Artigos
LUZ TEMPORÁRIA, SIM; DEFINITIVA, NÃO
“Ele era a lâmpada que ardia e alumiava; e vós quisestes alegrar-vos por um pouco de tempo com a sua luz.” – João 5.35
Isaltino Gomes Coelho Filho
“Luz” é uma das metáforas usadas por João, como verdade, vida, caminho, água, etc. Ele se ligou muito neste estilo de Jesus ensinar. Esta palavra do Mestre que ele registrou em 5.35 é significativa. Jesus falava de João Batista (v. 33). Os homens se alegraram com sua luz, que era temporária. Mas quando veio a luz verdadeira, que João não era (“Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Pois a verdadeira luz, que alumia a todo homem, estava chegando ao mundo” – Jo 1.8-9), eles não quiseram.
Animes e Mangás: a influência da religião oriental em nosso meio
João Oliveira Ramos Neto
Licenciado em História – Estudante de Teologia – Rio de Janeiro – RJ
Quando eu era criança, gostava de desenho animado. Na década de 90, a moda era “Pica-Pau”, “Pernalonga” e “Tom e Jerry”. Eu também gostava de jogar video game. Você já ouviu falar em “Super Nintendo”? Que saudade! Além disso, ainda achava tempo para ler minhas revistas em quadrinhos: as da “Turma da Mônica” e as de “Walt Disney”. Ficava horas e horas viajando com aqueles personagens: o Cascão, querendo fugir da água, o Cebolinha, dando nó na orelha do Sansão, e o Pato Donald, arrumando confusão com o Tio Patinhas.
Nos últimos anos, no entanto, mudanças começaram a acontecer, e o Japão começou a ocupar mais espaço na mídia. Agora, os desenhos animados exibidos na TV são, em sua maioria, animes, e os quadrinhos são mangás. Até a Turma da Mônica passou a ser desenhada no estilo japonês. Geralmente, os mangás saem do papel e vão para as telas do cinema e da televisão e se tornam animes. Portanto, seja revista em quadrinhos, seja desenho animado, seja video game – porque geralmente um influencia o outro – eles estão ao nosso redor: Dragon Ball, Digimon e Pokemon, só para citar os principais.
A influência da cultura oriental
Que importância tem essa mudança toda? Como cristãos que somos, não precisamos deixar de usar todos esses recursos para o nosso entretenimento, contudo, algumas considerações precisam ser feitas. Para começar, precisamos identificar a cultura oriental por trás desses desenhos.
Continue a ler »Animes e Mangás: a influência da religião oriental em nosso meio
O VALOR DA ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL
Palestra preparada pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho, para a IB de Vila Elmaz, em São José do Rio Preto, São Paulo, e apresentada em 28 de fevereiro de 2010.
INTRODUÇÃO: UMA EXPERIÚNCIA DO PASSADO PRODUZ A REFLEXÃO SOBRE O PRESENTE
Eu era adolescente de dezesseis anos, no Rio de Janeiro, e tinha um ano de convertido e batizado. Morava no bairro da Penha e ia de lotação (micro-ônibus) da Penha até Cascadura e lá tomava outra condução para Acari, onde ficava minha igreja, a Batista de Acari. Foi onde me converti. Vendo-me com a Bíblia (naquele tempo portávamos bíblias e éramos chamados de “crentes”), um padre sentou-se ao meu lado e, polidamente, perguntou-me se podíamos conversar. Foi um papo amistoso. O padre era mesmo educado e respeitador. Queria apenas tirar algumas dúvidas sobre como eu via minha fé. Ele recebera de alguém uma assinatura de “O Jornal Batista” e por isso os conhecia um pouco.
Fez algumas perguntas e a todas respondi citando a Bíblia. Como meus dezesseis anos estão quatro décadas atrás, não me recordo de todas, mas de duas ou três. A última foi “Por que os batistas não aceitam Maria como mediadora entre Deus e os homens?”. Também respondi com a Bíblia. Citei 1Timóteo 2.5: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem”. Quando nos despedimos em Cascadura, o padre me perguntou: “Meu filho, você estuda em algum seminário da igreja batista?”. Respondi que não, mas que era aluno da Escola Bíblica Dominical.
O RELIGIOSISMO DO PR. DANIEL
Isaltino Gomes Coelho Filho
O colega Pr. Daniel Teixeira de Azevedo é o autor do neologismo “religiosismo” (desculpem-me a aliteração, mas não consegui fugir-lhe). Ele usa o termo para designar a atividade religiosidade que se desvia do foco da verdadeira fé, que é a reconciliação com um Deus santo. Eu criara “adoracionismo” e “louvorismo” para designar o frenesi em nossas igrejas com o período do culto que, sem adornar, chamávamos de “cantar corinho”, no passado. O “louvorismo” passou a ser o momento mais importante do culto, um shiboleth, em que todas as igrejas fazem as mesmas coisas: um período em pé, ouvindo uma oração e um sermão antes de cada cântico. Os grupos de louvor são clones uns dos outros.
