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Isaltino

Um pouco da história dos batistas

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Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho, preparado para um congresso doutrinário em Altamira, Pará, novembro de 2009.

A denominação batista está presente em todo o mundo, com cerca de cem milhões de membros, em mais de trezentas mil comunidades locais, chamadas “igrejas batistas”. Somos uma denominação organizada, bem estruturada, com uma visão teológica não fragmentária, e numa perspectiva correta, em que a parte se subordina ao todo. Nossa história é rica e é nobre. Não surgimos ao redor de uma briga por dinheiro ou de uma disputa por liderança. Surgimos ao redor de princípios. Poucos grupos têm uma história tão inspiradora e decente como a nossa. Nunca pescamos em aquário. Nunca predamos igrejas de outras denominações. Nunca entramos sorrateiramente numa igreja e fomos mudando a doutrina devagarinho, até darmos o golpe e mudarmos tudo para nosso grupo. Nunca lesamos ninguém. Sofremos com atitudes assim, mas não as praticamos.

Na história do movimento evangélico, os batistas têm oferecido alguns dos maiores missionários, alguns dos maiores evangelistas e alguns dos maiores teólogos. Temos currículo, e não Boletim de Ocorrência. Somos gente decente. Mas temos alguns pontos que sempre são discutidos, o que mostra nossa pujança e a espontaneidade do movimento batista. Um desses pontos é este: quando surgiram os batistas?

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Uma ponderação sobre o adoracionismo de nossas igrejas

Isaltino Gomes Coelho Filho

Numa igreja em que pastoreei um rapaz, de bom nível acadêmico, comentou que “o pastor não gosta de louvor”. Surpreendeu-me que o não tão rapaz, quase quarentão dissesse isso. Segundo o Instituto Paulo Montenegro, apenas 26% dos brasileiros conseguem ler e interpretar um texto. Então, 74% são como o eunuco: não entendem o que lêem. Mas a pessoa tinha até pós-graduação.

Mas este rapaz-senhor é crente e os crentes têm muita facilidade de colocar na boca alheia palavras que não foram ditas. Principalmente quando sem argumentos. Mas não escrevo para criticar os 74%, nem a desonestidade de muitos crentes em sua argumentação. Lembro Baudolino, de Umberto Eco: “(…) em minha viagem percebi quanto os cristãos podem se esfolar uns aos outros por uma simples palavra”. Então, leiam o que estou dizendo, sem torcer e sem colocar palavras em minha boca. Nem me esfolem. Já o fui bastante e ainda não me recuperei de algumas esfoladas.

Eis o que digo: penso que o “adoracionismo” ou o “louvorismo” que grassa em nossas igrejas é uma arma diabólica para deixar os crentes enfurnados, fazendo o que gostam, cantando ingenuidades que não definem biblicamente quem é Deus, o que é igreja, qual a missão dos crentes, ao invés de levá-los ao testemunho. Entendeu? Se não, por favor, releia. Nem sempre sou muito claro, mas estou tentando.

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Debaixo da figueira

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“Perguntou-lhe Natanael: Donde me conheces? Respondeu-lhe Jesus: Antes que Felipe te chamasse, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira. Respondeu-lhe Natanael: Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és rei de Israel” (Jo 1.48-49).

Que confissão de fé estranha! Porque Jesus disse que o vira antes, debaixo da figueira, Natanael se rende a ele, com três declarações: “Rabi, filho de Deus e rei de Israel”. Tanta coisa por uma alegação de que fora visto debaixo de uma figueira? O que há de tão inusitado nisto?

Tudo começa com o fato de que ao ser apresentado a Jesus, Natanael ouve dele um elogio. Ele, Natanael, é um israelita em que não há “fingimento” (Almeida Século 21). Natanael nunca se encontrou com Jesus. Como Jesus pode afirmar isto dele? Jesus o viu debaixo da figueira, antes que Felipe o chamasse. Natanael fica tão estupefato que se rende, com três declarações de fé em Jesus. O que há por trás disso?

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Adoradores, sim, mas incrédulos!

“Assim diz o SENHOR: Apresenta-te no pátio da casa do SENHOR e diz aos habitantes das cidades que vêm adorar na casa do SENHOR, todas as palavras que te mando que lhes fales; não omitas uma só palavra. Pode ser que ouçam e se convertam do seu mau caminho, para que desista do mal que planejo fazer-lhes por causa da maldade de suas ações” – Jeremias 26.2-3 (Almeida Século 21).

