que até colocam em xeque a diaconato, substituindo-o por conselhos, juntas, colegiados e colégio pastoral ou ministério colegiado. Estas coisas podem existir, mas o diaconato é bíblico. Minha preocupação é com um possível desvio de foco, de modo que o referencial seja o hoje, o momento presente, e não as Escrituras. O tempo atual é o espaço onde o diaconato se move, mas o perfil deve ser delineado pelas Escrituras, como tudo nosso. Contextualizar é bom, mas o norte deve ser dado pela Bíblia. Se sair dela, corre o risco de errar.

John McArthur Jr. disse que não se preocupava em conhecer em detalhes as heresias teológicas ou seculares, para combatê-las. Ele se aprofundava no estudo bíblico. Em princípio soou-me inusitado, mas depois entendi. Primeiro ele formava a cosmovisão bíblica. Depois é que fazia o aggiornamento, ou seja, a análise, a contextualização e a aplicação. É por isso que começo pela Bíblia e vou pincelando com nosso tempo, com o hoje.

UM PONTO DE PARTIDA – O PERFIL DO DIÁCONO

Meu ponto de partida é Marcos 10.45: “Pois também o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos”. Não farei um sermão aqui. Usarei o texto como ponto de conexão com o que julgo ser o perfil de um diácono. E explico.

“Ser servido” é diakonethenai, verbo derivado do substantivo diákonos. “Servir” é diakonesai, derivado do mesmo substantivo. Deu para entender por onde iremos. O perfil do diácono deve ser encontrado na pessoa de Jesus. Ele foi o maior de todos os diáconos. Os irmãos não remontam, em atividade, a Atos 6, mas aos evangelhos. O diaconato não começa com Estêvão, mas com Jesus. Porque a instituição diaconato fica de pé ou cai se for leal ao seu princípio básico, que é o serviço. E ninguém serviu como Jesus.

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Novos modelos de pregação

Preparado pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho para os Pastores Batistas do Amapá, novembro de 2009

INTRODUÇÃO

As raízes históricas do púlpito bíblico estão em Esdras, em Neemias 8.4-12, cuja leitura faço agora: “Esdras, o escriba, ficava em pé sobre um estrado de madeira, que fizeram para esse fim e estavam em pé junto a ele, à sua direita, Matitias, Sema, Ananías, Urias, Hilquias e Maaséias; e à sua esquerda, Pedaías, Misael, Malquias, Hasum, Hasbadana, Zacarias e Mesulão. E Esdras abriu o livro à vista de todo o povo (pois estava acima de todo o povo); e, abrindo-o ele, todo o povo se pôs em pé. Então Esdras bendisse ao Senhor, o grande Deus; e todo povo, levantando as mãos, respondeu: Amém! amém! E, inclinando-se, adoraram ao Senhor, com os rostos em terra. Também Jesuá, Bani, Serebias, Jamim, Acube; Sabetai, Hodias, Maaséias, Quelita, Azarias, Jozabade, Hanã, Pelaías e os levitas explicavam ao povo a lei; e o povo estava em pé no seu lugar. Assim leram no livro, na lei de Deus, distintamente; e deram o sentido, de modo que se entendesse a leitura. E Neemias, que era o governador, e Esdras, sacerdote e escriba, e os levitas que ensinavam o povo, disseram a todo o povo: Este dia é consagrado ao Senhor vosso Deus; não pranteeis nem choreis. Pois todo o povo chorava, ouvindo as palavras da lei. Disse-lhes mais: Ide, comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor. Portanto não vos entristeçais, pois a alegria do Senhor é a vossa força. Os levitas, pois, fizeram calar todo o povo, dizendo: Calai-vos, porque este dia é santo; por isso não vos entristeçais. Então todo o povo se foi para comer e beber, e para enviar porções, e para fazer grande regozijo, porque tinha entendido as palavras que lhe foram referidas”.

Esta é a forma que púlpito deve ter: um homem ler a Palavra de Deus, esclarecer o que leu, o povo entender, ser impactado, e depois se alegrar pelos efeitos da Palavra. E como vemos no versículo 13, a pregação verdadeira ainda produz efeitos depois: “Ora, no dia seguinte ajuntaram-se os cabeças das casas paternas de todo o povo, os sacerdotes e os levitas, na presença de Esdras, o escriba, para examinarem as palavras da lei”. O povo quis mais da Palavra. O povo de Deus que é sério se extasia diante da Palavra, e quando a ouve quer mais.Continue a ler »Novos modelos de pregação

Os Grandes Princípios Batistas

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Preparado pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho, para um congresso doutrinário em Altamira, Pará, novembro de 2009

Vimos um pouco da história dos batistas. Vimos também que, a rigor, não temos um fundador da igreja batista, porque várias comunidades batistas começaram a pipocar na época do surgimento da primeira igreja batista no mundo. Nossa origem histórica pode remontar ao pastor John Smith e ao advogado Thomas Helwys, mas eles não criaram nossos princípios e nossas doutrinas. Vimos, também, certa confusão dos primeiros batistas exatamente por causa de não termos uma origem numa pessoa, mas ao redor de princípios. Os princípios já estavam lá e foram entendidos por várias pessoas, em vários grupos. O que tornou difícil remontar a uma origem proclamada num lugar, dia e mês, embora consideremos a igreja fundada na Holanda, em 1609, como a primeira igreja batista. Mas sabemos que há diferenças de interpretações, o que mostra não haver unanimidade, embora a maioria opte como optei.

Perguntemo-nos: o que direcionou os primeiros batistas? Por que eles surgiram? Vamos examinar os pontos principais balizadores dos batistas. Eles são a linha por onde andaremos. Examinado nosso passado histórico e nossa teologia, ouso apontar oito pontos principais, dentre vários. São eles: a suficiência das Escrituras, a liberdade de opinião, o batismo consciente de crentes, a segurança eterna dos salvos, as ordenanças (batismo e ceia), o sacerdócio universal de todos os crentes, a igreja local com governo congregacional autônomo, a separação entre os poderes civil e religioso.

Continue a ler »Os Grandes Princípios Batistas

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