Precisamos considerar esta questão com seriedade. Não é implicância ou rabugice, mas essência. Chacrinha disse que “na televisão nada se cria, tudo se copia”. Dá-se o mesmo na teologia. Muita gente acha que está inovando, criando um movimento novo, quando apenas está pondo uma roupa nova em um movimento antigo. O velho montanismo do segundo século, quando Montano, Prisca e Maximiliana alegaram ter revelações diretas do Espírito Santo e profetizaram com línguas extáticas, está aí, de volta. Uma de suas características era tirar o foco de autoridade da igreja e colocar em pessoas que eram receptáculos especiais de Deus, com suas profecias. Como no montanismo do passado, o atual montanismo neopentecostal vê um lugar especial para as revelações de sua legião de homens e mulheres especiais, que lutam entre si por espaço e ministérios, colocando-as em pé de igualdade com a Revelação.Continue a ler »O RELIGIOSISMO DO PR. DANIEL
A Crucificação de Cristo, a partir de um ponto de vista médico
de C. Truman Davis
Lendo o livro de Jim Bishop “O Dia Que Cristo Morreu”, eu percebi que durante vários anos eu tinha tornado a crucificação de Jesus mais ou menos sem valor, que havia crescido calos em meu coração sobre este horror, por tratar seus detalhes de forma tão familiar – e pela amizade distante que eu tinha com nosso Senhor. Eu finalmente havia percebido que, mesmo como médico, eu não entendia a verdadeira causa da morte de Jesus. Os escritores do evangelho não nos ajudam muito com este ponto, porque a crucificação era tão comum naquele tempo que, aparentemente, acharam que uma descrição detalhada seria desnecessária. Por isso só temos as palavras concisas dos evangelistas “Então, Pilatos, após mandar açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado.”
Eu não tenho nenhuma competência para discutir o infinito sofrimento psíquico e espiritual do Deus Encarnado que paga pelos pecados do homem caído. Mas parecia a mim que como um médico eu poderia procurar de forma mais detalhada os aspectos fisiológicos e anatômicos da paixão de nosso Senhor. O que foi que o corpo de Jesus de Nazaré de fato suportou durante essas horas de tortura?Continue a ler »A Crucificação de Cristo, a partir de um ponto de vista médico
À BEIRA DO TANQUE…
“Achava-se ali um homem que, havia trinta e oito anos, estava enfermo” – João 5.5
Por que a precisão de João em dizer que o homem estava enfermo há trinta e oito anos, ainda mais quando os judeus apreciavam números redondos, e quarenta era um número com idéia de algo completo? Porque este foi o tempo que Israel passou no deserto: exatamente trinta e oito anos. O homem é um símbolo de Israel.
A multidão ao redor do tanque se compunha de “enfermos, cegos, mancos e paralíticos” (v. 3, Almeida Século 21). Quando o messias viesse, diziam os judeus, os cegos veriam, os surdos ouviriam, os paralíticos saltariam e os mudos falariam. Baseavam-se em Isaías 35.5-6, um texto que fala de águas e ribeiros. Na teologia dos hebreus, a vinda do messias se ligava a curas de cegos, surdos, mudos e paralíticos. Então, Jesus cura um paralítico, anunciando que o messias chegou.
O CÂNTARO ESQUECIDO
“Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens…” – João 4.28
Que relato! Que desfecho extraordinário! Como conhecemos bem a história da mulher samaritana, é desnecessário recontá-la. Nosso foco é este: ela foi ao poço com seu cântaro, buscar água. Descobriu a água da vida. Deixou o cântaro junto ao poço e foi à cidade testemunhar de Jesus.
Parece que ela não tinha boa reputação. Seria mesmo uma pessoa indicada para testemunhar de Jesus? Era. Exatamente por isso. Logo ela, falando de assuntos espirituais? Seu testemunho teve um impacto tão grande que muitos creram em Jesus. O testemunho baseado numa profunda experiência de encontro com Jesus causa impacto no mundo. Mais que técnicas e macetes de como testemunhar (a mulher não tinha nenhuma orientação sobre isso), as pessoas precisam de uma experiência com Cristo.