Palavra dura, mas bem clara: eram adoradores, mas incrédulos. Quem vê a dimensão que o termo “adorador” tomou no cenário evangélico, pensa que io que de mais importante podemos fazer é cantar corinhos ingênuos, com cara de quem sofre crise de cálculo renal, isto é, fazendo ar de quem sente dor, franzindo testa, levantando mãos, revirando olhos. Isto é o cúmulo do status da espiritualidade evangélica: cantar letras fraquinhas em músicas capengas, com instrumentos banais, fazendo ar compungido.

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Vinte e três anos de trabalho infrutífero

“Por um período de vinte e três anos, desde o décimo terceiro ano de Josias, filho de Amom, rei de Judá, até o dia de hoje, a palavra do SENHOR tem vindo a mim, e eu a tenho anunciado a vós insistentemente. Mas vós não me tendes dado ouvidos” – Jeremias 25.3 (Almeida Século 21).

Algumas expressões mostram o peso da acusação neste versículo. “A palavra do Senhor”, “vinte e três anos”, “vindo a mim”, “tenho anunciado”, “não me tendes dado ouvidos”. Como o povo de Deus ouve a palavra de Deus por 23 anos e se recusa a cumpri-la? Há milhares de crentes assim! Há igrejas inteiras em que a vida social prevalece sobre a palavra de Deus, e a vontade de donos da igreja prevalece sobre a vontade de Deus! A fala de Jeremias e o que observamos hoje comprovam como o coração humano é duro e pecaminoso! E a facilidade com que tornamos os negócios de Deus uma extensão dos nossos, e como tornamos o relacionamento com Deus em atividade social! Quantos membros de igreja querem mesmo ouvir a voz de Deus, e não apenas receber seu amparo e promessas?

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Maldito seja o negligente!

“Maldito quem fizer a obra do Senhor de forma negligente!…” – Jr 48.10 (Almeida Século 21).

Se o versículo contivesse apenas esta declaração já seria chocante. Mas a segunda piora a situação: “Maldito o que poupar a sua espada de derramar sangue!”. É uma profecia contra Moabe. Deus anuncia sua ruína e manda destruidores contra Moabe. E estes devem fazer o serviço bem feito. Ai deles se pouparem Moabe! Ai deles se fizerem esta obra de condenação divina com negligência.

A questão é impressionante. Se Iahweh não tolera má vontade na destruição tolerará má vontade na construção? A construção do reino de Iahweh, cujas bases foram estabelecidas por Jesus Cristo, e de modo tão caro (seu sangue) pode ser feita de maneira relaxada?

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Cada um é livre para fazer o que quer

Há pouco tempo atrás, em um programa de televisão que recebe a opinião dos ouvintes para decidir o seu final, uma pessoa disse o seguinte: “Cada um é livre para fazer o que quer”.

A frase encerra uma declaração que deve ser analisada. Realmente, cada pessoa é livre para fazer o que deseja. O ser humano é dotado de capacidade de pensar e tomar decisões. É responsável pelos seus atos. Não se pode impor a alguém uma religião ou uma ideologia, por exemplo. Pais escrupulosos nunca imporão a seus filhos uma profissão, também. A vocação e as habilidades das pessoas devem ser respeitadas. Neste sentido, a frase tem muita razão. Cada um faz o que quer de sua vida, sendo por isso responsável. Assim, neste sentido, a liberdade é plena.

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Religião como enfeite

“Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outra sorte não tereis recompensa junto de vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 6.1)

Isaltino Gomes Coelho Filho

(Publicado originalmente na revista “Você”)

Há um site de humor que mostra atrizes famosas, maquiadas, bem vestidas, enfeitadas, e exibe outra foto delas, ao natural, sem produção alguma, como se diz. A diferença é tão grande que muitas vezes nem se reconhece quem é. A imagem da pessoa enfeitada é bem diferente da pessoa real.

Acontece isto muitas vezes na área religiosa. As pessoas se enfeitam e aparecem como não são. Quando vistas na vida real, não há semelhança entre as duas imagens, a produzida, e a natural. Há muita religiosidade artificial, apenas enfeite na vida da pessoa. Serve para exibir uma imagem bonita aos outros, mas no fundo, a pessoa não é aquilo. Às vezes, a pessoa real é até feia.