A SÓS COM DEUS
Isaltino Gomes Coelho Filho
Fazia a meditação diária, com Meacir, dia 18 de janeiro. Usamos o “Manancial” (aliás, sugiro aos meus parcos – não porcos – leitores: usem o “Manancial”, que é nosso). A meditação tinha o mesmo título deste artigo. Sua autora, Ana Maria Gomes, citou três exemplos de “Sala de oração”. Uma, em uma universidade, e duas em igrejas.
Uma sala de oração é algo muito bom. Não é a sacralização do espaço físico, como se crêssemos que Deus só pode ouvir orações feitas naquela sala. Mas o ambiente é especialmente preparado para este fim. Por vezes, com isolamento de ruído externo. As igrejas precisariam ter mais salas assim, reservadas para este propósito, abertas o dia inteiro. Dona Ana fala de uma igreja em que as pessoas chegavam e recebiam uma lista de pedidos de intercessão. Isso é muito positivo. Quem pediu oração fica sabendo que seu pedido será considerado pela igreja.
A BANALIZAÇÃO DO SAGRADO
Isaltino Gomes Coelho Filho
Estava a ler “Espiritualidade subversiva”, de Eugene Petersen. Explico-me aos críticos de quem lê: não estava ocioso. Levara uma pessoa ao hospital, esperava sua alta, e remia o tempo, lendo. Como era madrugada, fazia isto também para não dormir. Desculpem-me por estar na leitura, de novo. Não se zanguem, por favor.
Desculpas à parte, voltemos ao assunto. Este comentário dele me impactou: “Moisés não tirou uma foto da sarça em chamas para levar para casa e mostrar à mulher e aos filhos. Os serafins cantores de Isaías não estavam acompanhados de um oratório de Handel, cujo CD depois ele comprou para escutar e apreciar mais tarde. João não reduziu sua visão de Jesus em gráficos para usá-los com o propósito de entreter consumidores religiosos com visões sensacionalistas do futuro” (p. 96). A figura de linguagem de Petersen se chama anacronismo e seu uso aqui ressalta seu argumento: não podemos domesticar o sagrado. Não podemos tornar o santo em matéria de entretenimento e de comércio. É preciso zelo e temor diante do sagrado para não banalizá-lo. Infelizmente, isso acontece.
PECADOS VIA INTERNET
Isaltino Gomes Coelho Filho
Apresentado aos casais da Igreja Batista do Cambuí, em 11 de fevereiro de 2006
Há uma idéia corrente na sociedade de que tudo que é moderno é bom. O conceito de muita gente é que a ciência é a grande libertadora, a grande redentora, e assim, tudo o que ela nos traz é bom. A cultura brasileira recebeu forte influxo do positivismo, que via a ciência como a libertadora da humanidade. Entre nós este conceito, então, é mais forte. Está no nosso imaginário.
Entre as modernidades contemporâneas está a Internet. Ela nos facilita muito a vida, tanto em pesquisas, como em comunicação. Mas há a face oculta dos perigos e da podridão. Podridão mesmo. Este é o termo. Este tema brotou de uma reportagem da revista “Veja” sobre traição virtual. Não li na revista, mas li trechos no site. Não sei se li a reportagem toda, portanto. Mas li as cartas na edição seguinte da revista. Uma mulher se sentiu muito ofendida, e um homem teve problemas sérios para consertar o relacionamento conjugal, depois do envolvimento virtual. A grande ofensa para a mulher é que ela foi trocada por nada. Não foi por uma figura de carne e osso, outra mulher que competisse com ela. Ela poderia se comparar com outra mulher, mas como se comparar com uma figura abstrata? A irritação é compreensível. Quando uma pessoa é comparada com outra ou é trocada por outra, isto é injusto, mas tem base. Mas quando se é trocado por nada, como a pessoa se sente?
O fato de que não há envolvimento físico pode aplacar a consciência da pessoa e lhe dar a idéia de que não está fazendo nada de errado. Mas será que é assim?
QUE ELE CRESÇA E EU DIMINUA
“É necessário que ele cresça e que eu diminua” – João 3.30
Eu estava na Igreja Memorial Batista de Brasília quando o Pr. Éber Vasconcelos, até então pastor da igreja, deu posse ao seu sucessor, o Pr. Norton Lages. O “Príncipe do Púlpito” entregava seu púlpito a um colega. É difícil esquecer Éber Vasconcelos. Quem o ouviu, nunca o esquecerá. O melhor pregador que já ouvi. Mas queria diminuir e que seu ex-rebanho seguisse agora outra orientação. Leu este texto e saiu pela porta lateral.
Um verdadeiro homem de Deus age assim. Não anseia por spotlight, mas sabe sair de cena. E sabe ocupar lugar inferior. Lembro-me de uma antiga oração dos crentes, que, ao intercederem pelo pregador, diziam: “Esconde teu servo atrás da cruz de Cristo”. Bonita oração! Hoje o culto à personalidade em nosso meio chega a ser asqueroso. Parece que a oração é “Esconde a cruz de Cristo atrás do teu servo”.
O VENTO SOPRA ONDE QUER
“O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito” – João 3.8
“Vento” e “espírito” são a mesma palavra hebraica, ruah. Ninguém diz ao Espírito onde soprar. Ele sopra onde quer. Mas muita gente quer lhe dizer onde soprar. Povo curioso, o povo crente!
Dizemos ao Espírito onde ele deve soprar quando sacralizamos formas e métodos como suas linhas de ação. Sou conservador em teologia e tradicional em liturgia. Mas minha opção não move Deus. Sou batista por conversão (converti-me numa igreja batista) e depois por opção (examinei e frequentei outros grupos, e permaneci batista). Exulto com minhas opções e as julgo corretas, não porque sejam minhas; são minhas porque as julgo corretas. Mas não penso ter o copyright de Deus. Sou expressivo no que abraço e defendo, mas não sou parvo.
A Trindade no Antigo Testamento
Luciano R. Peterlevitz
INTRODUÇÃO
Há um grande debate sobre a doutrina da Trindade no Antigo Testamento. Os Pais da Igreja afirmaram categoricamente que o Deus de Israel é Trino. Desconsideraram assim a revelação progressiva. Outros teólogos, em contrapartida, defendem que a doutrina da Trindade inexiste no contexto veterotestamentário. Existe também a afirmação de que embora no Antigo Testamento Deus seja Trino, ali a doutrina da Trindade não é manifesta de maneira tão clara. Assim, ensinar essa doutrina tendo por fundamento o Antigo Testamento é cristianizar por demais o texto.
É verdade que na antiga aliança não existe uma manifestação clara da Trindade. No entanto, podemos afirmar que a manifestação do Deus de Israel é plural. Muitos estudiosos até afirmam que essa pluralidade é apresentada porque originalmente o conceito de Deus surgiu num contexto politeísta. O pluralismo a respeito do divino apresenta-nos um resquício da crença politeísta1. Mas prefiro acreditar que essa pluralidade está de acordo com a crença cristã na Trindade.
EM DEFESA DO LIVRO E DE QUEM LÚ
Isaltino Gomes Coelho Filho
Pedi à boa amiga Westh Ney que fizesse a apresentação do meu livro “O Pai Nosso: a oração que Jesus ensinou”. Competente e mais bondosa ainda (seu esposo, o amigo Marcelo, sabe bem disso), Westh caprichou e saíram elogios além da conta. Uma das coisas que ela disse foi sobre o número de livros que eu leio por ano.
Barbaridade, como isso rendeu zombarias! Foi aí que descobri que meu país e meu povo, o povo batista, são mais curiosos do que eu imaginava. Fui ironizado por ler e estudar, que é o que se espera de quem ensina! Bem, isto não é estranho num país onde o supremo mandatário, que deveria dar o exemplo aos estudantes, diz que livro é como aparelho de ginástica, a gente olha e foge. Se ele não disse exatamente isso foi algo parecido, porque são tantas parvoíces que a gente se perde. E o povo batista é curioso. Reclama de suas deficiências e investe para aumentá-las.
Apresentação do livro O Fruto do Espírito
Pastor Renato Cordeiro de Souza
Fui criado no subúrbio carioca, numa igreja de gente simples. Na minha tenra infância, a minha primeira professora da Escola Dominical contou a história bíblica mais gostosa que já ouvi. Ela nos ensinou sobre o menino que trouxe cinco pães e dois peixinhos para Jesus, e como o Mestre multiplicou aquele sanduíche para uma multidão faminta. No final, cada criança recebeu um pedaço de pão com sardinha. Simplesmente inesquecível. Mas inesquecível mesmo era, já crescido, conversar com ela. Como uma senhora tão simples conseguia ser tão agradável e passar tanto conhecimento e sabedoria cristã? Uma vez, já com a vista bastante prejudicada, por causa da diabete, ela foi levada a uma consulta com um oftalmologista. Ao examiná-la, em tom amistoso, o médico lhe perguntou: “Como foi que a senhora perdeu esta vista?” Ela respondeu: “Ah, doutor, eu não a perdi. Gastei-a muito bem gasta”. Já tive o privilégio de participar de inúmeras semanas teológicas, e ouvir iminentes mestres, teólogos e pastores, mas, se fosse possível optar, preferiria conversar uma hora com ela, a ouvir o mais competente erudito falar uma semana sobre a fé cristã.