Por exemplo: no culto há quem seja bem exagerado nos cânticos, com gestos e balanço de corpo, de modo que todos vejam sua participação, mas sua vida fora da igreja não condiz com o que canta. Há também a bondade exibicionista, em que o bem é feito para a pessoa mostrar aos demais como é generosa. Mas, no fundo, a pessoa não se importa muito com os sofredores.

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O seguidor de Jesus, uma pessoa transparente

“Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não; pois o que passa daí, vem do Maligno” (Mt 5.37)

Isaltino Gomes Coelho Filho

Publicado originalmente na revista “Você”

Numa obra de ficção intitulada 1984¸George Orwell mostra uma sociedade rigidamente controlada por um ditador. Até os pensamentos das pessoas são lidos por máquinas.  Assim, para escapar, elas desenvolvem o “duplipensar”, um jeito de pensar algo quando se está pensando, na realidade, de outra maneira. Uma maneira falsa de pensar. Um pensar duplo.

Muita gente pratica o “duplifalar”. Fala de uma maneira, mas na realidade suas palavras não significam o que estão dizendo. Querem dizer outra coisa. Vemos em nossas igrejas pessoas que dizem com seus lábios seguir a Cristo, mas que têm uma conduta que nega suas palavras. O que elas falam não significa nada. Algumas sorriem e falam simpaticamente com um irmão na fé, mas por trás o atacam com maldade. Neste caso, tais pessoas têm uma palavra dupla. Isto é estranho, pois o testemunho de Pedro sobre Jesus é que “Ele não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” (1Pe 2.22). Jesus nunca mentiu, nunca contou uma inverdade nem deu sentido duplo às suas palavras. Ele sempre foi transparente. O que ele dizia ele fazia. O que pedia dos outros ele praticava: “Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15).

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Que a vontade de Deus se cumpra! (desde que coincida com a nossa!)

“Seja a resposta boa, seja má, obedeceremos à voz do SENHOR nosso Deus, a quem te enviamos, para que tudo vá bem conosco, obedecendo à voz do SENHOR nosso Deus” e “Foram para a terra do Egito, em flagrante desobediência à voz do SENHOR, e chegaram a Tafnes”   – Jeremias 42.6 e 43.6 – Almeida Século 21.

A liderança política de Judá procurou Jeremias e lhe pediu para consultar ao SENHOR. Deveriam ir para o Egito ou não? Estavam dispostos a obedecer, fosse a resposta boa ou não. Que atitude bonita! Vemos tanta gente assim, hoje, que quer saber a vontade de Deus para sua vida e se dispõe a cumpri-la, independente de qual seja. Isto é que é submissão!

Dez dias depois, a palavra do SENHOR veio a Jeremias, e ele chamou Joanã e os demais líderes da nação e lhes deu a resposta. Não deveriam ir para o Egito, e sim ficar em Jerusalém. A resposta fora dada e agora era a hora de cumprir a disposição de obedecer.

Foi uma indignação: “Então falaram Azarias, filho de Hosaías, e Joanã, filho de Careá, e todos os homens soberbos, dizendo a Jeremias: Tu dizes mentiras; o Senhor nosso Deus não te enviou a dizer: Não entreis no Egito para ali peregrinardes” (Jr 43.2). O povo foi para o Egito e arrastou Jeremias e seu secretário, Baruque, consigo. E a obediência tão pomposamente afirmada antes? Bem, Deus não confirmou a vontade do povo, e assim este se recusou a obedecer. Bem típico de muita gente, ainda hoje. Se a Bíblia confirma sua posição, cumpra-se. Se não corrobora sua posição, então busque-se alguma outra fonte. O que importa é que a vontade do homem se cumpra.

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Não me adianta me queimar; se me queimar vem outro em meu lugar

“(…) O rei as cortava com uma faca de escrivão e as lançava no fogo braseiro, até que todo o livro foi queimado no fogo do braseiro (…) E enquanto Jeremias ditava, Baruque escreveu nele todas as palavras que Jeoaquim, rei de Judá, tinha queimado. E foram acrescentadas muitas outras palavras semelhantes” – Jr 36.23 e 32 (Almeida Século 21).

Raul Seixas, roqueiro baiano, compôs uma música chamada “A mosca na sopa”. Ela mescla e alterna os ritmos de rock e música baiana (que é sempre a mesma, embora mude anualmente o nome). Se me lembro bem, foi sua resposta à crítica que recebera de alguns cantores baianos que queriam que ele só cantasse música baiana e não o rock, “símbolo do imperialismo”. Ele se dizia a mosca que pousara na sopa de alguém, e, em certo trecho, diz: “Não adianta me dedetizar porque se me matar aí vem outra em meu lugar”. O patrulhamento ideológico dos “intelectuais” não impediria o estilo do rock de avançar, mesmo na Bahia. Foi isso que entendi, ao ler a questão. Aliás, os intelectuais e a esquerda libertadora são patrulheiros. A liberdade é sempre para si, nunca para os outros. Vide a liberdade de imprensa cubana e chavista.

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Os dentes dos filhos não sentem dor pelo mau uso dos dentes dos pais

“Naqueles dias não dirão mais: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que embotaram? Pelo contrário, cada um morrerá por sua própria iniquidade; os dentes de todo aquele que comer uvas verdes é que se embotarão” – Jeremias 31.19-30 (Almeida Século 21)

Ávidos por novidades, buscando destaque e atenção pelo inusitado, pregadores criaram uma doutrina que o cristianismo, em dois mil anos, nunca suspeitou haver: maldição hereditária. Aliás, o que tem de gente reinventando o evangelho é terrível. Como a competição é grande, as idéias mais esdrúxulas aparecem. Com esta, a pessoa, mesmo convertida, carrega uma maldição proferida por alguém, e precisa de uma reza forte para quebrar a maldição. O sangue de Jesus perdeu o poder, ou só funciona quando manipulado por alguém…

Deus diz que haveria um tempo em que ninguém sofreria a ação dos antepassados. Se os pais chupassem uvas verdes, os dentes dos filhos não embotariam. Os dentes dos pais, sim. Os dos filhos, que não chuparam, não. Quando seria isto? Logo a seguir, após esta declaração, Deus anuncia a nova aliança (Jr 31.31-34), a que faria por meio de Jesus Cristo (Mt 26.28). Na nova aliança, a responsabilidade é pessoal. Pai não transfere culpa, filho não herda culpa.

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Síndrome de Raquel

“Assim diz o SENHOR: Ouviu-se um clamor em Ramá, lamentação e choro amargo: É Raquel chorando por seus filhos; e não se deixa consolar, porque já não existem” – Jeremias 31.15 (Almeida Século 21).

Síndrome é um conjunto de sintomas que caracterizam uma doença, física ou psicológica.  Usa-se, figuradamente, como sinônimo de características de uma situação ou momento. Dito isto, vamos ao texto. Raquel é Jerusalém. Jeremias vê a cidade como uma mulher chorando a morte dos filhos. Jerusalém chorando a morte de seus filhos e dos que iriam para o cativeiro. A cidade-mulher não quereria consolo. Os filhos não existiam mais.

É neste sentido que uso a palavra síndrome. Há pessoas que não querem consolo. Parecem sofrer de vitimismo. Já lidei com tantas ovelhas assim! Por mais que se mostre na Bíblia que Deus está no controle, por mais terno e amigo que se seja, por mais que se ore, a pessoa faz questão de cultivar sua dor. Quer ser vista como uma coitadinha, como uma sofredora. Quer piedade e não conforto. O sofrimento é uma necessidade para essas pessoas porque então todos ficam com peninha, não a censuram, não a criticam. A dor é uma proteção para elas.

Síndrome de Raquel é aquela atitude do crente que gosta de chorar miséria e alardear a necessidade de compaixão. É a atitude do crente que espera que todos se compadeçam dele. Crentes assim, além de evidentemente doentes, são um problema para o pastor. Alugam-no. São vampiros emocionais. Sugam toda a energia do pastor, sempre esperando atenção especial, mais que qualquer outro. Tive uma ovelha que era um vampiro emocional. Todos os dias eu devia lhe dedicar uma hora do meu tempo. Eu era o melhor pastor do mundo. Mas um dia precisei atender um irmão que perdera a esposa e logo depois perdera a mãe. Não pude dispensar atenção ao vampiro. Foi um deus-nos-acuda. Passei a ser o pior pastor do mundo. Aliás, muitos membros de igreja são assim. Quando o pastor se recusa a ser manipulado ou usado por elas, torna-se uma pessoa horrorosa.Continue a ler »Síndrome de Raquel

“Profeta, não dê palha ao povo!”

“O profeta que tem um sonho conte o sonho; e aquele que tem a minha palavra, fale fielmente a minha palavra. Que tem a palha em comum com o trigo?, diz o SENHOR.” – Jeremias 23.28 (Almeida Século 21).