A escada de Jacó – O sonho se fez realidade
“E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem” (Jo 1.51)
É o primeiro “em verdade, em verdade” de Jesus, segundo o evangelho de João, um evangelho que não é cronológico e sim teológico, com uma construção estrutural para provar uma tese e não para narrar uma vida. “Em verdade, em verdade” é um idiomatismo aramaico e hebraico, que o autor registrou em grego, e designa a solenidade e a convicção do que está se dizendo. É o primeiro em João, e é usado por Jesus, aplicando-se a si uma estranha figura.
Um pouco da história dos batistas
Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho, preparado para um congresso doutrinário em Altamira, Pará, novembro de 2009.
A denominação batista está presente em todo o mundo, com cerca de cem milhões de membros, em mais de trezentas mil comunidades locais, chamadas “igrejas batistas”. Somos uma denominação organizada, bem estruturada, com uma visão teológica não fragmentária, e numa perspectiva correta, em que a parte se subordina ao todo. Nossa história é rica e é nobre. Não surgimos ao redor de uma briga por dinheiro ou de uma disputa por liderança. Surgimos ao redor de princípios. Poucos grupos têm uma história tão inspiradora e decente como a nossa. Nunca pescamos em aquário. Nunca predamos igrejas de outras denominações. Nunca entramos sorrateiramente numa igreja e fomos mudando a doutrina devagarinho, até darmos o golpe e mudarmos tudo para nosso grupo. Nunca lesamos ninguém. Sofremos com atitudes assim, mas não as praticamos.
Na história do movimento evangélico, os batistas têm oferecido alguns dos maiores missionários, alguns dos maiores evangelistas e alguns dos maiores teólogos. Temos currículo, e não Boletim de Ocorrência. Somos gente decente. Mas temos alguns pontos que sempre são discutidos, o que mostra nossa pujança e a espontaneidade do movimento batista. Um desses pontos é este: quando surgiram os batistas?
Uma ponderação sobre o adoracionismo de nossas igrejas
Isaltino Gomes Coelho Filho
Numa igreja em que pastoreei um rapaz, de bom nível acadêmico, comentou que “o pastor não gosta de louvor”. Surpreendeu-me que o não tão rapaz, quase quarentão dissesse isso. Segundo o Instituto Paulo Montenegro, apenas 26% dos brasileiros conseguem ler e interpretar um texto. Então, 74% são como o eunuco: não entendem o que lêem. Mas a pessoa tinha até pós-graduação.
Mas este rapaz-senhor é crente e os crentes têm muita facilidade de colocar na boca alheia palavras que não foram ditas. Principalmente quando sem argumentos. Mas não escrevo para criticar os 74%, nem a desonestidade de muitos crentes em sua argumentação. Lembro Baudolino, de Umberto Eco: “(…) em minha viagem percebi quanto os cristãos podem se esfolar uns aos outros por uma simples palavra”. Então, leiam o que estou dizendo, sem torcer e sem colocar palavras em minha boca. Nem me esfolem. Já o fui bastante e ainda não me recuperei de algumas esfoladas.
Eis o que digo: penso que o “adoracionismo” ou o “louvorismo” que grassa em nossas igrejas é uma arma diabólica para deixar os crentes enfurnados, fazendo o que gostam, cantando ingenuidades que não definem biblicamente quem é Deus, o que é igreja, qual a missão dos crentes, ao invés de levá-los ao testemunho. Entendeu? Se não, por favor, releia. Nem sempre sou muito claro, mas estou tentando.
Continue a ler »Uma ponderação sobre o adoracionismo de nossas igrejas
Debaixo da figueira
“Perguntou-lhe Natanael: Donde me conheces? Respondeu-lhe Jesus: Antes que Felipe te chamasse, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira. Respondeu-lhe Natanael: Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és rei de Israel” (Jo 1.48-49).
Que confissão de fé estranha! Porque Jesus disse que o vira antes, debaixo da figueira, Natanael se rende a ele, com três declarações: “Rabi, filho de Deus e rei de Israel”. Tanta coisa por uma alegação de que fora visto debaixo de uma figueira? O que há de tão inusitado nisto?
Tudo começa com o fato de que ao ser apresentado a Jesus, Natanael ouve dele um elogio. Ele, Natanael, é um israelita em que não há “fingimento” (Almeida Século 21). Natanael nunca se encontrou com Jesus. Como Jesus pode afirmar isto dele? Jesus o viu debaixo da figueira, antes que Felipe o chamasse. Natanael fica tão estupefato que se rende, com três declarações de fé em Jesus. O que há por trás disso?