No meu tempo de aluno do Seminário do Sul, quando os alunos do primeiro ano iam pregar seu sermão de prova, os veteranos se alvoroçavam. Os calouros eram por eles chamados de “palhudos” e exortados a não pregarem palha. Na sala de aula de Homilética, um pequeno salão de cultos, com púlpito e tudo, aparecia o texto de Úxodo 5.7: “Não deis palha ao povo”. Era uma brincadeira que servia de laços de união. Eram tempos bons, também. Ninguém queria ser chamado de “palhudo”, que denotava o pregador fraco, relaxado. Os candidatos a pastores queriam pregar bem.

Deus não gosta de pregadores palhudos. Não do pregador fraco, mas de outro tipo de palhudo. Não é a palha de Úxodo que o incomoda, mas a palha da qual ele falou a Jeremias, os devaneios humanos.  Ao profeta, ele compara os sonhos com a palha e sua Palavra com o trigo. Havia gente pregando seus sonhos, tantos os oníricos como os devaneios, como se fossem Palavra de Deus. Como hoje: há gente trocando a Palavra de Deus, a Bíblia, sua revelação verbalizada e proposicional, pelos sonhos humanos. São púlpitos que têm vergonha de ecoar a Bíblia, porque a acham ultrapassada, e ecoam o coração humano.  E deixam de ser apaixonados pela Palavra e por Jesus, o fio de prumo para interpretar a Palavra, e se dizem apaixonados por Tillich, Nietzsche, Marx e outros confusos e fracassados. Sonhos humanos são palha, por mais bem intencionados que sejam. A Palavra é o trigo.Continue a ler »“Profeta, não dê palha ao povo!”

“Eu senti no meu coração!” E daí?

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“O coração é enganoso e incurável, mais que todas as coisas; quem pode conhecê-lo?” –

Jeremias 17.9 (Almeida Século 21).

No cenário evangélico contemporâneo, a maior vertente hermenêutica é o “sentismo”, junto com seu irmão, o “pensismo” ou o seu primo, o “achismo”. Para uma boa parte dos crentes, as posições espirituais são tomadas desta maneira: “Eu sinto em eu coração”, ou “Eu penso assim, ó”. Ou, ainda, “Eu acho assim, ó”.  É lamentável, profundamente lamentável, que a maior parte dos evangélicos despreze a autoridade das Escrituras e estabeleça seus sentimentos como padrão de conduta. Descrendo da Bíblia, desprezando o Espírito Santo que a inspirou, e crendo num espírito santo (com letras minúsculas) do tamanho delas, que elas confundem com seus sentimentos, procuram afirmar seus pensamentos como sendo os pensamentos de Deus. Elas acham que por crerem em Deus, o que elas pensam foi posto por Deus na mente delas. O neopentecostalismo, com sua anarquia espiritual e desmoralização da Bíblia, é responsável por isto. Eleva palavras de pecadores, que por serem pastores, acham que são divinos, e não podem ser contestados. Eles se consideram uma nova revelação. Como o herege Morris Cerulo, que declarou, certa vez; “Vocês não estão olhando para Morris Cerullo; estão olhando para Deus, estão olhando para Jesus Cristo”. Blasfemo!

Jeremias seria estigmatizado por esta turma festiva de evangélicos que elevam seus pensamentos pecaminosos à categoria de revelação divina. A turma festiva o chamaria de “tradicional, carnal, sem poder, sem o Espírito Santo”. É o ônus de crer na Bíblia.Continue a ler »“Eu senti no meu coração!” E daí?

Um estudo em Tiago

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ORDEM DOS PASTORES BATISTAS DO BRASIL – SECÇÃO MINAS GERAIS

UM ESTUDO EM TIAGO

Preparado pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho, outubro de 2009

INTRODUÇÃO

Vou começar do bastante óbvio. Não é que eu despreze a inteligência de vocês, mas farei assim para compor o quadro organizadamente, indo do já sabido para o que podemos discutir. Tiago é a primeira das chamadas “epístolas universais” ou “católicas” (“católico”, todos sabemos,  significa “universal”). São um total de sete: Tiago, 1ª e 2ª Pedro, 1ª, 2a, e 3ª João, e Judas. Receberam o nome de “universal” porque as de Paulo foram cartas para comunidades localizadas ou pessoas específicas. Eram particulares, embora devessem ser passadas para outras igrejas lerem, como vemos em Colossenses 4.16.  E Hebreus, é fácil de ver pelo seu conteúdo, é mais um tratado teológico que uma carta. Alguns estudiosos do Novo Testamento dizem que Hebreus é, pela sua forma literária e estrutura de argumentação, um sermão. Na realidade, é uma peça literária muito bem estruturada. Se o livro de Hebreus foi um sermão, quem o pregou tinha fôlego, tinha um auditório paciente, e uma inteligência excepcional.

Mas mesmo que seja considerada como uma epístola, Hebreus é também uma mensagem localizada e tem público destinatário restrito: foi escrita para cristãos que tinham sido judeus.  Seus valores teológicos são universais, mas há aspectos bem específicos que não podem ser generalizados. Estas cartas católicas foram endereçadas a todos os cristãos, em todos os lugares. Por isto que são universais. Esta universalidade se entende também em termos de épocas, não apenas de geografia. São para hoje, também.

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Advertência contra o humanismo

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“Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, faz daquilo que é mortal a sua força e afasta do SENHOR o seu coração” – Jeremias 17.5 (Almeida Século 21).

Ameaçado de juízo divino por causa de seus pecados, Judá buscou solucionar o problema. Era bem fácil: arrependimento e postura correta diante de Deus. Isto eliminaria o juízo que viria pela Babilônia. Mas Judá tinha suas soluções: buscava alianças políticas ora com a Assíria, que destruíra Israel, ora com o Egito. Em vez de confiar em Deus, confiava nos homens. Por isso a palavra dura em Jeremias 17.5: “Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, faz daquilo que é mortal a sua força e afasta do SENHOR o seu coração”.

Abstraída do contexto e aplicada em seu sentido geral, como esta palavra é atual! A igreja contemporânea é tão humanista! Não é humana, é humanista mesmo. O humanismo é a doutrina filosófica que exalta o homem, que o vê como capaz, que exclui a necessidade de forças espirituais para ajudá-lo. Ele se basta. Como nossas igrejas confiam em planos, modelos eclesiológicos, modelos litúrgicos e líderes humanos! Como idolatramos pastores, gurus, bispos e “apóstolos”! Como os batistas confiamos em nossas instituições, juntas (a maior parte falindo), associações, comissões e GTs! Todos os nossos problemas, cremos, podem ser resolvidos por um Grupo de Trabalho! Nunca vi um chamado ao jejum e à oração por parte de toda a denominação para resolver nossos problemas administrativos (juntas, colégios e seminários semifalidos). Mas sempre temos planos. Que parecem não dar certo.

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Não há santos intercessores

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“O SENHOR, porém, me disse: Ainda que Moisés e Samuel intercedessem diante de mim, eu não mostraria favor a este povo. Manda-os embora da minha presença! Que eles saiam!” – Jeremias 15.1 (Almeida Século 21)

Iahweh estava tão desgostoso com Judá que mesmo que Moisés e Samuel intercedessem pela nação ele a destruiria. Em Ezequiel 14.14, o desgosto continua e mesmo que Noé, Daniel e Jó intercedessem nada conseguiriam.

Há duas lições daqui. A primeira é que não há transferência de santidade. O caráter de Noé, Moisés, Samuel, Jó e Daniel não beneficiaria os pecadores. Podemos orar intercessoriamente por alguém, para que Deus aja naquela vida, envie alguém para testemunhar, cure, mas nunca podemos salvar alguém com nossas orações. Nem nós nem os santos finados. Ninguém tem sobra de mérito espiritual para passar a outro. Vez por outra, em algum aeroporto, alguém com excesso de bagagem me pede para embarcar com material seu. Nego-me porque não sei quem é a pessoa nem o que ela transporta. Já vi gente fazer isto e se dar mal. Mas se com bagagem é possível, com Deus não há transferência de aparente crédito espiritual.

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Por que os picaretas se dão bem?

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“Por que o caminho dos ímpios prospera?” – Jeremias 12.1 (Almeida Século 21).

Pergunta inquietante. Jeremias não foi o único a fazê-la. Asafe também a fez (Sl 73). E também Habacuque (Hc 1.1-3). E milhões de pessoas, ao longo da história. Por que uma pessoa teme a Deus e as coisas dão erradas para ela, e um pilantra lesa todo mundo, não liga a mínima para Deus, e tudo sai bem para ele? Por que o mundo parece uma corrida de ratos, em que só os ratos se dão bem? Eu mesmo fiz estas perguntas, e mais de uma vez.