Adoradores, sim, mas incrédulos!
“Assim diz o SENHOR: Apresenta-te no pátio da casa do SENHOR e diz aos habitantes das cidades que vêm adorar na casa do SENHOR, todas as palavras que te mando que lhes fales; não omitas uma só palavra. Pode ser que ouçam e se convertam do seu mau caminho, para que desista do mal que planejo fazer-lhes por causa da maldade de suas ações” – Jeremias 26.2-3 (Almeida Século 21).
Palavra dura, mas bem clara: eram adoradores, mas incrédulos. Quem vê a dimensão que o termo “adorador” tomou no cenário evangélico, pensa que io que de mais importante podemos fazer é cantar corinhos ingênuos, com cara de quem sofre crise de cálculo renal, isto é, fazendo ar de quem sente dor, franzindo testa, levantando mãos, revirando olhos. Isto é o cúmulo do status da espiritualidade evangélica: cantar letras fraquinhas em músicas capengas, com instrumentos banais, fazendo ar compungido.
Vinte e três anos de trabalho infrutífero
“Por um período de vinte e três anos, desde o décimo terceiro ano de Josias, filho de Amom, rei de Judá, até o dia de hoje, a palavra do SENHOR tem vindo a mim, e eu a tenho anunciado a vós insistentemente. Mas vós não me tendes dado ouvidos” – Jeremias 25.3 (Almeida Século 21).
Algumas expressões mostram o peso da acusação neste versículo. “A palavra do Senhor”, “vinte e três anos”, “vindo a mim”, “tenho anunciado”, “não me tendes dado ouvidos”. Como o povo de Deus ouve a palavra de Deus por 23 anos e se recusa a cumpri-la? Há milhares de crentes assim! Há igrejas inteiras em que a vida social prevalece sobre a palavra de Deus, e a vontade de donos da igreja prevalece sobre a vontade de Deus! A fala de Jeremias e o que observamos hoje comprovam como o coração humano é duro e pecaminoso! E a facilidade com que tornamos os negócios de Deus uma extensão dos nossos, e como tornamos o relacionamento com Deus em atividade social! Quantos membros de igreja querem mesmo ouvir a voz de Deus, e não apenas receber seu amparo e promessas?
Maldito seja o negligente!
“Maldito quem fizer a obra do Senhor de forma negligente!…” – Jr 48.10 (Almeida Século 21).
Se o versículo contivesse apenas esta declaração já seria chocante. Mas a segunda piora a situação: “Maldito o que poupar a sua espada de derramar sangue!”. É uma profecia contra Moabe. Deus anuncia sua ruína e manda destruidores contra Moabe. E estes devem fazer o serviço bem feito. Ai deles se pouparem Moabe! Ai deles se fizerem esta obra de condenação divina com negligência.
A questão é impressionante. Se Iahweh não tolera má vontade na destruição tolerará má vontade na construção? A construção do reino de Iahweh, cujas bases foram estabelecidas por Jesus Cristo, e de modo tão caro (seu sangue) pode ser feita de maneira relaxada?
Cada um é livre para fazer o que quer
Há pouco tempo atrás, em um programa de televisão que recebe a opinião dos ouvintes para decidir o seu final, uma pessoa disse o seguinte: “Cada um é livre para fazer o que quer”.
A frase encerra uma declaração que deve ser analisada. Realmente, cada pessoa é livre para fazer o que deseja. O ser humano é dotado de capacidade de pensar e tomar decisões. É responsável pelos seus atos. Não se pode impor a alguém uma religião ou uma ideologia, por exemplo. Pais escrupulosos nunca imporão a seus filhos uma profissão, também. A vocação e as habilidades das pessoas devem ser respeitadas. Neste sentido, a frase tem muita razão. Cada um faz o que quer de sua vida, sendo por isso responsável. Assim, neste sentido, a liberdade é plena.
Religião como enfeite
“Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outra sorte não tereis recompensa junto de vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 6.1)
Isaltino Gomes Coelho Filho
(Publicado originalmente na revista “Você”)
Há um site de humor que mostra atrizes famosas, maquiadas, bem vestidas, enfeitadas, e exibe outra foto delas, ao natural, sem produção alguma, como se diz. A diferença é tão grande que muitas vezes nem se reconhece quem é. A imagem da pessoa enfeitada é bem diferente da pessoa real.