Um missionário sério se priva de muitas coisas da vida, vai para um lugar difícil para servir a Deus, passa necessidades, não tem recursos sequer para tocar a obra de Deus. Um falso obreiro ilude as pessoas, monta um império econômico, procede sem escrúpulos, mas como monta um esquema publicitário, é saudado como “servo abençoado”. O missionário sério passa a ser visto como homem sem fé, e que deve ter feito alguma coisa errada, para Deus não abençoar seu trabalho. Um crente se nega a adulterar documentos numa empresa e acaba sendo demitido por isso. Um empresário crente quer cumprir a lei, e vive encalacrado, endividado até a raiz dos cabelos. Outro falsifica notas, suborna pessoas, é desonesto, e enriquece.

Vale mesmo a pena ser decente? Vale a pena fazer as coisas certas?Continue a ler »Por que os picaretas se dão bem?

Pregadores da autoajuda e do triunfalismo

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“E curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz! Mas não há paz” – Jeremias 8.11 (Almeida Século 21)

A situação era terrível. Judá estava vivendo em pecado, caminhando para o desastre como o falecido Israel caminhara. Jeremias vê sua nação perdida na iniquidade, é chamado por Deus para adverti-la, mas não lhe davam ouvidos. Isto mostra que o pecado endurece o coração das pessoas a tal ponto que o petrifica. Elas passam a amar o erro.

E apareceram falsos profetas, com mensagens opostas as de Jeremias. Ele falava de juízo, eles falavam de vitória. Ele anunciava a necessidade de arrependimento, e eles anunciavam que bastava a vida religiosa festiva. Jeremias anunciava a tribulação trazida por Deus para sacudir o povo, mas eles  ofereciam shalom, que é mais que “paz”. É integralidade, a totalidade do bem estar, na plena posse das bênçãos de Deus. Jeremias era o profeta “durão”. Eles eram “os caras”.Continue a ler »Pregadores da autoajuda e do triunfalismo

Compromisso básico na adoração

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Preparado especialmente pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho, para um encontro com músicos e interessados na música sacra, na PIB do Rio de Janeiro, dia 17.10.9

Foi Sócrates quem disse: “Se queres conversar comigo, define tuas palavras”. E dizia meu mestre, Dr. Purim, nos tempos áureos do Seminário do Sul: “Bem, bem, vamos definir os termos”. Evitarei, no entanto, as definições de dicionários. Elas manifestam, como citação, pobreza de conteúdo. Mas definirei do que falaremos.

Por compromisso, entendo um envolvimento responsável, que leva a firmar posições duradouras. Até aqui, tudo tranquilo. Por adoração não me refiro a entretenimento espiritual ou a um momento de cânticos. Adoração e louvor têm sido dimensionados em alguns segmentos como cantar corinhos e tocar instrumentos em alto volume, em ambiente agitado, enquanto algumas pessoas se exibem, e outras as coadjuvam, embevecidas. Mas o que queremos dizer com “adoração”?

UMA DEFINIÇÃO DE ADORAÇÃO

Cito uma observação de Bruce Shelley, respeitado teólogo americano, a quem tive o privilégio de receber em minha, casa em Brasília. Começo por este comentário:

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Não é louvor que Deus quer

“Pois quando tirei vossos pais da terra do Egito, não lhes falei nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios. Mas ordenei-lhe isto: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; andai em todo o caminho que eu vos ordenar, para que vos corra tudo bem” – Jeremias 7.22-23 (Almeida Século 21).

Temos uma enorme capacidade de adaptar a Palavra de Deus às nossas conveniências e convicções culturais. Ao invés de nos regermos pela Palavra, com muita facilidade subordinamos a Palavra a nós. Quem ouve (se consegue prestar atenção e consegue entender) os sermõezinhos dos grupos de louvor, antes de cada corinho, pode pensar que o que Deus mais espera de nós é que cantemos nos cultos.

O que Deus mais espera de nós não é culto, mas obediência. Isto fica bem claro no texto de Jeremias 7.22-23. Os contemporâneos do profeta pensavam que culto era mais importante que obediência a Deus. No versículo 24, Deus diz que pensando e agindo assim “andaram nos seus próprios conselhos, no propósito do seu coração perverso. Andaram para trás, e não para diante”. Ou seja, fizeram o que lhes agradava, que não era, necessariamente, o que agradava a Deus.Continue a ler »Não é louvor que Deus quer

“Me engana que eu gosto!”

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“Os profetas profetizam falsidade, os sacerdotes dominam com autoridade própria, e o meu povo gosta disso. Mas o que fareis quando isso chegar ao fim?” – Jeremias 5.31 – Almeida Século 21.

Para Deus, “uma coisa espantosa e horrível” (Jr 5.30). Mas para o povo de Deus algo muito agradável. Os profetas profetizavam falsamente, e os sacerdotes, sem a autoridade de deus, usavam sua própria autoridade, para dominarem o povo. E este gostava da situação.

Qual era a profecia falsa dos profetas do tempo de Jeremias? Se ler o livro, você vai ver que era de um só tipo: eles anunciavam apenas coisas boas, nunca o juízo. E acusavam Jeremias de ser um homem duro em sua pregação. Deles, Deus disse que curavam superficialmente a ferida do povo, anunciando coisas boas (Jr 6.14). Mas, sem se preocupar em ter ibope, Jeremias disse deles que “agem com falsidade, desde o profeta até o sacerdote” (6.13). Jeremias era um homem desagradável. Falava de pecado, de juízo e chamava o povo ao arrependimento. Fosse pastor evangélico hoje, Jeremias seria um “dinossauro, um jurássico”, daqueles que anunciam coisas do passado. Os falsos profetas teriam um vasto fã clube, porque os pecadores não gostam de ser advertidos, mas adulados.Continue a ler »“Me engana que eu gosto!”

Nem sabão nem soda cáustica

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“Ainda que te laves com soda, e uses muito sabão, a mancha da tua maldade permanece diante de mim” – Jeremias 2.22 – Almeida Século 21.

Nem soda nem sabão podiam lavar as iniquidades de Judá, no tempo de Jeremias. “Soda e sabão”, metaforicamente, têm dois significados no texto. O primeiro alude aos atos de purificação legal e ritual. O segundo, aos esforços humanos, morais ou de outra natureza, para melhorar a situação espiritual. Jeremias podia estar se referindo a um ou ao outro. Ou aos dois. Eram inúteis para purificar os pecados da sua nação.Continue a ler »Nem sabão nem soda cáustica

Teólogos sem Deus

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“Os doutores da lei não me conheceram” – Jeremias 2.8 (Almeida Século 21)

Triste declaração da parte do Senhor: “Os doutores da lei não me conheceram”.  Havia em Jerusalém um grupo de teólogos que desconhecia a Deus e que empurrou Judá para a destruição. Esta é uma das maiores desgraças que pode acontecer também à igreja: homens que não conhecem a Deus liderando-a, e formando opinião de outros líderes. É a ruína da igreja. Teólogos sem Deus! Infelizmente os há! Conhecem algumas coisas sobre Deus, mas não conhecem a Deus.

O verbo traduzido por “conheceram” é declinação do hebraico yadha, cujo significado não é o conhecimento cognitivo ou informativo, mas experiencial e relacional. É o verbo usado para descrever a conjunção carnal entre marido e mulher. Como nas antigas traduções “E Adão conheceu a sua mulher”. Este é o maior tipo de conhecimento que se pode ter de uma pessoa, na cultura bíblica, a ponto dos dois serem uma só carne. Conhecem-se a ponto de se identificar e de fundir numa só pessoa.Continue a ler »Teólogos sem Deus

A primavera, a frustração do Pererê e do Tininim e a lição do Geraldinho (ou do Alan?)

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Isaltino Gomes Coelho Filho

Dia 22 de setembro, 2009. Termino minha leitura devocional e entro na Internet para ver as notícias. Sou informado que a primavera começa hoje, às 18h18min. Chega-me email de minha amiga Dra. Kátia Nichele, sobre a primavera. Respondo-a e caio nas minhas lucubrações (sempre quis dizer que lucubro! E às vezes sou lúgubre.).

Citei-lhe uma música que se cantava no Rio, na minha adolescência: “O Rio amanheceu cantando, Toda a cidade amanheceu em flor, Os namorados descem a rua em bando, Porque a primavera é a estação do amor”. Comento que o Rio não amanhece cantando, a cidade não amanhece em flor, namorados não andam em bando e qualquer estação é propícia ao amor. E aí mostro toda a minha erudição. Cito uma grande obra literária, o Pererê, do Ziraldo. Foi um gibi que saiu primeiro quando eu era adolescente, e depois quando moço. Tenho a coleção inteira do Pererê. Ziraldo não tem, e até quis comprar!Continue a ler »A primavera, a frustração do Pererê e do Tininim e a lição do Geraldinho (ou do Alan?)

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