Acontece isto muitas vezes na área religiosa. As pessoas se enfeitam e aparecem como não são. Quando vistas na vida real, não há semelhança entre as duas imagens, a produzida, e a natural. Há muita religiosidade artificial, apenas enfeite na vida da pessoa. Serve para exibir uma imagem bonita aos outros, mas no fundo, a pessoa não é aquilo. Às vezes, a pessoa real é até feia.
Por exemplo: no culto há quem seja bem exagerado nos cânticos, com gestos e balanço de corpo, de modo que todos vejam sua participação, mas sua vida fora da igreja não condiz com o que canta. Há também a bondade exibicionista, em que o bem é feito para a pessoa mostrar aos demais como é generosa. Mas, no fundo, a pessoa não se importa muito com os sofredores.
O seguidor de Jesus, uma pessoa transparente
“Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não; pois o que passa daí, vem do Maligno” (Mt 5.37)
Isaltino Gomes Coelho Filho
Publicado originalmente na revista “Você”
Numa obra de ficção intitulada 1984¸George Orwell mostra uma sociedade rigidamente controlada por um ditador. Até os pensamentos das pessoas são lidos por máquinas. Assim, para escapar, elas desenvolvem o “duplipensar”, um jeito de pensar algo quando se está pensando, na realidade, de outra maneira. Uma maneira falsa de pensar. Um pensar duplo.
Muita gente pratica o “duplifalar”. Fala de uma maneira, mas na realidade suas palavras não significam o que estão dizendo. Querem dizer outra coisa. Vemos em nossas igrejas pessoas que dizem com seus lábios seguir a Cristo, mas que têm uma conduta que nega suas palavras. O que elas falam não significa nada. Algumas sorriem e falam simpaticamente com um irmão na fé, mas por trás o atacam com maldade. Neste caso, tais pessoas têm uma palavra dupla. Isto é estranho, pois o testemunho de Pedro sobre Jesus é que “Ele não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” (1Pe 2.22). Jesus nunca mentiu, nunca contou uma inverdade nem deu sentido duplo às suas palavras. Ele sempre foi transparente. O que ele dizia ele fazia. O que pedia dos outros ele praticava: “Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15).
Continue a ler »O seguidor de Jesus, uma pessoa transparente
Que a vontade de Deus se cumpra! (desde que coincida com a nossa!)
“Seja a resposta boa, seja má, obedeceremos à voz do SENHOR nosso Deus, a quem te enviamos, para que tudo vá bem conosco, obedecendo à voz do SENHOR nosso Deus” e “Foram para a terra do Egito, em flagrante desobediência à voz do SENHOR, e chegaram a Tafnes” – Jeremias 42.6 e 43.6 – Almeida Século 21.
A liderança política de Judá procurou Jeremias e lhe pediu para consultar ao SENHOR. Deveriam ir para o Egito ou não? Estavam dispostos a obedecer, fosse a resposta boa ou não. Que atitude bonita! Vemos tanta gente assim, hoje, que quer saber a vontade de Deus para sua vida e se dispõe a cumpri-la, independente de qual seja. Isto é que é submissão!
Dez dias depois, a palavra do SENHOR veio a Jeremias, e ele chamou Joanã e os demais líderes da nação e lhes deu a resposta. Não deveriam ir para o Egito, e sim ficar em Jerusalém. A resposta fora dada e agora era a hora de cumprir a disposição de obedecer.
Foi uma indignação: “Então falaram Azarias, filho de Hosaías, e Joanã, filho de Careá, e todos os homens soberbos, dizendo a Jeremias: Tu dizes mentiras; o Senhor nosso Deus não te enviou a dizer: Não entreis no Egito para ali peregrinardes” (Jr 43.2). O povo foi para o Egito e arrastou Jeremias e seu secretário, Baruque, consigo. E a obediência tão pomposamente afirmada antes? Bem, Deus não confirmou a vontade do povo, e assim este se recusou a obedecer. Bem típico de muita gente, ainda hoje. Se a Bíblia confirma sua posição, cumpra-se. Se não corrobora sua posição, então busque-se alguma outra fonte. O que importa é que a vontade do homem se cumpra.
Continue a ler »Que a vontade de Deus se cumpra! (desde que coincida com a nossa!)
Não me adianta me queimar; se me queimar vem outro em meu lugar
“(…) O rei as cortava com uma faca de escrivão e as lançava no fogo braseiro, até que todo o livro foi queimado no fogo do braseiro (…) E enquanto Jeremias ditava, Baruque escreveu nele todas as palavras que Jeoaquim, rei de Judá, tinha queimado. E foram acrescentadas muitas outras palavras semelhantes” – Jr 36.23 e 32 (Almeida Século 21).
Raul Seixas, roqueiro baiano, compôs uma música chamada “A mosca na sopa”. Ela mescla e alterna os ritmos de rock e música baiana (que é sempre a mesma, embora mude anualmente o nome). Se me lembro bem, foi sua resposta à crítica que recebera de alguns cantores baianos que queriam que ele só cantasse música baiana e não o rock, “símbolo do imperialismo”. Ele se dizia a mosca que pousara na sopa de alguém, e, em certo trecho, diz: “Não adianta me dedetizar porque se me matar aí vem outra em meu lugar”. O patrulhamento ideológico dos “intelectuais” não impediria o estilo do rock de avançar, mesmo na Bahia. Foi isso que entendi, ao ler a questão. Aliás, os intelectuais e a esquerda libertadora são patrulheiros. A liberdade é sempre para si, nunca para os outros. Vide a liberdade de imprensa cubana e chavista.
Continue a ler »Não me adianta me queimar; se me queimar vem outro em meu lugar
Os dentes dos filhos não sentem dor pelo mau uso dos dentes dos pais
“Naqueles dias não dirão mais: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que embotaram? Pelo contrário, cada um morrerá por sua própria iniquidade; os dentes de todo aquele que comer uvas verdes é que se embotarão” – Jeremias 31.19-30 (Almeida Século 21)
Ávidos por novidades, buscando destaque e atenção pelo inusitado, pregadores criaram uma doutrina que o cristianismo, em dois mil anos, nunca suspeitou haver: maldição hereditária. Aliás, o que tem de gente reinventando o evangelho é terrível. Como a competição é grande, as idéias mais esdrúxulas aparecem. Com esta, a pessoa, mesmo convertida, carrega uma maldição proferida por alguém, e precisa de uma reza forte para quebrar a maldição. O sangue de Jesus perdeu o poder, ou só funciona quando manipulado por alguém…
Deus diz que haveria um tempo em que ninguém sofreria a ação dos antepassados. Se os pais chupassem uvas verdes, os dentes dos filhos não embotariam. Os dentes dos pais, sim. Os dos filhos, que não chuparam, não. Quando seria isto? Logo a seguir, após esta declaração, Deus anuncia a nova aliança (Jr 31.31-34), a que faria por meio de Jesus Cristo (Mt 26.28). Na nova aliança, a responsabilidade é pessoal. Pai não transfere culpa, filho não herda culpa.
Continue a ler »Os dentes dos filhos não sentem dor pelo mau uso dos dentes dos pais
Síndrome de Raquel
“Assim diz o SENHOR: Ouviu-se um clamor em Ramá, lamentação e choro amargo: É Raquel chorando por seus filhos; e não se deixa consolar, porque já não existem” – Jeremias 31.15 (Almeida Século 21).
Síndrome é um conjunto de sintomas que caracterizam uma doença, física ou psicológica. Usa-se, figuradamente, como sinônimo de características de uma situação ou momento. Dito isto, vamos ao texto. Raquel é Jerusalém. Jeremias vê a cidade como uma mulher chorando a morte dos filhos. Jerusalém chorando a morte de seus filhos e dos que iriam para o cativeiro. A cidade-mulher não quereria consolo. Os filhos não existiam mais.
É neste sentido que uso a palavra síndrome. Há pessoas que não querem consolo. Parecem sofrer de vitimismo. Já lidei com tantas ovelhas assim! Por mais que se mostre na Bíblia que Deus está no controle, por mais terno e amigo que se seja, por mais que se ore, a pessoa faz questão de cultivar sua dor. Quer ser vista como uma coitadinha, como uma sofredora. Quer piedade e não conforto. O sofrimento é uma necessidade para essas pessoas porque então todos ficam com peninha, não a censuram, não a criticam. A dor é uma proteção para elas.
Síndrome de Raquel é aquela atitude do crente que gosta de chorar miséria e alardear a necessidade de compaixão. É a atitude do crente que espera que todos se compadeçam dele. Crentes assim, além de evidentemente doentes, são um problema para o pastor. Alugam-no. São vampiros emocionais. Sugam toda a energia do pastor, sempre esperando atenção especial, mais que qualquer outro. Tive uma ovelha que era um vampiro emocional. Todos os dias eu devia lhe dedicar uma hora do meu tempo. Eu era o melhor pastor do mundo. Mas um dia precisei atender um irmão que perdera a esposa e logo depois perdera a mãe. Não pude dispensar atenção ao vampiro. Foi um deus-nos-acuda. Passei a ser o pior pastor do mundo. Aliás, muitos membros de igreja são assim. Quando o pastor se recusa a ser manipulado ou usado por elas, torna-se uma pessoa horrorosa.Continue a ler »Síndrome de Raquel